Uma das tendências menos exploradas na contemporaneidade é a geométrica. Isto acontece porque é muito difícil a concepção de formas artísticas inéditas, uma vez que o universo básico da geometria é limitado e vem sendo muito bem explorado desde a primeira vintena do século 20.

Neste sentido, nosso país teve a felicidade de contar, entre outros movimentos artísticos menores, com duas grandes correntes nas quais o geométrico teve papel relevante: a Arte Neo-concreta, baseada na cidade do Rio de Janeiro e o Concretismo, em São Paulo.  De acordo com o livro “Abstracionismo Geométrico e Informal” de Fernando Cocchiarale e Anna Bella Geiger e editado pela Funarte em 1987 – praticamente a bíblia do abstracionismo no Brasil – as pequenas diferenças entre as duas manifestações artísticas, que começaram praticamente juntas e na mesma época, foram aparecendo quando ambas atingiram o auge e contribuíram para sua completa separação.

Voltando ao geométrico, o Museu Oscar Niemeyer expõe até 27 de maio, uma sensível exposição relativa ao assunto, intitulada “Dongori – Esculturas de Kimi Nii”.
«Donguri, koro koro, donguri, koro koro…» é uma música infantil japonesa que significa «avelãs rolando, rolando…». Essa melodia desenhada na memória da artista Kimi Nii deu origem às 81 esculturas, produzidas nos dois últimos anos, que são exibidas na mostra.

Kimi Nii nasceu em Hiroshima, no Japão, em 1947, dois anos após o ataque com a bomba atômica. Chegou ao Brasil em 1957 e ingressou na arte da cerâmica em 1979, fazendo objetos escultóricos que lhe renderam exposições em galerias de arte a partir da década 80. A primeira foi na Mônica Filgueiras, onde conheceu e começou a conviver com muitos artistas.

A artista também participou de exposições coletivas e individuais em várias galerias paulistanas, como Nara Roesler, Raquel Arnaud e Deco, além de ter realizado duas mostras individuais em Tóquio. Kimi Nii também é designer e sempre está presente nas principais exposições nacionais e em eventos internacionais, representando o Brasil.
O curador da mostra, Agnaldo Farias, explica que: “o formato irregularmente cônico da casca da avelã é também o embrião das formas apresentadas nesta exposição, e a instabilidade delas, passível de se manifestar a partir da manipulação pelo público, constitui um de seus aspectos essenciais”.

A exposição conta com uma série constituída por relevos de parede, feitos em cerâmica com formas pontiagudas, dispostos de maneira contínua em grande painel, ou divididos em pequenos grupos. Sobre a artista, o professor Miguel Chaia escreveu: “Mantendo a sua vocação geométrica, Kimi volta-se à natureza e afaga com o olhar e com as mãos a aparência do mundo natural, retendo a sua lógica para materializá-la em esculturas de barro que virtualizam a realidade orgânica”.  

Assim, consagrada por seu trabalho em cerâmica de alta temperatura, Kimi Nii introduz nesta mostra uma novidade: a madeira. Assim, ao lado dos 80 trabalhos em cerâmica há uma versão em madeira –”Giroforma” – obra em grande formato, com 2,70m de altura e 2,70m de diâmetro.

Farias lembra que a introdução da madeira na produção da artista fez com que a artista passasse a novos procedimentos: “Enquanto a argila vem do chão e o trabalho se dá na dimensão da mão, a madeira exige também os braços, o corpo, porque é matéria de expansão vertical como as árvores. Valendo-se das obras, a artista coloca em cena o modo peculiar com que enfrenta o dilema resultante entre a geometria e a organicidade, a idéia e a matéria, o pensamento e a ação. Simultaneamente, jogando com a variação de escala, demonstra como essa operação traz consigo relações entre a obra e o visitante distintas entre si”.

Serviço: Museu Oscar Niemeyer (Rua Marechal Hermes, 999 Centro Cívico fone: 41- 3350-4400). Terça a domingo, das 10h às 18h.  Preços: R$ 4,00 adultos e R$ 2,00 estudantes. Gratuito para crianças de até 12 anos, maiores de 60 e grupos de estudantes de escolas públicas, do ensino médio e fundamental.

  Por uma questão digital, o título da última edição desta coluna saiu errado. Minhas desculpas ao  Felipe Scandelari. Falando nele, o artista acaba de vender três pinturas de sua autoria para importantes colecionadores alemães, que possuem simplesmente trabalhos de Picasso, Andy Warhol, Matisse e outros do mesmo nível.