Alfi Vivern, o escultor argentino que adotou Curitiba e foi adotado por nós, foi o vencedor do Grande Prêmio no “Emaar International Art Symposium”. Este concurso de escultura teve lugar, de 7 a 27 de janeiro deste ano, na cidade de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.
Nome de uma federação de sete regiões administrativas, os sete Emirados estão situados na Península Arábica, confinando ao norte com Qatar e o Golfo Pérsico, a leste com Oman e ao sul e oeste com a Arábia Saudita. Abu Dhabi é a capital e Dubai, a maior cidade.
Concorreram com Alfi, 39 escultores provenientes de 30 países, entre os quais Inglaterra, Alemanha, Holanda, Itália, França, Suécia, Portugal, EUA, Japão, Coréia do Sul e Polônia, bem como representantes selecionados entre os países do oriente.
Ao chegar, o artista era recebido no aeroporto por dois acompanhantes que o encaminhavam ao apartamento de luxo, sua residência durante a estadia, com as despesas pagas pelo certame. Cada escultor encontrou seu bloco de pedra já cortado de acordo com suas especificações enviadas anteriormente e disposto no “Global Village”, local que reuniu os participantes. Dois ajudantes ficaram disponíveis para cada escultor, durante o processo de elaboração da obra, como no corte, na limpeza e polimento da peça.
Em paralelo, houve um concurso de pintura iniciado em 14 de janeiro, compreensivelmente devido ao menor tempo de execução desta técnica, comparada à escultura.
Ao todo, foram 61 artistas selecionados para este evento que seria realizado um ano antes. Entretanto, em 2 de novembro de 2005, morreu o emir Zayed Bin Sultan Al Nahyan, de Abu Dhabi, presidente dos Emirados desde 1971. Seu filho, Khalifa Bin Zayed Al Nahyan foi então indicado para o cargo, ficando como vice-presidente Muhammad bin Rashid al-Maktum, Emir de Dubai, ambos eleitos no dia seguinte daquele falecimento. Reajustes administrativos motivaram o adiamento do simpósio para o início deste ano, o que não tirou o brilho do acontecimento que propiciou mais um título internacional ao nosso amigo Alfi.
Nascido em Buenos Aires, Argentina, em 12 de setembro de 1948, ele freqüentou o Instituto Di Tella daquela cidade. Chegou ao Brasil em 1972, e montou na Bahia o seu primeiro atelier. Aqui, freqüentou o Centro de Criatividade de Curitiba na época áurea dos anos 80, realizando sua primeira individual na Fundação Cultural de Curitiba, em 81, mesmo ano em que participou do 37º Salão Paranaense e da V Bienal Internacional da Pequena Escultura, na Hungria. Foi o início de uma notável trajetória internacional, com o escultor já tendo exposto na França, Egito, Coréia do Sul, Taiwan, Bélgica, Espanha, Argentina, Colômbia, onde ganhou também o Primeiro Prêmio, em 1996. Batalhador da arte, foi Presidente de cinco edições do “Simpósio Internacional de Esculturas”, realizadas de 2001 a 2005, em Brusque, SC.
“Waiting for Godot” é o título da obra premiada, feita em mármore de Oman, em grandes dimensões. Ela destaca uma cadeira vazia, esperando silenciosamente pelo personagem da peça teatral do mesmo nome. Numa mistura bem dosada de geometria, simbolismo e formas abstratas, tratadas ora com polimento, ora rusticamente, ela fala da solidão, da vida, do vazio existencial, de uma escada que leva para o céu de Dubai, recortado num portal alegórico.
Considerado o “must” de hoje em matéria de luxo, comércio, entretenimento, excelentes hotéis e restaurantes, um lugar onde se passa muito bem às custas de uma quantia significativa de dinheiro, Dubai está investindo em arte e cultura. Haja visto os acertos para duas de suas mais recentes aquisições artísticas a nível mundial: o Guggenheim e o Museu do Louvre. O primeiro, a ser instalado de acordo com o pedido, sem maiores restrições, pelo menos em relação à corporação americana que gerencia estes espaços expositivos derivados da coleção de Peggy Guggenheim. Como já aconteceu, entre outros empreendimentos deles, com o museu construído em Bilbao, na Espanha, projetado por Frank O. Gehry e, bem recentemente, o estabelecimento do Museu de Arte Contemporânea de Veneza, cujo prédio histórico começa agora a ser restaurado. E o segundo, o Louvre, enfrentando uma grande oposição por parte de artistas, críticos de arte, museólogos e intelectuais franceses que estão resistindo à abertura de “filiais” que pretendem exibir parte do tão cobiçado patrimônio da França, duramente adquirido através dos séculos de arte e cultura.