O que ela tem de pequenina no tamanho, tem de grande em simpatia e experiência – profissional, familiar e de vida. Nicette Bruno, atriz há 65 anos e prestes a completar 80 anos de vida, encontrou a fórmula perfeita para alcançar sucesso profissional e no casamento de 60 anos com Paulo Goulart, com quem tem três filhos: Beth, Bárbara e Paulo – todos atores -, além de netos e bisnetos. Exemplo de família feliz, Nicette conta nesta entrevista seus segredos para uma união duradoura e fala de sua mais nova personagem, a milionária Leonor, de Salve Jorge, que tem uma relação toda especial com a cachorrinha da raça maltês, Emily – conhecida do público, já que ela foi a Gabbana, pet de estimação da vilã Tereza Cristina (Christiane Torloni), em Fina Estampa, e também participou do seriado Macho Man, ambos em 2011.
AG — Você vive A Leonor, uma madame, em Salve Jorge. Quantas vezes você já viveu madames em novelas? Lembro também de Mulheres de Areia…
Nicette — Isso, a Leonor é uma madame poderosa. Em Mulheres de Areia era outro personagem, outro enfoque de vida, era uma perua. A Leonor é diferente, ela tem forte senso de humor, encara a vida de outro jeito, não dá tanta importância às dificuldades e tenta superar tudo. Dizem que as pessoas com capacidade de enxergar tudo ficam muito tristes ou muito felizes e ela prefere se divertir com as situações. O foco de interesse dela fica todo jogado em cima da cachorrinha, a Emily, porque na verdade a Leonor é muito solitária. As pessoas que a cercam sempre têm um interesse maior, com exceção do mordomo, que é confidente e amigo dela (Thompson, interpretado por Odilon Wagner). Mas o amor maior que ela tem é pela cachorrinha. Então ela se envolve nisso e as outras pessoas pensam que a enganam, mas ela é quem está enganando todo mundo.
A Leonor é milionária e ao mesmo tempo meio muquirana, mas também é cômica e se diverte com a ganância das pessoas à sua volta. Como você vê isso?
Nicette — Ela não é exatamente pão dura, ela é esperta, é diferente. Ela não quer que as pessoas se aproveitem dela. A casa dela tem de tudo, ela não se priva das coisas materiais, tanto que depois ela vai deixar toda a herança para a cachorrinha. Ela se diverte por esperteza e inteligência, porque ela sabe que eles estão querendo se aproveitar dela.
A Leonor é bem jovial e você também passa essa imagem. Você é assim na vida real?
Nicette — Ela é. A Leonor acha a modernidade fantástica e lamenta não ter vivido a vida dos jovens de hoje. Então ela se diverte, mas como não pode participar ativamente da vida deles, pelo menos ela compactua com essa jovialidade por meio do neto. Claro que eu procuro acompanhar a modernidade, mas sou mais equilibrada. Tem coisas que eu compactuo, outras não. Há alguns pontos parecidos entre eu e a Leonor, mas sou bem diferente dela.
A Leonor ama a cachorrinha, a Emily. Você tem cachorros? É verdade que você tinha medo de cachorros e que foi você quem escolheu a cachorrinha para a novela?
Nicette — Eu tinha medo de cachorro, assim como tenho medo de bandido, porque fui mordida por um cachorro quando era jovem e tive que levar 21 injeções na barriga. Há algum tempo fui assaltada por um pivete que devia ter uns 11 anos, parecia uma criança. Então eu morro de medo. Adoro cachorro, sempre tive quando era criança e em casa quando meus filhos eram pequenos, porque acho fundamental o contato das crianças com os animais. Agora eu ganhei o Juquinha, também da raça maltês. Ele é irmão da Emily. Ele nasceu recentemente, no dia 9 de novembro, mas só vou recebê-lo daqui a uns dois meses, quando ele já tiver desmamado. Eu e o Paulo (Goulart) já estamos curtindo a novidade. E fui eu que escolhi, sim, a cachorrinha para a novela. Tinham vários cachorros, mas com a Emily foi amor à primeira vista de uma pela outra. Ela já chegou abanando o rabinho e me entusiasmei com ela. A afinidade apareceu instantaneamente e a Glória (Perez) deu o aval.
