Em conversa telefônica com meu amigo de longa data Rogério Prestes, o assunto principal – como não poderia deixar de ser – são as artes visuais, em que ponto estão, e como estão se transformando.


Rogério é professor de arte na cidade de São Paulo e é confrontado todos os dias por seus alunos que o questionam sobre o que acontece diariamente neste campo específico e nas áreas afins, em que a transformação ocorre na velocidade da internet.


É redundante dizer que hoje, ao contrário de todas as civilizações que nos precederam, a mudança nunca aconteceu tão rapidamente. E nada do que é construído ou fabricado é feito para durar – tudo é parte da obsolescência programada. O objeto duradouro não interessa para as fábricas e nem para a economia, até o ponto em que – como agora – ela desmorona perante o colapso financeiro.


Mas, nem mesmo esta crise servirá de lição para que a situação mude ou para que sejam fabricados objetos duráveis e sem desperdício, de acordo com o esgotamento das matérias primas – fato a respeito da Terra todos conhecemos.


As medidas de contenção são completamente desprezadas, incluindo-se aqui a taxa de natalidade humana – nascem 77 milhões de habitantes por ano! – numa Terra finita. Pergunta bem objetiva: para onde poderemos ir se nosso planeta não tiver mais condições de sustentar a vida humana? E nem as vidas animal e vegetal, pois a essa altura já as teremos comido.


Voltando ao tema, vejo nas artes visuais uma nítida separação: de um lado, todas as manifestações que têm como fundamento a cor-luz que tiveram seu início com a fotografia no século 19 e continuaram com o cinema até a chegada da computação eletrônica e dos pixels do monitor.


De outro lado, as que têm seus primórdios na manipulação de materiais, quer sejam tridimensionais ou que simplesmente trabalhem com elementos que podem ser chamados de sólidos, como a pintura que tem volume devido à tinta.


A primeira, como o próprio nome diz – artes visuais – seria diretamente relacionada à visão, se coadunando perfeitamente à internet e todos os equipamentos que são compatíveis à virtualidade do computador. Creio que este setor de arte não será prejudicado em sua duração e terá longevidade equivalente à da humanidade até quando ela puder resistir perante a espoliação do planeta que ela mesma irresponsavelmente está provocando.


Porém, dois fatores podem influir na duração das artes visuais de acordo com a divisão acima: a excessiva banalização proveniente dos próprios meios e ferramentas tecnológicos à disposição dos artistas; e a passagem da tela plana à visão de 360° abrangendo todo o ambiente.


A primeira condição, que é negativa, já está ocorrendo: dificilmente me deparo com alguma produção artística que me detenha mais do que 20 segundos – o suficiente para me dizer que a qualidade estético-artística fica a desejar, além de parecer que sempre estou assistindo à mesma coisa. O segundo fator, ou seja a ambientação digital, pode vir a mudar completamente os conceitos artísticos e talvez ampliar a questão do toque, haja vista uma série de experimentos relativos ao sentido táctil já realizados.


Para a segunda grande divisão das artes visuais não basta a virtualidade – por mais atraente que seja. E atuar neste tipo de criação quer dizer que o artista tem necessidade de manipular, pegar, riscar, esculpir pintar, ou melhor dizendo, exige do artista, por sua própria e livre escolha, o trabalho físico. Então, o ato de criar em alguns artistas não pode ser resumido ao virtual; é preciso participar, sentir fisicamente o produto de sua arte.


Assim, a linguagem enérgica em ponta seca da gravura de Feres Khoury, chama a atenção por seu desenho poderoso e expressionista. Destacando as linhas estruturais, ela sugere relações entre possíveis significados dos ícones e escritos ali dispostos, principalmente devido às palavras alemãs: “Alles Vergeht”, cujo sentido é: “Tudo passa nesta vida”.


Obra polêmica em sua iconografia, que é acentuada pela inversão de letras e do nome sugestivo de “Leonardo da Vinci” escrito na chapa de metal. Disso resultam letras impressas ao contrário no papel e, portanto, ilegíveis. A referência à escrita espelhada de Leonardo faz com que esta gravura também venha a questionar o processo de inversão da gravura.