Freios também não funcionaram

Caixas-pretas mostram que equipamentos automáticos não foram acionados

Felipe Linhares - Agência Brasil

Brasília – Ao analisar a transcrição das caixas-pretas do Airbus da TAM, divulgada ontem (1º), o assessor de Segurança de Vôo do Sindicato dos Aeronautas, comandante Célio Eugênio de Abreu Jr., disse ter observado que, além do spoiler, os freios automáticos do avião também não funcionaram.

Segundo ele, se os dois equipamentos estivessem em operação, a aeronave não teria chegado ao final da pista de Congonhas a uma velocidade de 175 quilômetros por hora.

“Os freios automáticos ficam nas rodas. Quando o avião toca o solo, o amortecedor é comprimido e a roda gira em torno de seu próprio eixo – algo que leva milésimos de segundos. Com isso, os freios são acionados, o que ajuda a diminuir a velocidade”, explicou.

Para o comandante, a falha nos equipamentos pode ter sido causada por erro humano, material, operacional ou pelo conjunto desses fatores. Ele lembrou que somente as investigações podem dizer o que realmente houve. E acrescentou que as especulações sobre as possíveis causas do acidente atrapalham os trabalhos.

“As investigações do Cenipa [Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes] ainda não começaram e já existem várias hipóteses. Pessoas que não são do ramo, como a polícia e os parlamentares, não podem divulgar sistematicamente esse tipo de informação sem que os especialistas em segurança de vôo terminem o trabalho”, disse, em entrevista hoje (2) ao programa Notícias da Manhã, da Rádio Nacional.

A assessoria de imprensa do Cenipa informou que as investigações técnicas estão na fase de coleta de dados, seguindo para a parte de análise. Os trabalhos estão divididos em três grupos. Fator humano, que analisa a ação dos pilotos; fator material, focado nos equipamentos; e fator operacional, que faz a relação entre os outros dois fatores.

Para Abreu Jr., a sobrecarga de pousos e decolagens em Congonhas reflete um problema de administração do aeroporto. “A gestão da aviação civil somada à gestão da prefeitura de São Paulo – que permitiu que Congonhas fosse tomado por construções ao seu redor – deixou o aeroporto desse jeito”.