Lina Sumizono

Chegamos! O Festival de Teatro de Curitiba completa 30 anos e estamos muito felizes em poder compartilhar uma visão sobre os espetáculos a que pudermos assistir.

Fique aqui com o olhar de Josi Quevedo, jornalista que escreve sobre cultura desde o início dos anos 2000. Atualmente, trabalha com assessoria de imprensa na Agência de Comunicação Smartcom. É também pesquisadora, doutora pela UFPR em Políticas Públicas e mestre em Comunicação e Informação pela UFRGS.

Contato: [email protected]

Não há outra saída a não ser começar falando de Gerald Thomas, 67 anos, nesta retomada do 30º Festival de Teatro em Curitiba. Na primeira rodada de apresentações, em 29 de março de 2022, após dois anos de ausência do festival por causa da pandemia, a noite foi especial. O coronavírus afetou frontalmente o diretor de teatro brasileiro, que ficou à míngua e à beira da falência no período. Dar vivas ao teatro, portanto, é mais do que obrigação, é agradecimento – numa interlocução possível do que há de mais becketiano entre Brasil e Nova York.

E o polêmico dramaturgo estava lá no Guairinha, em Curitiba, em um texto caótico e, ao mesmo tempo contraditoriamente, coerente com a realidade, encenado pela inebriante Fabiana Gugli que, em pouco mais de 45 minutos, arrebatou a plateia. É claro que o monólogo tinha muito do diretor porque, inclusive, Gala se apresenta hora como homem e hora como mulher em uma proposição que somente o teatro permite captar e transmitir de forma tão crua e próxima à plateia. Fato é que Thomas permanece contemporâneo e se, por acaso, lança mão de uma estética batida, seu texto acorda e acena para a realidade com pitadas de um reconhecido sarcasmo e ironia, sem perder o bom humor. Up-to-date, na sua mais nova obra sobraram referências à Guerra na Ucrânia, tapa na cara durante o Oscar, críticas ao estado das coisas e como chegamos a esse ponto político no Brasil… Para completar, a Gala de Dalí era russa!

Tudo isso liquidificado sinteticamente na musa inspiradora à beira de um naufrágio, num espaço cenográfico com design de som digno das melhores trilhas sonoras – da música clássica ao ali configurado pop dos Rolling Stones. Foram momentos sinérgicos e arrebatadores de luzes com a assinatura de Thomas, que referencia a residência do artístico casal das artes – Dalí e Gala – em Porto Lligat na Catalunha, Espanha. O barco, a lua, o mar formaram um só ícone que resplandeceu o palco numa encenação amoral e encantadora.

A beleza e a entrega da atriz são dignas das grandes musas pelas quais Gerald Thomas nutre afeição. Ela apresenta um brinde aos olhos, começando tudo com um rodopiar frenético, num clique totalmente pomba gira high tech. Penachos coloridos dão vida a um figurino brilhante preto, cuidadosamente escolhido pela própria atriz.

Segurar um texto caótico não é tarefa fácil, porém Fabiana o faz com maestria, até o ápice em que tira a parte de cima do vestido e mostra os seios com os mamilos cobertos por uma fita adesiva preta em formato de cruz. É a arte em seu estado puro, mostrando a vulnerabilidade da mulher e expondo o seu melhor em tom provocativo para uma plateia que sorri com seus devaneios. Em suma, a peça é imperdível para os amantes do teatro e para a conquista de neófitos. Gerald e Fabiana formaram uma dupla imbatível na proposta que trazem ao público.

 

Serviço:

G.A.L.A

29 e 30 de março à 21h

No Guairinha, em Curitiba