Após procurar investidores por 15 anos o francês Guy Negre conseguiu o apoio da indiana Tata para seu invento. A produção dos carros movidos a ar comprimido criados por ele deve começar este ano. Em comunicado, a Tata informou que investirá US$ 29 milhões (cerca de R$ 51 milhões) na MDI, a empresa de Negre. Estima-se que o veículo a ar terá preço entre US$ 3.500 e US$ 4.000 (R$ 9.100 a R$ 10.400).
Feito de alumínio, o motor do carrinho é semelhante a um convencional, mas com a metade do peso. Tem quatro cilindros em configuração boxer, com 800 cm3 de cilindrada. Os pistões são movidos pela injeção de ar comprimido em vez das explosões da mistura ar-combustível, como num motor a gasolina, por exemplo. Há válvulas de admissão, por onde entra o ar, e de escape, para a saída. Porém, como não há combustível – nem queima – pelo escapamento sai apenas ar. Mas é necessário óleo para a lubrificação dos componentes. O câmbio é automático, controlado por computador.
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Os tanques de ar comprimido ficam sob o assoalho do veículo e são revestidos por fibra de carbono, pois se fossem de metal poderiam explodir em caso de acidente. A fibra apenas se rompe, como uma colméia. A pressão nos tanques é de 300 bars – em comparação, um tanque para GNV suporta até 200 bars. E um motor elétrico garante que a pressão se mantenha alta e não caia com a diminuição do nível do reservatório.
O chassi do veículo a ar é feito de alumínio, o que colabora para seu baixo peso. Segundo Negre, os protótipos pesam apenas 330 kg (um Fiat Mille pesa 810 kg) e atingem até 110 km/h. A autonomia, entretanto, é limitada a 200 km. Recarregar os tanques em um posto de alta pressão leva perto de 3 minutos. Com o compressor elétrico interno, o tempo sobe para quatro horas.
Dificuldades
“O principal problema desses carros é armazenar energia”, diz Roy Nagel, engenheiro mecânico que trabalhou por 40 anos na GM nos EUA. “Pode-se aumentar o volume dos tanques, a pressão com que o ar é armazenado ou ambos. Mas há limites para isso, principalmente no tocante à segurança”, alerta o especialista, que foi responsável por todos os testes de segurança dos produtos da empresa norte-americana até 2002.
O engenheiro afirma que a possibilidade de vermos esses carros nas ruas é remota. “A não ser que haja alguma grande revolução tecnológica, o que ainda não tem previsão”, diz Nagel.
Projeto de motor rotativo
O engenheiro francês Guy Negre, que já trabalhou na Fórmula 1, não foi o único a criar um motor movido a ar. O italiano Angelo Di Pietro também tem um projeto próprio. Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da empresa australiana Enginair, Di Pietro criou um conceito diferente. Baseia-se em um pistão rotativo, controlado pelo fluxo de ar comprimido dentro da câmara. Quanto maior esse fluxo, maior será o torque. É, entre outras características, mais silencioso do que a invenção do francês.
E o italiano vislumbrou uma aplicação também diferente para seu motor: carrinhos industriais.Com motores normalmente movidos a gasolina ou a gás, esses veículos emitem poluentes e podem ser um problema em ambientes fechados. Já se rodarem com ar comprimido, a emissão será nenhuma. E há outra vantagem: o motor criado por Di Pietro pesa apenas 13 kg. E ele já trabalha em outro ainda mais leve, de 6 kg.
Segundo o norte-americano Roy Nagel, esses veículos seriam úteis em finalidades específicas. “Numa mina subterrânea, por exemplo, para transportar homens ou minério com o mínimo de emissões.”