Nesta semana, a coordenadora do programa do Edital da Bolsa Produção Ana Gonzáles me enviou o catálogo relativo ao “Segundo Bolsa Produção – 2007”, cujas exposições foram recentemente realizadas.
Este projeto e sua conseqüente execução representa o sonho, tanto dos artistas selecionados quanto de funcionários da própria Fundação Cultural de Curitiba – caso em que me incluo, quando Coordenadora de Artes Plásticas, Consultora de Artes Visuais e Diretora de Artes Visuais da entidade.
Digo um sonho tornado realidade, porque, o que hoje acontece é exatamente o contrário do que ocorria em anos passados, quando o orçamento da instituição, apesar de prever a execução de um número maior de exposições, contava de modo praticamente integral com a participação voluntária e gratuita dos artistas. Claro que havia, como também agora, um processo rigoroso de seleção dos artistas através de pessoas representativas das artes visuais reunidas em comissões.
Não digo que não houve projetos significativos nos anos passados. Ao contrário, o próprio calendário das exposições satisfazia uma gama variada de artistas, indo da arte popular e artesanato – isto há uns quinze anos atrás – até megas exposições como a Mostra da Gravura Cidade de Curitiba que se nos apresentava anualmente como um sufoco em sua realização. Isto se devia ao porte do evento, à exigüidade de tempo, à alta rotatividade das demais exposições que duravam uma média de três semanas em mais de 20 salas diferentes em suas especificidades, propósitos e localizações. E cada mostra de artista selecionado era acompanhada de convite individual, geralmente um pequeno folder preto e branco com as imagens bem miúdas – pois os fotolitos na época eram muito caros – o que não impedia a Fundação Cultural de Curitiba de ser reconhecida como a melhor instituição da cidade, ultrapassando seus próprios limites e enviando exposições, ainda que espaçadamente, para outras capitais.
Continuando na função de incentivar e divulgar as artes visuais, a atual gestão da entidade, presidida por Paulino Viapiana, deu um grande passo à frente instituindo a Bolsa Produção em 2005 – exatamente o que faltava aos artistas de nossa cidade. Pela primeira vez, a instituição passaria a fomentar a produção artística subsidiando financeira e artisticamente os artistas por dez meses, no final dos quais eles apresentariam suas obras em exposições, além de outras contrapartidas. Assim, “a mais absoluta contemporaneidade”, nas palavras da sempre lembrada Guilmar Silva, passou a ser o critério fundamental para a seleção na qual foram concedidas 12 bolsas num total de 13 artistas para o “Bolsa Produção – 2007”. Foram eles: Fernando Rosenbaum e Lahir Ramos, na área da gravura; Felipe Prando e Fabio Follador, na área de fotografia; Márcio Pardo e Bruno Tomé, na área da escultura e seis bolsas abertas a outras modalidades, conferidas aos artistas Daniel Duda, Felipe Scandelari, Isabel Porto, Rodrigo Guinski, Tony Camargo e à dupla Lívia Piantavini e Tatiana Stropp.
Concordo com Marili Azim, Coordenadora de Artes Visuais da instituição, quando ela se refere ao fato que “não se pode condensar facilmente, sob um único termo, os diversos conceitos implícitos nos esforços de definição de contemporaneidade. Resta a constatação de que o múltiplo comum é, efetivamente, a pesquisa. Ao traçar seu próprio percurso, o artista se descobre integrando uma rede de interconexões que ora se confirmam, ora se opõem, numa dinâmica que reflete o caótico e multifacetado cotidiano de uma realidade que não se deixa apreender total e completamente.”
Como bem diz Paulino Viapiana: “É uma iniciativa inédita, que permite ao artista dedicar-se inteiramente ao seu trabalho. O mérito não está na obra acabada, mas no processo de criação. A pesquisa, a crítica, a experimentação, a abertura de novas possibilidades e, sobretudo, a liberdade para o fazer, completo.”