Luiz Carlos Brugnera prescindiu do aprendizado. Autodidata,
independente e criando uma arte que lhe é inata, bastou a ele
autodeterminação e esforço próprio.
Nascido em Espumoso, RS, em 1966, dedicou a primeira parte de sua
vida ao esporte, jogando futebol profissionalmente. Mas, como o talento
não permanece escondido muito tempo, a vocação para as artes plásticas
logo se fez sentir.
Valendo-se do Circuito Oficial dos Salões de Arte, que movimentava o
Paraná através da realização destes eventos nas suas principais
cidades, o artista experimentou mandar seus trabalhos para um deles.
Foi aceito e premiado e, de lá para cá, ele não parou mais.

Comprovando: somente neste circuito, o artista participou de 17 salões
oficiais obtendo premiações em todos eles. Além disto, seu currículo o
levou a ser premiado no 4º Salão de Arte Cidade de Itajaí SC; 8º Salão
de Joinville; Arte em Selo – Bienal de São Paulo em 98; V e VI Salão
MAM da Bahia; 26º Salão Nacional de Belo Horizonte com Prêmio Aquisição
e Prêmio Exposição Individual, em 2000. Foi premiado no 55º, 57º, 58º e
no 60º Salão Paranaense, em 2003. Também recebeu prêmios no V Salão de
Arte Religiosa da PUC-Curitiba, no V Salão de Artes do Graciosa Country
Club 2004 e Prêmio IPAR, em 2006. Totalizando 30 premiações de 1994 a
2006, ele foi o mais premiado artista plástico contemporâneo deste
período.

Agora, Brugnera está expondo parte de sua imensa produção artística na
que é a primeira e melhor individual de artista plástico contemporâneo
radicado no Paraná, a ser montada no Museu Oscar Niemeyer.  Refiro-me à
qualidade de suas obras, nas quais ele desenvolve sua excelente
linguagem estético-artística, ao seu projeto de trabalho e também à sua
própria pessoa, como personalidade e caráter. Para completar, ele
cercou-se de uma equipe de primeira linha, desde a museologia realizada
por Luciana Casagrande Pereira, a música ambiente de Marcos Coga e a
coordenação de Luiz Ernesto Meyer Pereira, através do Instituto
Paranaense de Arte.
  Para completar a ambientação das obras, na abertura da exposição foi
instalada uma máquina de névoa criando a mais perfeito clima
brugneriano. A única experiência que já tive comparável a esta foi na
Documenta de Kassel de 1992, quando entrei num corredor elaborado pelo
renomado artista Gary Hill.

  Escrevi a apresentação: E, tal como acontece na criação, o artista
demiurgo elabora suas formas num sentido integral, envolvendo,
inclusive, o fator estrutural. Isto é, elas nascem completas, íntegras,
pois a dosagem da matéria vai sendo efetuada, paulatinamente, em todas
as direções, resultando daí, a imagem por inteiro – a criatura – a obra
de arte.

  Neste processo artístico, mesmo prescindindo da cor – uma qualidade
da sua obra que a torna mais difícil ainda de elaborar – ele me lembra
Leonardo Da Vinci, com suas pinturas alisadas pelos dedos, que ainda
conservam algumas das digitais do mestre do Renascimento. Nos dois
artistas não há gestualidade, os movimentos são contidos, os traços são
quase não-traços transformados em névoa, em brumas fugidias. E a
comparação entre eles continua com o emprego do diáfano trabalhado à
perfeição em estratificações sucessivas, a apreensão do realismo na
obra e, principalmente, a incorporação do tempo na longa e árdua
execução da arte. No entanto, o resultado de Leonardo apresenta uma
característica aérea, transparente, e a fatura de Brugnera se mostra
sólida, extremamente bem construída – sua marca pessoal.

Ambos os magos, porém, compartilham de um trabalho paciente, de
maestria, de domínio dos materiais e de extrema habilidade na
elaboração das formas. Mas, ao passo que Leonardo retrata a paisagem,
inserindo seus personagens em cenários – mimeses da realidade –
Brugnera, no desenho, destaca somente os elementos centrais,
representados pela temática figurativa.

O restante é a escuridão de um universo sem fim, onde a luz não
consegue penetrar. Buracos negros, nos quais a luz é sugada e
desaparece no vórtice da energia tragadora. Ver seus trabalhos
intitulados “Alma”, constituídos por uma massa sufocante que aniquila a
luz do entorno, no corredor especialmente preparado para abrigá-los na
exposição. A mostra “Wotan Brugnera”permanece aberta até 14 de março de
2007, no Museu Oscar Niemeyer (R. Mal Hermes, 999 fone 41-3350-4400).
Não perca!