Vale a pena visitar a exposição “Entre o linear e o pictórico”, no Espaço Cultural BRDE, onde estão expostas obras de cinco artistas, cujas linguagens bem diferenciadas se constituem, paradoxalmente, em seu maior atrativo. A quebra, por assim dizer, representada pelas técnicas e linguagens ali apresentadas faz com que a exposição se mostre viva, atuante e contemporânea, correspondendo plenamente aos interesses em comum demonstrados pelos componentes do grupo.

O texto de apresentação de Rubens Portella diz que a mostra é resultado das reflexões e atividades práticas do Grupo Papel, formado por professores, alunos e egressos do Curso de Artes Visuais com ênfase em Computação da Universidade Tuiuti do Paraná.

De acordo com ele, “como sugere o próprio título da exposição, é de interesse do grupo investigar não apenas as características, linguagens e possibilidades expressivas de cada modalidade artística isolada, mas as transições, convergências e interligações entre elas, estabelecendo novos pontos de vista, tensões e desafios”.

Então, se é o papel que dá suporte às experimentações, então por que não utilizar a linha como estrutura que dá forma e corpo ao desenho? As poéticas, as lembranças e o olhar de mundo de cada um dos cinco artistas acontecem por meio da costura, do lápis, da corrosão do ácido na placa de metal, do nanquim ou digital.

Segundo Portella, “é por meio da troca constante de referências, do debate de idéias e da abertura ao diálogo, que estes jovens artistas e pesquisadores esbatem as fronteiras entre o desenho, a fotografia, a arte eletrônica, o objeto, a pintura e a gravura – áreas específicas do interesse de casa um dos integrantes do grupo – para ingressar em um novo campo experimental e poético, propiciado pela atmosfera do pensamento em coletividade”.

Sobre a obra de Eliza Gunzi, mestre em Poéticas Visuais, Portella declara que “os desenhos migram da linha à superfície, transformando o traço fino do grafite em pele”. A artista trabalha com detalhes provenientes da estamparias japonesas, compondo linhas delicadas a nanquim sobre papel. Estes desenhos são depois plotados em grandes dimensões e adesivados em paredes. Eliza declara que “a minúcia detalhista de minhas obras faz com que o espectador tenha que se aproximar para olhar”.

Os desenhos de Hugo Mendes também são executados em nanquim sobre papel, feitos a partir de linhas horizontais que se modificam de tal maneira que, segundo Portella: “suas imagens se escondem por detrás de gráficos”. Neste processo, eles trazem como resultado a reflexão de pensar sobre o original, que por ser tantas vezes modificado chega ao fruidor de uma forma completamente diferente. 

“As fotografias de Evandro Gauna se bifurcam entre a precisão do bordado e a pictorialidade da mancha e do desfocamento”, no texto de Portella. Formado em artes e apreciando a fotografia, Gauna sai como flâneur pela cidade à procura do que passa despercebido no cotidiano. Mais tarde, suas fotos viram bordados executados com agulha e linha no papel. “Nos meus trabalhos as pessoas reconhecem os detalhes do dia a dia da cidade”.

Os desenhos da artista plástica Haydée Guibor nascem digitalmente, no contraste entre o preto e o translúcido. Mais tarde são impressos em adesivo e colados em acrílico, método que transporta a qualidade da luz do monitor para a transparência da impressão no acetato. “Eu tenho a necessidade de desenhar. Quero que as pessoas percebam a massa através do preto e o vazio pelo transparente”.

“É uma discussão entre as linguagens, uma tentativa é ir além da técnica tradicional” declara Renato Torres, Bacharel em Gravura, sobre sua obra. Segundo Portella, “sua gravura se converte em campo de cor, território tradicionalmente reservado à pintura.”
Fazendo uso de imagens de filmes e da propaganda, Renato também passa a incorporar a  temporalidade em seu trabalho
Aberta ao público até 30 de setembro, de segunda a sexta-feira, das 12h30 às 18h30, no Espaço Cultural BRDE – Palacete dos Leões (Av. João Gualberto, 530 fone 41-3219-8184).