Creio que foi em 2007 que assisti, num dos canais pagos da televisão, o
filme “Die Brück” do diretor Bernhard Wicki. E foi impressionante! No
geral, abandono a televisão nos intervalos, pois sempre divido a tela
com outras atividades. No caso do filme “A Ponte”, não consegui sair,
pois não queria perder nem um minuto do desenrolar da história.
Para quem não viu, o diretor Wicki teve o poder de transformar em
epopéia, a narrativa cinematográfica sobre sete alunos adolescentes de
uma mesma classe escolar, convocados para defender uma ponte nos
últimos dias da Segunda Guerra Mundial.
Roubados de suas simples vidas cotidianas numa pequena aldeia – o que
significava ir e voltar das suas casas para a escola, além de fazer
traquinagens e pequenas tarefas para ajudar suas famílias – esses
meninos, que não conheciam nada da guerra, irão passar por um crescendo
dramático extremamente bem dosado pelo diretor.
Desde a convocação, que os faz sentir, em primeiro lugar, o
estranhamento de uma situação nova, junto a certa euforia e jactância
por pertencerem ao exército, portarem armas e a possibilidade de se
tornarem heróis matando os inimigos, até quando percebem que estarão
sozinhos enfrentando os tanques, pois aqueles que os recrutaram já
partiram em retirada.
Produzido em 1959, o filme – em preto e branco, com roteiro de M.
Mansfeld, K. Vivier – descreve, no início, as situações individuais e
familiares dos adolescentes, com suas amizades, rivalidades e
personalidades que vão se modificando ao desenrolar do filme. Nem os
tanques, que não são réplicas de nenhum tanque da Segunda Guerra e,
muito ao contrário, são pastiches óbvios, conseguem diminuir o pavor
que compartilhei com os meninos, quando apareceram.
Este filme marcou – para o bem, para o mal e para sempre – o seu
diretor Bernhard Wicki. No bom sentido, ele se tornou conhecido por
este trabalho, seu segundo filme, o que lhe rendeu vários prêmios,
entre os quais, o Golden Globe e uma indicação para o Oscar de Melhor
Filme Estrangeiro em 1959. Por outro lado, o enorme sucesso mundial
alcançado obliterou seus doze outros filmes, alguns tão excelentes
quanto “A Ponte”.
Bernhard Wicki nasceu em 1919, em St. Pölten, na Baixa Áustria, e
emigrou para Köeten, próximo a Dachau, na Alemanha. Ali, freqüentou a
Escola Estadual de Teatro em Berlim; e na Áustria, o Seminário Max
Reinhardt de Viena. Também trabalhou, no período entre 1940 e 1949, em
Bremen, Munique, Zurique e Basiléia, estas duas cidades na Suíça, onde
se casou.
Totalmente direcionado ao teatro, além de gostar igualmente de poesia e
pintura, a primeira reviravolta em sua vida aconteceu quando ele
visitou em Lucerna, a Exposição Mundial da Fotografia, em 1952. Lá, ele
viu a famosa fotografia de Robert Capa feita de um soldado morrendo, e
declarou sobre a imagem: “—Foi o olhar espontâneo e imparcial sobre a
vida pura e simplesmente”.
A partir daí, ele começou a fotografar e sua primeira exposição de
fotografias intitulada “O Mundo de Luz e Sombra”, foi realizada em
1959, na Galeria Landsbildstelle, em Hamburgo, no mesmo ano do sucesso
do filme “A Ponte”.
Agora, o Goethe-Institut Curitiba está apresentando, até 16 de abril, a
exposição “Bernhard Wicki – Fotografias”, em sua sede (Rua Reinaldino
S.de Quadros, 33 – Alto da XV).
E como programação paralela, de 03 a 05 de abril, exibe duas sessões
gratuitas de filmes longa-metragens, sempre às 16h e 20h, na Cinemateca
de Curitiba (Rua Pres. Carlos Cavalcanti 1174, esquina Rua João Manoel
– Bairro São Francisco). Dia 03 de abril, o filme projetado será “A
última ponte”, realizado em 1954, que tem Wicki como artista principal
em início de carreira; dia 04 de abril “Compromisso em Zurich”, comédia
de 1957 com ele no elenco; e dia 05 de abril “A Ponte”. Informações:
fone 41-3262-8244 e www.goethe.de/curitiba
Mais um dado interessante sobre Wicki, é que ele foi o co-diretor da
produção hollywoodiana “O Dia Mais Longo”. Este filme conta a história
do Dia “D” e da “Operação Overlord”, quando houve a invasão da
Normandia, França, pelos soldados aliados, em 06 de junho de 1944, no
que foi a maior operação logística da história.
No ano 2000, Bernhard Wicki é premiado com a Grande Ordem de Mérito
Austríaca Litteris et Artibus e falece em Munique, a 5 de janeiro.