Fernando Velloso no Paço da Liberdade

Nilza Procopiak

  ARTE – com letra maiúscula – está presente na inauguração do Paço da Liberdade, na exposição de Fernando Velloso, aberta em 29 de março, mesmo dia em que Curitiba comemorava 316 anos.

  Antigo paço municipal, localizado na Praça Generoso Marques, o edifício construído em grande parte no estilo Art Nouveau com toques ecléticos, já abrigou o Museu Paranaense e passa novamente a oferecer seus serviços à comunidade.
  Núcleo do projeto de revitalização do centro de Curitiba, o Paço da Liberdade enfatiza, através da pintura de Velloso, a excelente qualidade estético-artística que se espera para as exposições ali apresentadas.
  Então, nada mais justo que o curitibano Fernando Velloso, que também comemora neste ano seus 60 anos de atividade artística ininterrupta, seja o artista maior da inauguração do Paço.

  Um dos mais ativos fundadores do movimento modernista no Paraná, Velloso foi o idealizador do Museu de Arte Contemporânea do Paraná e seu primeiro diretor, após liderar os artistas locais a uma ocupação do prédio abandonado da Secretaria de Saúde, destinado na época à outra finalidade. Foi assim que gerações de artistas que se seguiram tiveram oportunidade de dispor dos espaços expositivos, das instalações e também do excelente Centro de Pesquisa que o MAC-PR dispõe ao publico.
  Conforme o também ex-diretor do MAC/PR, João Henrique do Amaral, curador da exposição que ocupa a maior área nobre do Paço, o que mais surpreende na produção de Fernando Velloso, é a qualidade da pintura apresentada, a riqueza de texturas,  as cores, cada vez mais identificadas com o artista, como os azuis e amarelos tão próprios de sua paleta. Do mesmo modo, são características de Velloso,  sua sensibilidade pessoal e sua constante atualização por meio de pesquisa artística – aqui incluídas as viagens internacionais especialmente programadas para visitar exposições de arte escolhidas a dedo, o que lhe possibilita uma aguda percepção da movimentação artística contemporânea com suas conseqüentes conexões mundiais.    No texto, João Henrique comenta: “O ensino na Escola de Belas Artes do Paraná era pautado pelo rigor acadêmico. Aluno da primeira turma, Fernando Velloso buscava novas respostas para questões estéticas permanentes. Apesar de assumir uma linha conservadora e anacrônica, a Escola contribuiu para o nascimento de uma geração que se insurgiu contra a mesmice da pintura no Paraná.
  Velloso ajuda a criar o movimento dos modernos no Estado: um movimento não coeso, como se poderia imaginar, mas no qual cada jovem artista buscava uma linguagem pictórica correspondente aos seus anseios de contemporaneidade, procurando uma trajetória de saída para aquele cenário de marasmo… Por indicação do pintor carioca Frank Schaeffer, que percebeu indícios pós-cubistas na pintura de Velloso, o mestre francês André Lhote o recebe como aluno em Paris. O tempo passado no atelier desenvolveu e aprimorou o aprendizado técnico do equilíbrio formal, da composição e das cores. Mas, mais ainda, a atmosfera e o ambiente parisiense do alvorecer dos anos 60 envolveram Velloso com a aura libertária da abstração e o abandono da figura.

  Curiosamente, Lothe desdenhava a abstração, forçando o jovem aluno a uma dupla produção: a de cunho pós-cubista, ao gosto do mestre, em que a figura ainda é percebida, e aquela abstrata, sem qualquer vínculo acadêmico.   Ao retornar para Curitiba, encontra o mesmo cenário abandonado dois anos e meio antes. A inquietude frente à cidade acomodada o impulsiona a exercer o papel de promotor cultural, em diversas frentes, primeiramente como pintor e também como membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte e da Associação Internacional de Críticos de Arte/ABCA-AICA.   Seu reconhecido pioneirismo criou o ambiente para a entrada de novas linguagens visuais no cenário paranaense, inclusive aquelas de tendência contemporânea…   Fernando, porém, mesmo tendo incorporado técnicas mistas de colagem, permaneceu fiel ao ato de pintar.   Dos oitenta anos que completará em agosto de 2010, sessenta têm sido dedicados – sem intervalo – à pintura e proporcionam um panorama da sua relevância na História da Arte no Paraná.   Não haveria melhor momento para uma homenagem ao artista que este da inauguração do Paço da Liberdade, palavra mágica que representa a maior qualidade da arte em sua independência.”