Abre no final desta semana, no Museu de Arte Sacra da Diocese de Curitiba – MASAC, a segunda exposição da série “Arte do Sagrado”, promovida pela Fundação Cultural de Curitiba, entidade mantenedora do local. (MASAC – anexo à Igreja da Ordem, Centro Histórico de Curitiba). Com minha curadoria, esta mostra apresenta algumas obras de caráter sacro, como o nome indica, que pertencem ao acervo do Museu Metropolitano de Arte de Curitiba, atualmente fechado para reforma.
  Dentre elas, destaca-se uma pintura de Jair Mendes que apresenta um recorte da última ceia, sendo a figura de Cristo seu destaque principal. E esta é a oportunidade de rever esta obra magnífica que surpreende no colorismo.
  Nascido em São José do Rio Pardo/SP, em 1938, Jair Mendes teve as primeiras noções de desenho quando sua família mudou-se para Jacarezinho, PR. Aos 12 anos, em Curitiba, começou o aprendizado de pintura, graças a seus pais que cedo perceberam seu talento.
  Também foi aluno de Thorstein Andersen, freqüentando, em 1953, o atelier de Alfredo Andersen, hoje o museu na Mateus Leme.
  Terminado o ginásio no Santa Maria, em 54, entrou na Escola de Música e Belas Artes do Paraná – EMBAP, onde Guido Viaro foi seu maior incentivador.
  Se, na EMBAP, o jovem Jair seguia as disciplinas programadas no calendário oficial, isto foi complementado pela orientação quase ou até literalmente underground que era oferecida pelo Centro de Gravura do Paraná, uma espécie de atelier livre que Nilo Previdi mantinha no subsolo do mesmo prédio e que ele também freqüentou. Bastava descer uns poucos degraus e a atmosfera, o discurso, o pensamento ideológico e os métodos de trabalho quebravam todo o arcabouço acadêmico que prevalecia na EMBAP.
  Em 1958, Jair graduou-se em Pintura, depois Didática de Belas Artes na Faculdade Católica de Filosofia em 59 e fez Licenciatura em Desenho na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade Católica do Paraná, em 1966.
  Como artista plástico, já em 1957, recebia Menção Honrosa no XIV Salão Paranaense, o que se repetiu no ano seguinte, mais Medalha de Bronze no XVI, seguindo-se uma série de destaques e prêmios. Dentre as individuais, se destacam: Biblioteca Pública do Paraná (1959, 65, 73); Galeria Cocaco (63); Departamento de Cultura/SEEC (72); MAC-PR (78); Galeria de Arte Banestado (86, 94); Clube Curitibano (96); Espaço Cultural BRDE (2005), todas em Curitiba; Stvdivs Galeria de Arte e Antigüidades (76) Rio de Janeiro; Cine Club La Quimera (87) Córdoba, Argentina; e em Joinville/SC, na Galeria Municipal de Arte Victor Kursancew (96); Galeria Monserrat (99) e Galeria Forum (2000).
  Atuando também como Professor e Orientador, foi Chefe de Departamento de Matérias Práticas da Faculdade de Educação Musical do Paraná – FEMP; Diretor do Centro de Criatividade de Curitiba; Diretor do Museu Guido Viaro de 1975 a 1988; Coordenador da Mostra de Gravura Cidade de Curitiba; Diretor de Ação Cultural da Fundação Cultural de Joinville/SC; Diretor do MAC-PR; Coordenador do Sistema Estadual de Museus – COSEM/SEEC e continua desenvolvendo intensa atividade como programador cultural, dividida com sua trajetória na arte – sua verdadeira vocação, que jamais pensaria em abandonar. Assim compensa o ganhar a vida com suas verdadeiras paixões: a pintura, o desenho e a gravura, como bem demonstram seus estágios entre 1979 e 80 realizados no Centre Georges Pompidou – Paris, e na Accademia di Belle Arti di Brera, Itália.
  Sua pintura forte e colorida não nasce num só momento; ela provém de uma intensa e trabalhosa fatura, na qual as cores são aplicadas, trabalhadas e re-trabalhadas, como se fora uma ligação íntima gerada entre o pintor e a obra.
  Entra aqui o tempo: depois das primeiras pinceladas, o artista encosta a pintura e somente após uns dias é que a retoma, até sentir que a obra está finalizada e que “a pintura rompeu o cordão umbilical com seu criador”.  
  Neste processo de mimese, o autor dá vida à sua obra – não só no sentido de criar a pintura, mas também na maneira como a constrói – configurando-a com as cores certas, as únicas que a tornarão viva, que a farão desabrochar, se destacar no cinzento do cotidiano.
  Sempre pintando á óleo, Jair declara que “Vida é cor” e que “Apenas o óleo permite trabalhar a pintura, pois é o meio mais expressivo para demonstrar a qualidade pictórica da obra”.  Ao mesmo tempo em que porejam cores, suas pinturas possuem um toque gráfico. As superfícies das tintas são ora separadas, ora salientadas por traços de tinta que, aplicados aqui e ali, vão compor um “sobre-desenho”, que acaba sendo incorporado às cores, unificando-as numa única e vibrante superfície.