A serigrafia ontem e hoje

Bem Paraná

De acordo com meu comentário na semana passada, vejo nas artes visuais uma nítida separação: de um lado, todas as manifestações artísticas que têm como fundamento a cor-luz que tiveram seu início com a fotografia no século 19 e continuaram com o cinema até a chegada da computação eletrônica. E de outro, as que têm por base a manipulação de materiais, quer sejam tridimensionais ou quer trabalhem com elementos sólidos, como a pintura que tem volume devido à tinta.  
Entretanto, no caso da serigrafia, há quase um equilíbrio entre estas duas vertentes. A técnica, por ela mesma, é a que usa o menor número de manipulações, diferente de uma gravura em metal elaborada em ponta seca, por exemplo, na qual cada traço impresso no papel corresponde à idêntica atuação do instrumento gravador utilizado pelo artista.
A manipulação na serigrafia advém muito mais do preparo da matriz, de recortes ou de superfícies, do que da elaboração de cada traço, se bem que uma serigrafia com esta configuração mais rara – devido à trabalhosa execução – também pode ser realizada na técnica.
“El Caracol ya Desapareciendo” é de autoria de Marta Guerra-Alem, argentina, nascida em 1941, em Buenos Aires. Ela começou a mostrar sua arte nos anos 60 e desde aquela década vem recebendo prêmios internacionais de arte, expondo sistematicamente até hoje. Também participou de exposições no Brasil, Oriente Médio, França, Mônaco, Espanha, mostrando seus trabalhos em todos os países da América e do Oriente Próximo.  
Realizou diversos trabalhos de curadoria no Brasil, inclusive na “III Mostra Anual de Gravura Cidade de Curitiba”, em 1980, quando apresentou a primeira exposição de artistas estrangeiros do evento, que foi denominada “Sala Sul Americana: Sala Argentina” e onde também foi incluída uma obra de sua autoria.
Na “V Mostra Anual da Gravura Cidade de Curitiba”, em 1982, foi curadora da “Sala Gravadores Peruanos Contemporâneos”.
Marta também foi membro do Júri da “IV Mostra Anual de Gravura Cidade de Curitiba”, em 1981, em que realizou a curadoria de outra exposição de obras de arte estrangeira, desta vez a “Sala Artistas das Filipinas”. Na mesma época, também expôs individualmente suas obras no Museu Guido Viaro.  
Sua serigrafia, executada em 1979, foi escolhida pelo alto índice de atualização que mantém vínculos com imagens semelhantes de obras de arte que são veiculadas diariamente pela web. O que a difere das obras da internet, ao lado da cor-luz que o monitor possui – característica que lhe dá o brilho eletrônico impossível de ser reproduzido na impressão de uma gravura – é o suporte tradicional representado pelo papel. Porém, em termos de concepção e mesmo da seleção das cores efetuadas pela artista, esta serigrafia pode ser comparada a qualquer obra de arte hoje criada e exposta eletronicamente no espaço aberto que qualquer artista pode dispor nos dias de hoje.
Mas, preciso fazer uma distinção referente a esta serigrafia que integra a exposição “Gravura Contempotânea – Diálogos” e, consequentemente, a sua presença aqui: não se trata de uma escolha aleatória equivalente à total liberação que a net possui. A escolha desta obra obedeceu a critérios estético-artísticos que disponho e que não me permitem acatar qualquer trabalho meramente pela disponibilidade.
Esta gravura trabalha com deslocamento de formas e construção de espaço, fazendo referência à Op Art – ou Optical Art – corrente artística do movimento abstrato-construtivista, representado pelo Suprematismo, De Stijl e Bauhaus, que teve forte influência nos anos 60-70 da Arte Vigésima, ou a arte do século 20, como a estou denominando para efeito de localização temporal.  Centralizada em efeitos óticos de padrões, a obra privilegia a seriação, a repetição, a gradação, a seqüência de imagens fundamentadas na geometria, além de apresentar ondulações provenientes da natureza, como as das ondas do mar.
Acredito que a Op Art e suas ramificações se tornaram perpétuas na história da arte, porque o olhar, o jogo visual e a visualidade são hoje – mais do que nunca – requisitos básicos para nossa sobrevivência no dia a dia. Exposta no Museu da Gravura Cidade de Curitiba, Solar do Barão (Rua Pres. Carlos Cavalcanti, 533 – fone 41 3321-3269).