“O BNDS, afinado com a produção contemporânea de Curitiba, apresenta sob a orientação de Nelson Hohmann, obras recentes do gravador Loizel Guimarães.


Desde a metade do século passado, tem sido manifestado por artistas paranaenses, o interesse pela gravura como forma de expressão. Especificamente em Curitiba, seguidas gerações tem registrado o mesmo interesse pela técnica que – embora trabalhosa – é sempre intuitiva, lúdica e poética. E suporte para variadas linguagens que se renovam. Incluindo experimentações.


Já Loizel Guimarães, treinou o gesto da impressão com precisão, com o conhecimento das possibilidades, limites e o necessário que são a argamassa das obras ora expostas.


 O artista pratica gravura do devaneio. Os assuntos do cotidiano – família reunida, cenas melancólicas, árvores, animais – recebem o minucioso trato do seu traço. Cotidiano esse repovoado por entes míticos, próprios e que vibram. E a técnica registra frenética, o


momento captado pelo imaginário do artista.


 Há na rusticidade do traço, leveza de intenções e suavidade na expressão. As soluções surpreendentes que Loizel apresenta para questões formais superam com graça a sisudez dos puristas. As imagens são de intricado equilíbrio; a ‘lei áulica’ é empregada, hierarquizando por importância o tamanho dos personagens graficamente proporcionais.


O amadurecimento, a vivência de Loizel, lhe permitem usar a arte para livre expressão do seu pensamento, com crítica, ironia e humor, e não somente como reprodução de um momento. Não é ingênuo, portanto, nem primitivo como a primeira vista pode parecer.


  O fundo luxuriante, as expressões dos personagens, o manipular constante da matriz que empresta ao conjunto um quê medieval, intenso, estranho.


 Personagens etéreos, de ‘cuentos’, pré ou pós iniciação, em mutação. Personagens recolhidos em cantos da memória do que não houve, num claro descompasso entre a obra e a realidade. Descompasso esse a que chamamos magia.”


Quem assina o texto acima – escrito neste verão – é o crítico de arte e curador João Henrique do Amaral que faz a apresentação da exposição “O vermelho e o negro – Gravuras de Loizel Guimarães”, que abre nesta terça-feira.


Interessante é saber que o gravador passou grande parte de sua vida sem se preocupar com arte. Porém, como funcionário da Fundação Cultural de Curitiba, de um modo ou de outro, entrou em contato com a gravura e se apaixonou pela técnica. E o mais surpreendente de tudo, é que revelou um talento fora do comum, que muito artista por aí daria a alma para possuir apenas um décimo deste dom.


Desde seu início, o artista vem demonstrando uma linguagem artística coerente, estabelecida em sua iconografia que se faz valer, e muito, de todo um imaginário fantástico,


algo surrealista, composto por seres estranhos, meio animais, meio gente, meio vegetais que se enroscam e se espalham em suas obras.


Trabalhador compulsivo da arte, Loizel passa o tempo livre em seu atelier, mergulhado na concepção e elaboração de seus trabalhos em grandes dimensões. São placas e placas escavadas em gravuras que se seguem infinitamente na necessidade que tem o artista para aplacar sua voracidade de criação. E aqui falo de criação no sentido de trazer à luz, dar a vez e voz às magníficas criaturas que ele vai cavando e tirando de sua alma para lhes desvelar o território da arte. Ao mesmo tempo, sua criatividade – no aspecto conceptivo da multiplicidade de formas – faz com que estes formatos passem a se acomodar na gravura e se traduzam em arranjos de espacialidade estética altamente refinada.


Como diz João Henrique: “Não é ingênuo, portanto, nem primitivo…”


É, isto sim, um artista de alto nível que, a cada dia que passa, se torna cada vez mais incisivo em sua arte.



Abertura às 19h do dia 10 de fevereiro, no “Espaço Cultural BRDE – Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul” (Av. João Gualberto, 570 – Palacete Leão Júnior fone 41-3219-8184).