Sobre nossos técnicos

Napoleão de Almeida | Twitter: @napoalmeida

A torcida coxa-branca está agoniada. Ninguém esconde ou renega o carinho por Pachequinho, mas o desempenho recente, excetuado o resultado – e só o resultado – no Atletiba, faz com que haja uma grita geral por o nome de um técnico para o Coritiba. Vamos cair no debate de sempre: quem poderia fazer o Coxa render mais do que está rendendo estando dentro do bolso do clube? Os técnicos brasileiros cobram mais do que entregam, com raras exceções. Tite é uma delas, está na Seleção. Mano Menezes está acima das condições do clube. Autuori está bem no Atlético, tem currículo, como Abel e Levir, todos fora de alcance. Felipão, Luxa e Muricy, fora de combate. Restam os de sempre: Enderson, Drubscky, Claudinei. Sabemos que cobrarão bem e não farão muito além do que faz Pachequinho. O Coxa então, deve se acomodar? Não, a hora é de cobrar a gestão do futebol para ser ativa e criativa.

Pensando além
Citei Autuori por estar no Atlético e na vizinhança, mas não é apenas ele quem conduz o sucesso do time no Brasileirão. É toda uma estrutura e condição de trabalho. Assim como no bom Londrina de Cláudio Tencatti, o Furacão oferece mais a Autuori, que pode ser apenas técnico. Pachequinho, no Coritiba, é ídolo, bombeiro, amigo e treinador – esta função, ainda além da capacidade desenvolvida. O Coxa tinha alternativas. Caio Júnior foi para a Chapecoense depois de um ou dois telefonemas dizendo que queria ficar em Curitiba. Foi substituir o ótimo Guto Ferreira, que assumiu o gigante Bahia na Série B por R$ 450 mil. Muito dinheiro. Se o problema é grana, é preciso ter pelo menos um plano de vôo. É preciso dar estrutura a Pachequinho, manter os salários em dia, equipar o clube com análises e inteligência – um dos segredos do Atlético. Se tudo isso estiver em dia, aí é possível pensar numa peça diferente e dar tempo a ela. Por que não o surpreendente uruguaio Roble Espinel, que levou o modesto Plaza Colônia ao vice nacional? Foi para o Santiago Wanderers, do Chile. Custa menos que os brasileiros. É uma aposta de mudança real, longe do ciclo viciado de nomes no Brasil.

O peso da marca
Voltando a Autuori e ao acerto do Atlético com ele: durante anos, o Furacão foi um ótimo carro dirigido por motoristas novatos. Toda a estrutura rubro-negra ficava a serviço de gente sem a capacitação necessária. Paulo Autuori é rodado. Seu currículo é melhor do que o do próprio clube – e dos rivais – com duas Libertadores. Auxiliado pela estrutura, a máquina anda na mão de quem sabe guiar. Deu pra sentir o respeito após a vitória atleticana sobre o Cruzeiro no Mineirão. Qual, dos últimos técnicos que passaram pelo futebol local, poderia estabelecer um diálogo em alto nível com Galvão Bueno, debatendo pontos-chave do futebol brasileiro em rede nacional? Qual demonstraria esse nível de conhecimento e liderança? Raros. Autuori é o exemplo de que vale sim se investir num bom técnico, principalmente se o projeto do clube não depender exclusivamente dele.

Futebol é coletivo
E isso precisa ser compreendido. É coletivo do artilheiro ao motorista do ônibus. Do gerente de futebol ao gerente de RH. Com peças bem encaixadas, é possível buscar resultados. O que não significa que o Coritiba deva se omitir em buscar um novo nome. Apenas deve viver sua realidade. Foi coletivamente que, fora as polêmicas, venceu o último Atletiba. É no coletivo já subconsciente que o Atlético está no topo da tabela, com mais que 11 titulares. Foi no coletivo que um aguerrido Chile desbancou a Argentina e que Portugal superou a perda de Cristiano Ronaldo e bateu a França nas finais das Copas continentais. Enquanto personalizarmos discussões, seja no futebol, seja na política, o Brasil não sairá da inércia de gestão que vive em quase todas as áreas. Menos personagens, mais trabalho conjunto.

Napoleão de Almeida é narrador esportivo e jornalista especializado em gestão