Até que Kandinsky, na primeira metade do século 20, subvertesse as artes plásticas por meio da arte abstrata, o figurativo dominava. E o que não fosse passível de ser interpretado ou entendido pelo público, através da narração ou da história apresentada numa pintura, desenho ou escultura, não existia. Na verdade, não é que não existia, mas não era detectado. Forma e conteúdo sempre existiram em qualquer obra de arte, porém ambos não eram nem percebidos nem analisados. O conteúdo se explica pela “história que a obra conta” – o seu aspecto anedótico, descritivo. E a forma, se traduz pelo “aspecto material-em-si da obra”, como as linhas, traços e cores na pintura.
Diferente da arte abstrata, na qual o conteúdo passa a ser a própria forma, a pintura figurativa de Frederico Lange de Morretes é única. Nascido em cinco de maio de 1892, em Morretes, Paraná e falecido em 19 de janeiro de 1954, em Curitiba, ele passou sua infância na Serra do Mar. Iniciou seus estudos de pintura com Alfredo Andersen, que percebendo o talento do rapaz, convenceu o pai a mandá-lo estudar na Europa. “Quando aluno de Andersen, foi considerado pelo mesmo como o melhor pintor paranaense”, segundo Maria José Justino no livro “50 anos do Salão Paranaense de Belas Artes”.
Em 1910, viajou para a Europa, onde aprendeu pintura em Leipzig, continuando a estudar na Escola Superior de Belas Artes de Munique, na Alemanha.
Retornando à Curitiba em 1920, abriu uma escola de arte e passou a ensinar desenho e pintura pelos 12 anos seguintes, tendo Oswaldo Lopes e Arthur Nisio como alunos.
Batalhou junto com João Turin e João Ghelfi para desenvolver um estilo artístico que fosse próprio do Paraná. Conhecido por “estilo paranista”, que abrangia também os aspectos arquitetônicos e decorativos, este movimento influenciou até o acréscimo do nome de sua cidade natal ao seu.
Se Kandinsky revolucionou a questão da forma e conteúdo através da arte abstrata, Lange de Morretes o fez por meio da arte figurativa. Isto acontece principalmente em suas marinhas, nas quais artista compõe superfícies constituídas não da reprodução de panoramas específicos do litoral, mas da tinta, na qual há vida própria. São telas vivas. Por mais que se queiram ver paisagens ali, elas são obliteradas frente à potência e vigor das pinceladas com que Lange as pintou.
Então, a matéria pictórica, independente do significado, é o item mais destacado das obras. Empregando toda a paleta colorista, suas cores refletem paisagens tão fantásticas que se tornam mais vívidas que a própria natureza, usada como desculpa para pintar. Nesta transmutação – equivalente à procura infinda dos alquimistas para transformar os metais comuns em ouro – é que se percebe a verdadeira criação, uma vez que a pintura passa a ter vida própria, competindo com sua fonte da inspiração.
O interessante é que Lange de Morretes era também um cientista, dedicando-se à Malacologia – nome dado ao estudo dos moluscos, sendo o descobridor de uma espécie nativa. Foi um dos fundadores da Escola de Música e Belas Artes do Paraná, onde lecionou Anatomia e Fisiologia.
Pintou mais de 500 obras e recebeu medalha de bronze no Salão Nacional de Belas Artes e medalha de ouro no Salão Paranaense de 1954, em homenagem póstuma ocorrida no ano de seu falecimento. Nestas obras, é inegável a influência do impressionismo, assim entre as paisagens reais e a sua apresentação como pintura, Lange criou sua arte.
O Museu de Arte Contemporânea do Paraná-MAC/PR informa que estão abertas até 23 de novembro as inscrições para os artistas interessados em expor na Sala Theodoro De Bona. Compõem o espaço, as três salas que têm sua entrada pela Rua Emiliano Perneta, com o primeiro espaço se definindo como um local de apresentação, seguido por outra sala pequena que constitui um preâmbulo para obras de maiores dimensões a serem expostas na sala grande que tem mais de 70m2.
A comissão de seleção das propostas será constituída pelos membros do Conselho Consultivo do MAC-PR e as exposições deverão ser realizadas a partir de março de 2010.
Intitulado “Artistas Contemporâneos na Sala Theodoro De Bona”, o programa visa incentivar a pesquisa, promover e divulgar a arte da atualidade, como diz o edital.
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