Já escrevi, nesta coluna, sobre a arte verdadeiramente instigante de André Malinski. Agora, na sua exposição intitulada “DEUS MORA NOS DETALHES”, o artista continua firme em sua trajetória. Avançando, o que no caso de André também significa aprofundando, sua linguagem artística e dela tirando proveito na exploração, cada vez mais maior, das infinitas possibilidades que ele consegue extrair de sua arte. Arte esta, fundamentada numa série de especificidades e figuras da linguagem escrita que André transfere com genialidade para suas obras. Assim, a metáfora, o sinônimo, o adjetivo, o substantivo, passam a ser empregados no sentido figurado, de uma maneira, e no trocadilho, de outra. Então, o artista explora visualmente o uso que se faz de tropos da linguagem (do grego trópos = desvio e do latim tropus), que significa “emprego de palavra ou expressão em sentido figurado”, segundo o Aurélio*, elevando-os ao figurativo de sua arte. A arte do Malinski é tão bem “costurada” – por assim dizer – que inclusive este texto nela inspirado, acaba por tomar a forma de chiste, refletindo a atmosfera criativa do artista. O meu trocadilho acima não foi proposital, mas nasceu aqui influenciado pela sua arte e deixei que sobrevivesse, pois a escrita sobre arte tem origem na própria arte e se o artista consegue transmitir tanto que estas linhas casam com sua poética, é porque, realmente, é um grande artista. Outro aspecto de sua linguagem tem a ver com a religiosidade, com os santos populares e suas respectivas áreas de “especialidade”, como São Francisco com os animais; Santo Antônio, o casamenteiro. Sua arte, vista sob este aspecto, fornece outra área de atuação, que também vai trabalhar com os sinônimos, os adjetivos e, consequentemente, os símbolos. Seu processo de criação atravessa as etapas necessárias para satisfazer diversas linguagens, instrumentos e equipamentos – todos simples, na verdade: imagens de santinhos, fotografias, ampliações, computadores, recortes, plotagens, cartazes. Porém, diante da interferência do artista que os retira do limbo, Malinski perfaz – com eles – um caminho que corresponde a muitas das vertentes da arte da atualidade. Usando da imaginação, sem necessidade de apelar para os muitos instrumentos sofisticados que existem por aí, ele os substitui por recursos mais espartanos. Entretanto esta substituição e a escolha de instrumentos e elementos fáceis de manipular e imediatamente reconhecíveis não é feita ao acaso. Eles já foram selecionados e constituídos como base e fundamento de sua linguagem. A complexidade da obra do artista se revela ao longo do seu processo artístico. Por meios modestos ele elabora uma imagem que fala e atinge, ao mesmo tempo, os mais diversos e diferentes tipos de público. O artista faz literalmente sua própria divulgação através dos seus out-doors. A eles são acrescidas as etapas de produção que parodiam algo como o lançamento de um produto. Produto este, não vendável e nem vendido e sim veiculado pelo artista, segundo as leis de comunicação e popularização. Entretanto sua arte não pára aí. Ela começa nos equipamentos, segue esta via de comunicação por um viés e não diretamente, e vai muito mais além, entrando, na etapa seguinte, em museus e espaços de exposições de arte. Suas figuras, límpidas e figurativas sempre sugerem vários mistérios que permanecem por detrás. Insinuados, e não explícitos. Ora é São Sebastião cortado de modo a não serem vistos nem a cabeça e nem os pés, ora são as mãos e rosas de Santa Terezinha. Nada é totalmente revelado. Assim, o artista segura o fruidor de sua arte com um mistério a resolver. Seria São Sebastião? Que motivo o levou a cortar a imagem? E os recortes vêm com um toque de irreverência e outro de ironia, como é característica de toda sua obra que visa, paradoxalmente aqui, o incomum, o não totalmente discernível, o incompleto, a sugestão, enfim … o território da arte. A exposição de André Malinski está aberta ao público no Memorial de Curitiba (Rua Claudino dos Santos, s/n – Centro Histórico – fone 41 3321- 2823). * Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda. “Novo Aurélio: O Dicionário da Língua Portuguesa. 3
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