São muitas no âmbito escolar as discussões teóricas acerca das características pedagógicas dos artefatos midiáticos que colaboram para com os modos de compreender o mundo, a sociedade, a nós próprios e ao Outro. A lógica contemporânea da vida está atrelada ao consumo, aparentemente somos se (e quando) consumimos, como se esta prática organizasse ações, subjetividades e até os nossos corpos. O consumo é considerado produtor dos modos de ser, agir e estar na comunidade, como se fossemos quem parecemos ser com o raio de ação delimitado pelo poder de compra.
Tais práticas estão vinculadas à compreensão do que está disponível para se consumir e aos valores que esses produtos oferecem aos usuários. Nosso mundo cultural oferece elementos que precisam ser criticados e analisados, entretanto o próprio conhecimento faz parte dos sentidos atribuídos ao mundo, pois mesmo o saber acadêmico se molda, com “[…] a inovação e a competitividade, ambas tomadas do mundo da mercadoria […], o conhecimento produzido se colocou a serviço de políticas educativas estatais e paraestatais cada vez mais globalizadas”.
Com isso, as mídias propagam conteúdos que alteram a própria forma de viver, e são, por si mesmas, uma forma educativa da qual não se pode fugir, mas que é preciso compreender melhor para analisar seu impacto.
Mídias tem o poder de alterar as nossas formas de leitura e atribuição de significados às experiências diárias, constituem uma educação que é produto do meio e do que ocorre aqui e agora, em tudo diferente do saber do passado que uma escola pretende transmitir.
É na escola que o conhecimento acumulado pelas várias gerações anteriores garante a soma das sabedorias que nos preparam para não reproduzir velhos erros, para aproveitar aquilo que sábios já disseram e fizeram, conhecer e ampliar aquilo que a técnica e a ciência já estabeleceram.
No entanto, é o mundo atual presente nos meios de comunicação, por meio de suas representações, que estabelece sentidos acerca dos modos de ser, compreensão do momento e de nossos corpos, que instiga e ensina, mas também pode nos condicionar a estereótipos. As imagens presentes nas inúmeras telas nos tornam consumíveis e interferem na subjetividade e modos de agir, definem a “moda” com seus melhores e piores aspectos. Definem nossa cultura e comportamentos
Pensar e questionar mídias e processos pedagógicos culturais é ação crítica que acompanha o que aprendemos, compreender a relação entre política, mídias e educação.
Empatia e imaginação podem ser estimulados ou cancelados pelas mensagens a que estamos expostos, impedindo ou realçando a interação com os demais, distinguir o concreto do irreal. Ética e estética são aprendidas também pelas figuras que assistimos serem incensadas ou desprezadas pelas redes sociais.
O planeta vive um momento especial de pandemia, a primeira tão amplamente noticiada, e enquanto as sociedades ocidentais centrais vivem transformações culturais e sociais de grande importância, com avanço técnico e científico, as mais periféricas tentam sobreviver a um grande impacto econômico e sanitário sem a contrapartida do desenvolvimento tecnológico, o que assusta e levanta questões inéditas em todas as esferas comunitárias.
Num momento em que conflitos se aprofundam e resvalam num abismo de divergências, gerando incompreensões maiores que nas gerações precedentes, jovens e adultos misturam ficção e realidade, super-heróis e personalidades políticas, catástrofes reais com violência fictícia.
Enquanto as fake news modificam nossa visão do papel das redes sociais como veículos de aprendizagem, levando a novos modos de perceber e de interagir, as crianças e adolescentes em fase de amadurecimento nas relações com plataformas novas e antigas, assim como com a família e escola, necessitam boa intermediação da mídia.
Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.