Depois da melhor exposição dos últimos tempos, a de Kurt Schwitters, o Museu Oscar Niemeyer apresenta uma seleção de obras gráficas de Henry Moore (1898-1986), Francis Bacon (1909-1992) e Lucian Freud (1922).
Com curadoria do venezuelano Félix Suazo e especialmente produzida para o MON, a mostra reúne 47 trabalhos, elaborados entre 1970 e 1990, que integram a coleção de mais de mil gravuras do Museu de Arte Contemporânea de Caracas.
Os três artistas de fundamental importância no século 20, segundo o curador: “se identificam ao abordar a idéia do corpo e sua representação, abrangendo desde a mais estrita meticulosidade anatômica, no caso de Freud, até a simplificação estrutural de Moore, passando pela distorção expressiva de Bacon”. Utilizando as técnicas de água-forte, ponta seca e litografia, Suazo analisa que “o discurso figurativo alimenta-se de temas cotidianos ou íntimos – retratos, nus, estudos – nos quais a imagem corporal manifesta diversos estados da condição humana, debatendo-se entre a dilaceração, a inapetência e a plenitude carnal … O corpo transfigurado em Bacon, a relação entre psique e gênero em Freud e o vínculo expressivo que se estabelece entre estrutura e sensualidade em Moore.”
O curador também destaca: “a cor em Bacon, o traço em Freud, o volume em Moore”, além de notar o modo com que estes artistas manipulam as técnicas gráficas: “por um lado, Bacon e Moore utilizam a litografia de forma específica a cada um, inclinando-se respectivamente ao momento da cor ou linha, enquanto Freud se mostra de maneira muito versátil com a água forte e a ponte seca, aos quais vem agregadas ocasionalmente as técnicas do pastel e da aquarela. Esta mostra procura registrar os paralelismos e as convergências características destes autores, tanto na técnica como na dimensão plástica, sempre enquadrados em dois eixos matriciais: a figura e a gravura. Bacon, Freud e Moore situam-se em um ponto intermediário entre as correntes realistas e as expressionistas, com algumas alusões ao surrealismo. Compartilham com estas correntes no aspecto figurativo, mas se diferenciam de suas posturas críticas e de seu impulso socializante”.
Moore iniciou seu trabalho gráfico com linóleos na década de 1930, embora suas incursões por este meio se tornem famosas na série de gravuras sobre refugiados, realizada durante a Segunda Guerra Mundial, e venham a se consolidar nos porta-fólios que produziu a partir da década de 1950. Nestas obras é possível observar com nitidez as especificidades da linguagem estético-artística do escultor, toda vez que manipula a superfície gráfica como se modelasse sobre ela. Seus temas principais foram a Madona e a criança, as figuras reclinadas e os estudos da natureza (ossos, animais, pedras).
Félix Suazo analisa: “A presente seleção inclui as séries “Nudes Album” de 1976 e “The Artist´s Hand” de 1980, nas quais se nota o interesse do artista pela figura e seus detalhes. São trabalhos nos quais prevalece o olhar analítico, centrado na reconstrução linear do que foi observado nos volumes. Os contornos são drásticos e os corpos são maciços como pedra. Reclinadas, de costas ou sentadas, as figuras exibem uma discreta sensualidade, sem negar a sólida estrutura anatômica que as constitui”.
Segundo Bacon, “o homem moderno busca sensações que não estejam submetidas ao tédio da representação fiel”. O curador continua: “As perspectivas se deslocam, os rostos se torcem, os quartos se convertem em celas ou cubículos. Neste mundo vazio e claustrofóbico, o real se torna inalcançável; há apenas uma janela cega, uma cadeira imóvel, um espelho sem reflexo ou uma porta que conduz a lugar nenhum. Os personagens de Bacon parecem estar sempre em trânsito de um estado a outro, como que encerrados no redemoinho insondável da existência. As suas gravuras combinam o caos anatômico das figuras e a rigorosa disciplina do encerramento, (…) Seus retratos e nus parecem se referir ao confinamento simbólico do indivíduo, toda vez que descrevem e circunscrevem a própria órbita. Mas essa visão mostra planos e arestas que se multiplicam como em uma galeria de espelhos.”
Com o patrocínio da Sanepar e apoio do MinC, Governo do Paraná, Secretaria de Estado da Cultura e da Caixa; além do Ministério da Cultura e do Governo da Venezuela e da Fundación Museos Nacionales daquele país, a exposição vai até 10 de agosto, no Museu Oscar Niemeyer (R. Mal Hermes, 999 fone 41-3350-4400). Freud fica para a próxima coluna.
Arte Contemporânea