‘Fotografia subjetiva’, exatamente como está aqui escrita, com iniciais minúsculas e na tipologia da Bauhaus, é a denominação de um projeto criado e usado pelo fotógrafo e estudioso da imagem Otto Steinert. Um dos mais ativos fotógrafos alemães depois da 2ª Guerra Mundial, ele fez uso deste nome para designar as três exposições fotográficas organizadas por ele nos anos 1951, 1954/55 e 1958. Apesar de ser um termo ocasionalmente usado antes, não o foi no sentido da declaração programática em que o fotógrafo o utilizou e parece que nem ele próprio teve conhecimento de eventuais usos da expressão. Assim, foi sob este nome que ele se referia à coleção de fotografias em preto e branco – PB, de caráter progressista e formas conscientizadas que ele desenvolveu em sua época.

Para tanto, Steinert promovia o renascer da chamada “nova fotografia” da Bauhaus dos anos 30, que apresentou enfoques diversos nos quais a experimentação desempenhava uma das principais vertentes da linguagem fotográfica. Isto foi encarado pela política da época como parte da “arte degenerada”, que haveria de condenar inúmeros artistas e também a arte de vanguarda no período entre 1933 e 1945, ano em que a guerra, iniciada em 1939, terminou.

  Então, ao lado do renascimento, por assim dizer, desta vertente que explorava diferentes facetas de enquadramento, utilização da iluminação e do recorte de modo insólito, uso de ângulos não-tradicionais, além da temática seguramente inovadora, havia um destaque todo especial às formas de criação individuais, mais especificamente às linguagens pessoais de cada fotógrafo.

  O recomeço foi difícil porque havia poucos mestres da câmera a satisfazer às duas condições primordiais: sobrevivido aos anos repressivos e que tivessem acumulado experiências no período liberal anterior a 1933. Deste modo, finda a guerra, os principais nomes pioneiros do movimento foram Adolf Lazi, Carl Strüwe, Heinz Hajek-Halke, Herbert List e Marta Hoepffner. Outro grupo foi o da “fotoform” (1949-1957), liderado por Wolfgang Reisewitz, com o próprio Steinert, Peter Keetmann, Siegfried Lauterwasser, Toni Schneiders e Ludwig Windstoßer. Depois, uma nova fase foi centralizada na Escola de Artes de Saarbrücken, com orientação de Steiner,  e todos eles conseguiram por em andamento a conscientização e importância de uma fotografia criativa no campo da imagem.

   Isto teve início a partir de 1948 quando a Alemanha, amparada pelo Plano Marshall de recuperação dos países europeus envolvidos na 2ª Guerra Mundial, dava os primeiros passos para se afirmar como uma das nações componentes do atual G-8, ou grupo das oito nações mais desenvolvidas do mundo.

  Voltando à fotografia, dela deveria constar – como condição essencial – a questão subjetiva, exatamente o que a individualidade de cada olhar poderia revelar no clique do fotógrafo, criando um universo de formas que teriam como principal meta produzir imagens que pudessem fugir do mundo real das paisagens, retratos e acontecimentos tais quais são mostrados na mera fotografia. Steinert e seus colegas estavam certos que o instrumental da fotografia poderia e deveria render muito mais que reproduções “meramente” objetivas da realidade. Apesar de reconhecerem o uso considerado normal e utilitário da fotografia para registro de publicidade, fatos, cenas, rostos, eles optaram pelo mergulho na subjetividade.

  Nos anos nazistas, a fotografia serviu aos motivos ideológicos, quando se tornou o principal instrumento de propaganda do Terceiro Reich, amparada em duas vertentes: imagens sentimentais, ternas, cenas campestres, animais e paisagens e temática glorificadora da pátria e família baseada na força muscular do homem e na progênie da mulher necessárias para um exército.

  No pós-guerra, foi devolvido à fotografia seu lugar de criatividade, porém, no contexto do subjetivo e de acordo com Steinert, sempre condicionada à limitação dos recursos que poderiam ser utilizados no âmbito da imagem. Nada que escapasse aos meios fotográficos, como a pintura, a colagem e o desenho seriam admitidos, inclusive para não acontecer uma retomada muito próxima ou igual àquela propugnada pela Bauhaus.

  Este é um preâmbulo do que a grande exposição intitulada – ’fotografia subjetiva’. A contribuição alemã. 1948-1963 – vai mostrar a partir de 30 de julho, na Casa Andrade Muricy. (Al. Dr. Muricy, 915 site www.pr.gov.br/cam ), apresentando 165 trabalhos de 23 fotógrafos, terminando com fotos de Robert Häusser e Stefan Moses.
  A mostra, com curadoria de J. A. Schmoll vem através do Goethe-Institut Curitiba, com o patrocínio de ifa – Institut für Auslandsbeziehungen.