A partir de 3 de setembro, a exposição “Poética da Percepção – questões da fenomenologia na arte brasileira” estará acessível ao público no Museu Oscar Niemeyer (R. Marechal Hermes, 999 fone 41 3350-4400. www.museuoscarniemeyer.org.br ). Ingressos de R$2,00 a R$4,00, além das exceções sempre adotadas pela instituição.

  Com obras de 35 dos mais renomados artistas do país, sendo Eliane Prolik a única paranaense a integrar a mostra, a exposição foi concebida muito apropriadamente por Paulo Herkenhoff, cuja sensibilidade extrapola o universo das artes e incorpora, além da filosofia, história, ciência e tantos outros dos seus conhecimentos, um sentido poético de existência. Assim, “weltanschauung” –  uma concepção do mundo, ou entendimento, ou filosofia de vida, foi incorporada à esta curadoria que escapa do trabalho usual de um curador devido às suas especificidades.

Poder-se ia dizer então, que esta é uma mostra diferente dirigida aos portadores de necessidades especiais. Entretanto, como diz o próprio Paulo Herkenhoff, a arte contemporânea se adiantou aos parâmetros que antes regulavam as artes plásticas.
Ou melhor dizendo, muito do que hoje é apresentado nas salas de exposições pertence, cada vez mais, ao território da inovação, do insólito, da invenção, somente alcançado a partir de uma certa transgressão de limites. Transgressão esta que acontece via a exploração dos domínios antes exclusivos de uma arte definida, ou de uma técnica específica ou de uma tecnologia digital, ou até de uma determinada ciência como a astronomia, por exemplo.

Tendo em vista um único caso – somente o observatório Hubble – é espantoso o número de visualizações diferentes que este telescópio espacial nos vem propiciando. Se, para a astronomia, ele representa um dos maiores avanços para o estudo de astros e estrelas, para os artistas visuais, ele é uma fonte inesgotável de formas, cores e luzes! Ele ampliou um campo que, na verdade, já tinha sido criado por Kandinsky, no início do século passado: a arte abstrata.

  Voltando à mostra e em conseqüência, pode-se afirmar que na arte contemporânea é plenamente discernível uma questão de grau. O mesmo acontece na exposição: através de sua sensibilidade, o curador selecionou obras que têm determinados aspectos levemente exacerbados que vêm facilitar aos portadores de necessidades especiais o reconhecimento de formas, cores e até do paladar, como na obra de Eliane Prolik.  
Mas isso não significa que o público em geral, como também os fruidores da arte, não possam desfrutar das obras apresentadas. Ao contrário, ao destacar conteúdos que extrapolam, ou melhor, enfatizam a seleção estético-artística que normalmente reúne as obras de arte, Herkenhoff nos proporciona o melhor dos momentos.

Segundo Herkenhoff: “A tradição pensou a arte como exclusivo fenômeno do olhar. Na literatura clássica, em De Rerum Natura (Sobre a Natureza das Coisas), Lucrécio dizia que ver era alcançar as praias da luz. No Iluminismo, o ensaio O Elogio da Cegueira de Diderot celebrava o olhar cognitivo. São verdades hoje relativas. A arte contemporânea pode tomar a cegueira como potencial de conhecimento e percepção, fazendo da arte uma experiência que busca expandir seu campo sensorial e incorporar todos os públicos.

Apontando um dos mais significativos movimentos da arte brasileira, o curador continua: “O neoconcretismo reivindicou uma posição própria sobre o fenômeno da percepção ao assumir, com Ferreira Gullar e a fenomenologia de Merleau-Ponty, que ‘nenhuma experiência humana se limita a um dos cinco sentidos’, já que ‘os  sentidos se decifram uns aos outros.’ Foi este pressuposto que orientou a exposição Poéticas da Percepção: entre as filigranas da visão plena e limitada, ela convoca os cinco sentidos – visão, audição, tato, olfato e paladar – como mútua forma de conhecimento a que as artes plásticas podem se endereçar. Na arte contemporânea, as propostas sensoriais questionam os parâmetros da percepção e o funcionamento lógico das coisa, isto é, do próprio mundo.”