E tudo começou no desenho

Nilza Procopiak - nikp@uol.com.br

Nem sempre uma das características mais exploradas da pintura – que é a tridimensionalidade, alcançada através do acúmulo da tinta – é o fator mais procurado pelos pintores.  Ao contrário, o fato de negar o volume, faz com que a superfície trabalhada no plano se torne mais atraente. Assim, a questão do volume que é, num certo sentido, um recurso que se apresenta com alguma facilidade para determinados pintores – e que salva muita pintura pela demonstração de perícia no manejo do pincel – é completa e propositadamente negada na obra pictórica de André Rigatti.
  Entretanto, abstendo-se deste recurso, as telas de André não só falam como enfaticamente se destacam como linguagem artística na mostra da Bolsa Produção, ora apresentada no Solar do Barão.

  A sutileza demonstrada em sua obrapelo artista, que também lida com desenho, gravura, vídeo e fotografia, tem a exata proporção de um trabalho pensado, clean e extremamente sutil.

  Agindo como contraponto à invasão visual da época atual, a quieta pintura do artista proporciona alívio perante telas em que a multiplicidade de cores, contrastes e volumes seguem linhas neo-expressionistas. Nestas, o resultado é, muito mais, a tentativa de impor uma pintura que grita pelo acúmulo de interferências visuais – quer o fruidor deseje ou não – do que mostrar obras resultantes de pesquisas ou linguagens alcançadas via esforço do artista.

  André Rigatti é Bacharel em Artes Visuais pela Universidade Tuiuti do Paraná – UTP, e a sua tese leva o título de: “Considerações do Sujeito no Espaço”. Cursou Especialização em História da Arte Moderna e Contemporânea na Escola de Música e é professor da Faculdade de Artes do Paraná – FAP, nas disciplinas de Gravura I, II, Gravura Optativa e Pintura Optativa.

  Em 2005, foi selecionado para o Programa Bolsa Produção para Artes Visuais da Fundação Cultural de Curitiba que resultou, em 2007, na exposição individual “Inserções Ambientais / Integração do Objeto ao Espaço”, apresentada no Salão Brasil do Memorial de Curitiba. Rigatti explica: “No desenho considerei a percepção do objeto situado no campo especifico do suporte, ou seja, o papel, acreditando na possibilidade de se perceberem suas especificidades quanto imagem e quanto a seu teor dominante e determinante do espaço em que é disposto”.

  Assim, partindo do desenho em que a sutileza de traços a cores e em negativo pontuavam o papel, e da exploração de corpos humanos não identificados, o artista realizou três vídeos: “Sacos”, “ST” e “Acrobat”, no qual a solidão foi o elemento mais explorado, segundo Marcos Hill.*   

  Com um respeitável currículo de exposições para quem começou há tão pouco tempo, o artista também já realizou outras individuais: “Instalação” no Museu Histórico de Campo Largo, PR; “Desenhos”, no Goethe Institut – Curitiba, PR e “Desenhos” no Memorial de Curitiba, Salão Paraná – Fundação Cultural de Curitiba, todas em 2005.  No ano seguinte apresentou “Vôo”, na Galeria Adalice Araújo da UTP; e no corrente ano, “Pleno” no Museu de Arte Contemporânea do Paraná – MAC/PR, Sala Theodoro De Bona.

  Agora, na individual intitulada “Sobre”, estão expostas suas mais recentes pinturas. São obras de um racionalismo ordenado que valoriza o signo em si, constituídas somente por dois elementos: o infinito e o ícone. E, mesmo o ícone só se torna visível por meio de leve gradação do fundo pintado. O elemento e o fundo. O sujeito e o mundo. Talvez uma reprodução da condição humana perante a vida. Suas pinturas captam a quase-sombra em negativo, que é muito mais clara que as sombras escuras da vida. Porém, as fronteiras entre o sujeito e o contexto, apesar de sutis, estão bem demarcadas nestas obras sintéticas que falam da condição de ser singular, da pureza, do isolamento.

  Acrescente-se que a finitude do ambiente pictórico, representada pelos próprios limites da obra, aparece como uma segunda barreira ao ser indivíduo no mundo.
  No Museu da Gravura Cidade de Curitiba (Rua Pres. Carlos Cavalcanti, 533 – fone 41 3321-3269).

* Hill, Marcos. “Cor e Corpos em Cumplicidade com o Mundo”. Catálogo da Bolsa Produção para Artes Visuais da Fundação Cultural de Curitiba. 2007.