Virginia Benevenuto

Exagerado, agressivo e ácido são três atributos que podem descrever o espetáculo Prego na Testa, com o parlapatônico Hugo Possolo em Prego na Testa, apresentado dia 29 de março no Sesc da Esquina, durante o Festival de Teatro de Curitiba.

Ao interpretar diretamente sete histórias, o artista lança mão de muita desenvoltura para cutucar o público, em momentos de identificação e repulsa da plateia. Possolo não perdoa os nossos mais escondidos pequenos pecados, ao lançar a sua metralhadora crítica sobre os costumes de uma classe média alta abastada, sem senso algum de reciprocidade e compaixão.

O espetáculo, apesar de maduro, porque é encenado pelo artista desde 2005, traz um frescor de contemporaneidade, com memórias sobre aqueles que em geral estão esquecidos, e aqui estamos falando dos mendigos, se comportando como algozes em um mundo que faz questão de ignorá-los.

Há de ser elogiada a destreza com que os figurinos são trocados, tudo sob os olhos do público, como se não houvesse qualquer obstáculo do artista em deslizar de uma persona para outra, mostrando um domínio de técnica impecável até mesmo para quem em cena toma uma cerveja.

E o que dizer dos personagens escolhidos? Desviados, todos portadores de identidades ora doentias, ora demasiadas humanas e, acima de tudo, portadores de suas verdades em diálogo com a realidade de um plateia protegida pelo anonimato das grandes cidades.

As taras, sejam por corpos ou objetos como uma churrasqueira, podem chocar um público mais afeito a um mundo cor de rosa, em que a política praticada nos gabinetes não importa. Fato é que os governos importam e Possolo, sabedor disso, não perdoa os colegas da classe artística: Regina Duarte, Mario Frias, artistas ex-Malhação que estão no BBB, enfim, aqueles privilegiados, em relação a Possolo, pela visibilidade pública e mimados por carisma fajuto de quem acredita que a cultura de um país não importa.

Em suma, um texto de Eric Bogosian dirigido de forma bastante crucial por Aimar Labaki, com uma atuação de mestre de Hugo Possolo, em que vale a pena tomar cada prego na testa.

 

Serviço:

Informações em https://festivaldecuritiba.com.br/evento/prego-na-testa/