A exposição “Gravura Contemporânea – Diálogos”, no Museu da Gravura Cidade de Curitiba apresenta uma oportunidade para rever gravuras de artistas que pouco foram expostas. (Rua Pres. Carlos Cavalcanti, 533 – fone 41 3321-3269).


Entre elas, a litografia de León Ferrari, artista que já completou 50 anos de atividades – muitas vezes polêmicas – nas artes visuais. Sua litografia, executada em 1984, apresenta um conjunto de formas minúsculas e dinâmicas que, entretecidas, preenchem todo o suporte, sugerindo um padrão. Desenhando rápido e gestualmente numa fatura impulsiva e despojada, estas garatujas insólitas e inquietas – que lembram ideogramas – surgem da linguagem efervescente do gravador transformadas em pura sensibilidade.


Intitulando-se artista político, León nasceu em 1920, em Buenos Aires, Argentina, e iniciou seu trabalho na década de 50, em Roma, onde realizava esculturas figurativas em cerâmica. Voltando à Argentina, León fez suas primeiras esculturas abstratas em 1960. De acordo com José Augusto Ribeiro, eram “peças feitas com arame de aço inoxidável, formada por ‘linhas’soldadas umas às outras, que se emendam e se cruzam, geralmente em estruturas verticais, mas sempre a partir de uma organização geométrica cuja luminosidade torna difuso o rigor construtivo.” (1)


Em 1962, o artista “dá início a uma série de manuscritos com nanquim sobre papel, em que os traços da caligrafia são desenho e escritura a um só tempo. (…) Num grupo estariam as peças figurativas, dotadas de um discurso ‘direto’ contra agentes do circuito de artes visuais, contra a igreja, contra fatos políticos, etc. No outro grupo, ficariam os projetos de arte abstrata, em que prevalece a pesquisa ‘formalista’, nos termos do artista, preocupada com o que ele chama de ‘evolução de formas’.” (1)


Segundo Ribeiro, em 1965, León expôs no Instituto Torcuato Di Tella, em Buenos Aires, talvez sua mais famosa obra intitulada “Civilização ocidental e cristã”, uma imagem de Cristo crucificado nas asas de um avião bombardeiro e participa de projetos coletivos que realizam ações polêmicas e inquiridoras na Argentina.


De acordo com Emerson Dionísio Gomes de Oliveira, ao fugir da repressão em 1976, León se auto-exila na cidade de São Paulo e passa a freqüentar o Centro de Estudos e Artes Visuais Áster, que funcionou entre 1978 e 1981, coordenado por Julio Plaza, Regina Silveira, Donato Ferreira e Walter Zanini, dedicado a pesquisas com gravura. na Revista Esboços n° 18 – UFSC. (2)


León retornou à Argentina, após as mudanças políticas ocorridas naquele país, porém continua freqüentando os círculos artísticos brasileiros, como este depoimento dado num dos eventos mensais do “Trópico na Pinacoteca”, em junho de 2005, na Pinacoteca do Estado de São Paulo.


Roberto Obregón, nascido em 1947, em Barranquilla, na Colômbia, e falecido em Caracas, em 2003, é considerado artista venezuelano. Iniciou sua carreira em 1960 e sua obra compreende pintura, desenho, gravura, colagem e instalação. Obregón também executou muitas ações artísticas clandestinas na Galeria de Arte Nacional, no atelier do artista Sigfredo Chacón e na Galeria Sotavento, em Caracas.


Sua litografia, executada em 1992, é composta por oito tiras de papel nas quais suas formas favoritas – provenientes de folhas retiradas da natureza são reduzidas à silhueta e dispostas em ordem decrescente. À medida que elas vão diminuindo e sumindo do suporte, elas configuram uma analogia à natureza, pois muitas das sombras mostram falhas, rasgos, partes comidas por insetos. Na arte da transposição de formas da realidade para o papel, o artista, em seus últimos anos, vinha trabalhando muito com as rosas e parafraseando Gertrude Stein: “A rosa é uma rosa uma rosa uma rosa”.


(1) Ribeiro, José Augusto. “A arte política de León Ferrari”. Texto sobre encontro da programação “Trópico na Pinacoteca” do Estado de São Paulo e Revista eletrônica do UOL. Junho de 2005. https://p.php.uol.com.br/trópico/html/textos/2631


(2) Oliveira, Emerson Dionísio Gomes de. “Uma Arte Política ou Uma Política da Arte: Os Pequenos Sujeitos Na Arte do Argentino León Ferrari”. Revista Esboços n° 18 – UFSC. https://www.periodicos.ufsc.br/index.php/esboços/article/view/586/2796