A arte divertida e séria de Simone Koubik

por Nilza Procopiak - nikp@uol.com.br

 “Os desenhos fizeram parte da minha infância. Em meados de 80, iniciei
as séries dos bichos que foram inspiradas em cenas do cotidiano.
Procuro através dos personagens que crio enfatizar questões ligadas ao
comportamento social, a fim de valorizar a fugacidade das cenas.” Quem
assim declara é a artista plástica Simone Koubik, formada pela Escola
de Música e Belas Artes do Paraná no Curso Superior de Pintura e
atualmente cursando a Pós-Graduação em História da Arte Moderna e
Contemporânea.

Artista premiada em 14 salões de arte oficial do calendário nacional,
com participação em mais de 50 salões de arte, Simone já realizou três
exposições individuais sobre os temas que ela tanto gosta: “Bichos
Urbanos” no Museu da Gravura Cidade de Curitiba, em 2002 e “Gatos,
Esculturas” na Casa João Turin, em 2000.

Catalogada no “Dicionário de Artistas Plásticos Paranaenses”, de
Adalice Araújo, ela possui obras em acervos de dez instituições
artísticas. Segundo Adalice, “Simone Koubik serve-se de um tipo de
linguagem narrativa fundamentada na mass média – mais especificamente
nas histórias em quadrinhos e nas imagens televisivas – já utilizada
nos anos 60 por artistas da Pop Art como Lichetentein e, na década de
80 por Combas e Basquiat da Fun Art. Todavia o que caracteriza a fase
Bichos Urbanos de Koubik é a dialética motonímica que se serve para
traçar uma eloqüente e irônica charge psicológica e social, traduzida à
nível de arte.”

O interessante é que a artista partiu do amor aos animais para sua
imersão na arte, como ela mesma explica: “Talvez o quintal da casa
tenha sido relevante para o início da minha ligação com os bichos.
Passei parte da infância convivendo com uma pequena criação de aves,
que ciscavam livremente seguidas pelos pintinhos. Isso além da
convivência com outros animais, como o cachorro Amigo e minha galinha
de estimação a Tudinha, que são personagens que ainda estão vivos em
minha memória.”
A artista lembra que, apesar de seus irmãos, ela brincava sozinha,
gostava de ficar sentada sob o pé de laranja-lima, que era o seu
“cantinho”, onde produzia “bonecos e bichos” espetados com palitos com
as frutas caídas.

Simone relata que foi “nesse contexto lúdico da minha infância, que
aprendi a observar os pequenos detalhes e acontecimentos que cercavam a
convivência com os animais domésticos, sobretudo pelo tipo de
comportamento desses animais, como um estereótipo da conduta humana,
identificados como personagens individualizados atuando no universo do
quintal.”

Ela relembra do cão Amigo que representava o tipo traiçoeiro – mesmo
preso a uma corrente. Ela conta que ele ficava dentro da sua casa,
deitado com o focinho apoiado sobre as patas dianteiras, à espera dos
pintinhos para os engolir.

Na narrativa que Simone faz, ela descreve mais pormenores desta questão
territorial no quintal da casa, semelhante a qualquer disputa
territorial ou delimitação de fronteiras entre nós, os humanos.

“—O galo e o peru disputavam o domínio do galinheiro. As galinhas e as
peruas cuidavam das crias, e de certa forma nada podiam fazer para
conter os abusos do cão, quando este comia a suas crias.”

Simone é consciente de sua linguagem artística e do processo de criação
na arte que elabora. Assim, em seus desenhos que perfazem uma ligação
direta entre os homens e os animais, a artista cria seus personagens,
com traços que captam características humanas, comportamentos animais e
outras maneiras não tão humanas, penetrando no vago e indeterminado
território que nos separa – em nosso entender – dos nossos bichos. 

Por uma via crítica regida também pela observação – Simone é uma
excelente desenhista – a artista preenche seu universo com formas que
nos levam não somente a usufruir seu talento descritivo, como também a
pensar e extrair de suas obras algo mais do que a simples visualização.

Simone também trabalha com a técnica Barrogravura, que são experiências
artísticas com gravura, pintura e escultura, tendo o barro como matriz
principal. Este processo foi desenvolvido no início dos anos 90, como
laboratório de experimentação artística pessoal, quando ela utilizava
papel o qual, a partir de 1998, foi substituído por tecido em suas
Barrogravuras.