Continuando o comentário sobre a obra atual de Larissa Franco, além da arte islâmica em que é mestra e que fundamentou quase todo seu trabalho até aqui, a artista também aprofundou seus estudos sobre a Art Nouveau. Este movimento que surgiu em fins do século 19 e que valorizava a linha em sua essência destacava a denominada “curva em chicote” em quase todas as suas manifestações.

Não é de admirar que Larissa tenha se voltado para a Art Nouveau, uma vez que esta tem muita coisa em comum com a arte islâmica. Desenvolvidas em vertentes diferentes, ambas valorizam os traçados sobre os demais formatos.
Não posso deixar de mencionar que a família da artista é proveniente da Rússia e há um aspecto particular da arte russa que normalmente não é muito enfatizado. Trata-se da verdadeira origem da arte daquele país que é geralmente esquecida, haja vista a história do país a partir da revolução de 1917 – aquela que derrubou o czar Nicolau II e deu origem à URSS/União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.

Ao longo de sua história a Rússia passou por inúmeras e drásticas mudanças, porém sua origem – que não pode ser esquecida – é que ela descende, por assim dizer, diretamente do Império Romano do Oriente, que tinha sua principal cidade em Constantinopla e seu maior edifício na Basílica Santa Sofia que mais tarde virou mesquita.

Os modos de construção, a arquitetura e os ricos motivos decorativos da arte bizantina que estão presentes no Kremlin, por exemplo, subiram – estou falando geograficamente – em direção ao norte quando o Czar Ivan, o Terrível enviou seus emissários à Constantinopla com a finalidade de trazer a opulência do Oriente para a corte russa, uma vez que até aquela época aquele vasto território não conhecia a ostentação.

Além da nobreza rica e pouco numerosa, a grande maioria da população era constituída de simples e rudes campesinos, cuja síntese pode ser encontrada na figura do monge Rasputin. Este foi o maior responsável pela queda de Nicolau II, aliado às desastrosas conseqüências da Primeira Guerra Mundial somadas à doença do Príncipe Herdeiro Aléxis. Ele sofria de hemofilia e era tratado por Rasputin – o único que conseguia estancar o sangue não coagulado da criança através de preces ou da persuasão.

Voltando à Art Nouveau, sua principal fonte era a natureza e particularmente o mundo das plantas. Por isso, muitos dos seus grandes artistas estudavam e possuíam grande conhecimento de botânica. Flores, sementes, orquídeas e folhas eram esmiuçadas detalhadamente e se transformavam em arte cuja base era a pureza das linhas.
Não podemos esquecer que a Art Nouveau foi uma arte total no sentido que abrangia todas as manifestações artísticas desde arquitetura até joalheria, passando por utilitários como mobiliário, utensílios, luminárias, os quais somados à internacionalização através de uma série de movimentos similares que se espalharam rapidamente pelo mundo apontavam para uma era de modernidade diferenciada.
 Outro de seus fundamentos era o reino animal, sendo a libélula o símbolo do movimento que teve sua origem na França, mais especificamente Paris e Nancy – reconhecível pelo nome francês, porém com antecedentes na Inglaterra. Diversas cidades da Europa como Munique, Berlim e Darmstadt na Alemanha, Bruxelas na Bélgica, Barcelona na Espanha, Viena na Áustria, passaram a desenvolver sua própria interpretação do estilo que também cruzou o Atlântico e desembarcou no Brasil com o nome de Arte Nova, além do estilo “Liberty” nos Estados Unidos da América.

Larissa cita os desenhos de William Morris do movimento inglês “Arts and Crafts” como outra de suas fontes de pesquisa, uma vez que se aproximam dos padrões do grafismo árabe na distribuição espacial.
Esta configuração pode ser percebida na litografia “Aipoméia”, que ilustra esta coluna, que reflete numa linguagem artística atualizada certas características não somente da “Art Nouveau” bem como do movimento “Arts and Crafts” somados à fundamentos da arte árabe.
As gravuras da artista estarão expostas na Casa Andrade Muricy a partir do dia 17 de dezembro (Alameda Dr. Muricy, 915 Curitiba. Fone: 41-3321.4798).