João Urban

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O mais recente livro de João Urban, cujo lançamento se deu na semana passada no Museu Oscar Niemeyer, demonstra, mais uma vez, o amor do fotógrafo pelos rincões, paisagens e pessoas que habitam nosso Brasil.

  Intitulado “Mar e Mata – A serra, a floresta e a baía. Seus Homens e suas mulheres”, o livro tem como tema as questões humanas e sócio-ambientais que envolvem a Mata Atlântica desde a Serra do Mar até o litoral, englobando a orla da Baía de Paranaguá e os pequenos povoados e vilas destas regiões. Dividido em sete capítulos, com títulos que passeiam sobre as particularidades de cada aspecto abordado: A paisagem; A pesca artesanal; As vilas e as cidades; Os jovens e as crianças; As mulheres; O artesanato, o fandango e a Folia do Divino, a publicação reúne um total de 203 imagens.

  A apresentação é de Simonetta Persichetti e, além do texto do autor, há outro denominado “Território de contradições”, escrito por Teresa Urban.
  Por mais de 20 anos, o fotógrafo curitibano, nascido em 1943, vem documentando fotograficamente o litoral paranaense neste projeto iniciado em 1983.  Ao desenvolver este ensaio, João Urban foi coletando as séries de imagens que perfazem um registro não somente humano, social e cultural das comunidades, quanto mostram as diversas formas incipientes de economia e trabalho que ali existem, tais como a lavoura, a extração de madeiras, a pesca realizada artesanalmente, o fabrico de canoas e instrumentos musicais, os modos de construção de habitações, a cerâmica regional, o artesanato. Ele também fotografou eventos tradicionais das mesmas localidades, dentre os quais se sobressaem o fandango, as festas religiosas, as comemorações da história e da cultura que formam a narrativa deste povo.

  Apesar das incontáveis fotos já tiradas sobre a região, então colecionadas por mais de sete anos, a idéia de um livro só surgiu em 1990, quando o Sr. Nelson Galvão o procurou para documentar a fabricação de uma canoa, aproveitando a madeira de uma árvore da espécie Guapuruvu, atingida por um raio. Também chamada Baquerubu, esta árvore da família das Leguminosas, é ideal para fazer canoas.

  Assim, Urban explica a encomenda que dali em diante passou a direcionar sua atividade fotográfica na região: “O trabalho primoroso de Mestre Sebastião, desde a derrubada da árvore morta até a escultura precisa da canoa, determinou o meu envolvimento definitivo com o tema, além de me fazer tomar consciência, nas várias edições que fiz das fotografias, de um direcionamento que, intuitivamente, eu já vinha encaminhando, marcado pelo convívio da paisagem com seus habitantes, seus afazeres e trabalhos”.
  João Urban dedica-se à fotografia documental desde os anos 1960 e à publicitária desde 1977. Em termos de linguagem estético-artística, suas fotos revelam o olhar agudo que capta o momento exato do clic para que o resultado se constitua tal qual um recorte ou cena em que cada elemento está no lugar exato. Daí resulta uma obra de excelência.

  Urban já idealizou e produziu diversos livros, dentre os quais estão “Tu i Tam”, em 1984; “Tropeiros”, em 1992; “Aparecidas” em 2002 e “Bóias Frias”, publicado primeiro na Alemanha, em 84 e no Brasil, em 1988. Nesta coleção dos bóias frias, os instantâneos de crianças brincando e os retratos de pessoas simples do campo detêm uma grande qualidade icônica na composição que faz com que seja muito difícil delas fazer uma seleção de poucas obras. Sei disso porque trabalho em curadoria e já me vi frente a frente com suas fotos na tentativa angustiante de só poder escolher duas ou três querendo expor todas.

  Suas fotos são encontradas em acervos importantes de vários países, entre eles, o Museu Francês da Fotografia, em Biévres na França; o Kunsthaus de Munique, na Alemanha; o Museu de Arte de São Paulo (MASP), o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) e aqui no Museu da Fotografia Cidade de Curitiba (MFCC). O autor é, também, docente do curso de especialização “Fotografia e Imagem em Movimento” das Faculdades ESEEI e Instituto IDD.

  Voltando ao livro recém-publicado por Edições Águaforte, e que possui 208 páginas com capa dura, ele foi produzido com o apoio da Lei de Incentivo à Cultura do Governo Federal e patrocínio das empresas BRDE, VOLVO, DENSO, IMPRESS E BERNECK.