Enquanto as grandes potências do ocidente patinam em meio às crises do capitalismo que se repetem assustadoramente, saindo quase que do nada o continente africano luta para tornar-se a nova pérola da coroa e, à exceção óbvia da China, tem hoje a economia que mais cresce em todo o mundo. Tudo lá ainda é frágil, há problemas persistentes em toda parte, os paradoxos e os padrões de desigualdade por vezes parecem impossíveis de solucionar no curto ou no médio prazo, mas é sem dúvida impressionante a velocidade com que novas realidades se impõem. A África, hoje com um bilhão de habitantes, chegará a dois bilhões em 2050 (60% viverão nas cidades): um mercado interno que ao invés de se transformar numa multidão de famintos poderá gerar riquezas inesperadas. Análises do Banco Mundial, destacadas em artigo de Semana.com (Bogotá), indicam que o fenômeno de crescimento acelerado, que há algumas décadas caracteriza a China e a Índia, pode estar se repetindo na África. Potencial existe: o continente é o primeiro ou o segundo maior produtor mundial de cobalto, bauxita, diamante, rochas de fosfato, platina, do isolante vermiculita, zircônio, afora posições de grande destaque em relação ao ouro, petróleo, carvão, urânio, cromo, aço, alumínio. Do total de 53 nações, pelo menos 19 são produtoras de petróleo com grande destaque para Nigéria, Argélia, Angola, Líbia, Egito e Sudão. Ao norte, o PIB da região subsaariana, só superado pelo da China, foi o que mais cresceu em 2011, ultrapassando os 10% em Gana e Ruanda e ficando acima dos 7% em outros oito países.O movimento de expansão econômica tem duas faces: por um lado, a abundância de matérias-primas ligada a investimentos crescentes em infraestrutura, sistemas de comunicação, construção civil; por outro lado, o apoio chinês. A promessa do presidente Hu Jintao, feita em 2006, de aplicar US$ 100 bilhões na África até 2010 foi integralmente cumprida. O mesmo aconteceu com os US$ 10 bilhões em créditos preferenciais liberados pelo premier HU Jintao para os três anos seguintes em apoio às metas africanas de cumprir com os objetivos do milênio. Hoje a China importa petróleo de dezessete países africanos, viabilizando-os financeiramente e esta é uma fonte que não secará tão cedo: até 2030 as compras de Pequim multiplicar-se-ão por quatro. Há uma intensa discussão sobre as vantagens reais desta relação. A China constrói estradas, hospitais, escolas, faz obras de infraestrutura em troca dos minerais, da madeira e do petróleo do solo africano. Diz que sua política é um ganha-ganha para todos, mas crescem as reações contra o fornecimento de recursos e de armas a regimes claramente repressivos, a agressão ao meio ambiente e o uso intensivo de mão-de-obra chinesa (mal paga) com desrespeito aos direitos trabalhistas e em prejuízo de trabalhadores locais. A sustentação a governos corruptos e ditatoriais pode criar problemas à medida em que a cooperação dos mandarins for a eles associada por movimentos de libertação, repetindo o processo de rejeição à colonização ocidental. A paz segue sendo uma utopia. Segundo o site Wars in the world, atualmente 96 milícias, exércitos populares e grupos separatistas atuam em 24 países, com um recorde na República Democrática do Congo onde há doze bandos armados. Em 9 de julho o mais novo país do mundo, o Sudão do Sul, comemorou seu primeiro aniversário defendendo-se de ataques permanentes a seus campos de petróleo pelo Sudão (onde prossegue o genocídio de Darfur) de Omar al Bashir. Às vésperas do 2º turno, caiu o regime da Guiné Bissau em abril último e no Mali o golpe de estado patrocinado pelos rebeldes de Amadou Sanogo derrubou o regime constitucional de Amadou Touré, matando numa noite a 50 milicianos da guarda presidencial.. A situação mais crítica é a do Sahel (costa), em pleno Chifre da África ocidental, onde os piratas ligados à Al Qaeda de al-Shabab  continuam agindo nas costas somalis. Um dos 33 ataques perpetrados em abril e maio deste ano saqueou o gigantesco petroleiro holandês BW Rhine, mas pior do que os bandidos é a terrível seca que já dura três anos e a cada semana faz com que o Programa de Alimentos da ONU acrescente novas regiões (agora na Somália e no Quênia) às dezenas de milhares de vítimas de fome intensa que ainda sobrevivem. A democracia acenada pela primavera árabe avança lentamente na Tunísia, na Líbia e no Egito, onde um arremedo de eleições não esconde a ditadura militar.Nos países do petróleo, jorra dinheiro. Luanda, hoje a cidade mais cara do mundo para estrangeiros, vê a cada dia surgirem novas avenidas de seis pistas de cada lado para Porsches e BMWs circularem em alta velocidade. Mas, arranha-céus, casas noturnas e shoppings cada vez mais luxuosos conseguirão tirar nove de cada dez angolanos das sub-habitações e das favelas da capital?               
 
Vitor Gomes Pinto

Escritor e Analista Internacional