Fotos que fazem pensar

Bem Paraná

Reunidos na exposição “Natureza em foco”, no Museu de Fotografia Cidade de Curitiba e sob minha curadoria, estão alguns dos mais significativos trabalhos fotográficos de Delfim Martins, Claus Meyer, Daniel Augusto Júnior e Manuel da Costa, no aspecto referente à natureza.
  Estes quatro fotógrafos representam parte do importante acervo do museu, coletado por Orlando de Azevedo, enquanto Diretor de Artes Visuais da Fundação Cultural de Curitiba – FCC.  Isso aconteceu na gestão do Prefeito Rafael Greca, com Geraldo Pougy na Presidência da FCC, quando a “Semana da Fotografia”, que já era realizada anualmente, se transformou na “Bienal Internacional de Fotografia de Curitiba”, em 1996. Infelizmente, este evento não teve continuidade após a realização de mais duas edições, sendo a última em 2000, exatamente quando reconhecida mundialmente, veio a integrar o calendário internacional do “Festival da Luz”, o que faria de Curitiba um dos polos de fotografia do planeta.
  Assim sendo, esta é uma oportunidade de constatar a qualidade estético-artística das fotos ora expostas dentro do projeto “Acervo Exposições 2007” da Diretoria de Patrimônio Cultural daquela instituição, e que podem ser vistas no Solar do Barão. (R. Carlos Cavalcanti, 533 fone 41-321-3334).
  Delfim Martins nasceu em Barcelos, Portugal, em 1951. Autodidata, iniciou sua carreira na Universidade Mackenzie, em 1973. Contratado pela revista “Visão” em 1975, assumiu o cargo de Coordenador de Fotografia em 79. No mesmo ano, participou da fundação da “Agência F4” com Juca Martins, seu irmão, Nair Benedicto e Ricardo Malta.  Recebeu em 1981/82 o “Prêmio Internacional Nikon”, Japão.
  Em 1984, passou a trabalhar exclusivamente como “freelancer” de publicações e perfis institucionais de empresas como Monsanto, Pirelli, Goodyear, CBMM, Caterpillar, BUNGE, Dow AgroSciences, BASF, Cargill, entre outras. Em 1991 funda, juntamente com Laura M. Del Mar e Juca Martins, a “Pulsar Imagens”.  Possui um grande acervo sobre a produção de alimentos no Brasil, resultado de 20 anos de viagens pelo país. Participou da “Bienal Internacional de Fotografia Cidade de Curitiba”, em suas duas edições iniciais e da Coleção Pirelli MASP de Fotografias, em 2004, além de importantes exposições no Brasil, Itália, França, México, Equador e Cuba.
  Atualmente atende as principais empresas de agronegócio e teve seu trabalho publicado em dezenas de livros sobre o assunto. É Editor e Coordenador de Fotografia da Revista “Notícias Goodyear”.  Delfim Martins registra, na maior parte de sua obra fotográfica, as grandes e coloridas máquinas agrícolas, as colheitas, as plantações geométricas e seus trabalhadores. Ao lado de certo lirismo com que são vistas suas atraentes imagens, ele também revela outros aspectos mais incisivos e tortuosos como o revolvimento do solo em fotos cuja linguagem fala com crueza. Ao contrário do efeito de sua produção fotográfica usual, estas imagens chamam a atenção não só pela degradação do meio ambiente, mas pelo modo como foram fotografadas.
  “O senso comum só percebe que há uma posição de câmera norteando e organizando o espaço quando o enquadramento é bizarro e difícil, quando a câmara ocupa uma posição oblíqua e conflituosa com a frontalidade da cena”. Arlindo Machado. “A Ilusão Especular – introdução à fotografia”. Ed. Brasiliense s.a. SP.1984
  A estranheza provocada pela foto do trator tem origem na visão quase em ângulo reto com a terra, numa tomada aérea bem fora da nossa realidade cotidiana. Somado ao deslocamento, há o que parece ser um desenho abstrato, que vem a se resolver só quando o olhar distingue o trator, exigindo a aproximação física para a resolução da foto. É uma foto que age além do bidimensional, atuando nos espaços expositivo e individual das pessoas. Na verdade, é uma foto que mexe com a cabeça e o corpo das pessoas – faz pensar e agir.   
  A foto do cortador de cana, apesar de atenuada pelo enquadramento frontal, também é quase um padrão abstrato que se confunde com o canavial – o ser humano travando uma luta inglória contra milhares de caniços. Engolfado e quase mimetizado pela cana policlada, ou proliferação anormal de ramos, o homem se torna uma paródia da agricultura em escala gigantesca necessária para os bilhões de habitantes da Terra.   Outra foto que faz pensar.