Na hora de gravar, como a cachorrinha se comporta? Tem um adestrador junto com vocês no set?
Nicette — Ela chega e vem direto para mim, é maravilhoso. Chego ao estúdio antes e até quando estou fazendo a maquiagem ela ouve a minha voz e vem correndo, levanta as patinhas e fica me acompanhando. Aí dou biscoito para ela. É uma graça e um entrosamento maravilhoso. Já falei até para a mãe dela que depois que acabar a novela, para ela ir me visitar. O Bruno Leonardo, o adestrador, também fica no estúdio de gravações com a gente e ele vai continuar comigo quando o Juquinha chegar também, para me ensinar a conviver com ele, para ele poder ser feliz. A Emily não late, a não ser quando damos a voz de comando. Ela é muito boazinha. Meus filhos também adoram animais. A Beth tem quatro cachorros e a Bárbara tem três. O Paulinho tinha gato, mas agora não sei. Meu neto também tem gato, a gente gosta de bichinhos.
Qual você acha que será o desfecho da Leonor?
Nicette — Não sei. Novela é uma obra aberta, nunca se sabe. A gente vai tomando conhecimento no decorrer da trama. Na sinopse tem mais características da personalidade dos personagens.
Como foi fazer A Vida da Gente, uma novela dramática e ao mesmo tempo de muita delicadeza?
Nicette — Foi um momento muito agradável e gostoso da minha vida profissional. Eu também gostava muito do segmento, era um ambiente ótimo, onde todos nós ficamos muito amigos. Cada novela que a gente faz é um novo ciclo de amigos que se forma. Às vezes a gente se reencontra com alguns. Depois que termina o trabalho, cada um tem seus segmentos, mas havendo possibilidade a gente se encontra, já que nossas vidas são incertas, cada hora estamos em um lugar diferente.
Tem algum personagem que marcou mais sua vida?
Nicette — Em tevê é difícil de escolher um, é o mesmo que dizer de qual filho você gosta mais. Todos marcam e você empresta muito de si mesmo ao personagem. Mas tem alguns que dão uma resposta imediata. Algumas novelas, como Éramos Seis (TV Tupi, 1977, no papel de Lola), por exemplo, jamais vou esquecer. Rainha da Sucata também e em Mulheres de Areia foi muito gostoso fazer a personagem (Julieta Sampaio). Novelas da extinta TV Excelsior, como A Muralha (1968) e Sangue do Meu Sangue (1969) também foram muito importantes. Cada novela deixa sua marca, temos armazenado um manancial de personagens e, às vezes, você pinça alguns para poder emprestar a um personagem novo.
Qual é o segredo para um casamento tão duradouro e feliz com o Paulo Goulart, com quem construiu uma família tão bonita?
Nicette — Não sei. Posso te dizer apenas que são 60 anos de conhecimento. Namoramos por um ano e noivamos também por um ano. E depois a gente não percebeu o tempo passar, o que significa que isso foi muito bom. Aprendemos juntos a viver, existe uma cumplicidade grande entre nós e respeito à individualidade um do outro, que acho fundamental. A nossa profissão também ajuda muito nesse sentido, porque nos obriga a fazermos constantes autoanálises, de sabermos onde acertamos e onde erramos. E tudo isso a dois. É agradável, bom, e os frutos que esse encontro produziu é a maior bênção que recebemos, por meio dos nossos filhos, netos e bisnetos.
Já tem planos profissionais para depois da novela?
Nicette — Tenho um projeto com a Beth (Goulart). Ela fez uma adaptação de um texto da Lya Luft para o teatro. Não sei ainda se vai ser em São Paulo ou no Rio. Geralmente as produções que faço com o Paulo (Goulart) nascem aqui em São Paulo, mas como é da Beth e ela mora no Rio, então não sabemos. Tem que fazer captação de recursos, essas coisas todas que quem faz teatro tem que exercitar. As dificuldades às vezes são grandes, mas a satisfação é maior.
O Paulo está fazendo um tratamento contra um câncer (na região do pulmão) e parece que ele está melhor. Como é lidar com isso?
Nicette — Ele está bem melhor, sim, graças a Deus. A gente tem que ter paciência, mas ele teve médicos maravilhosos e reagiu muito bem ao tratamento, está em plena recuperação. Porém é preciso ter paciência para a recuperação completa.