Luiz Carlos Brugnera

Nilza Procopiak

Muitos me perguntam o papel do talento na formação do artista plástico
e respondo que esta pode acontecer sem o talento, pois os cursos são
abertos para os interessados, não necessariamente talentosos. Porém, o
talento pode prescindir da formação específica em artes visuais e Luiz
Carlos Brugnera é um exemplo de artista autodidata. Tenho um certo
temor à palavra autodidata pois na maioria das vezes se mostra ligada a
artistas cujas linguagens beiram do primitivo ao ingênuo.

Entretanto, devo ressaltar que ter aprendido por esforço próprio, como
é o caso de Brugnera, revelou um dos mais talentosos artistas que
conheço, trabalhando totalmente integrado à arte contemporânea e aos
conhecimentos que ele buscou por própria conta. Comprovado pelo fato de
que, quando surgiu no horizonte artístico, Brugnera arrebatou todos os
prêmios dos salões contemporâneos em que participou e que não foram
poucos. Totalizando 30 premiações de 1994 a 2006, ele foi o mais
premiado artista plástico contemporâneo deste período, deixando para
trás muitos concorrentes com formação institucional.

No próximo dia 18 de outubro, às 19h, tem lugar no Museu  de Arte da
Universidade Federal do Paraná/MusA, o lançamento de um livro sobre a
trajetória do artista, com textos de diversos críticos de arte,
incluindo Fernando Cocchiarale.  A publicação é mais um produto do
Instituto Paranaense de Arte/IPAR, sob a coordenação de Luiz Ernesto
Meyer Pereira e Luciana Casagrande Pereira. (Museu  de Arte da
Universidade Federal do Paraná/MusA, Prédio da Praça Santos Andrade,
entrada pela Rua XV de Novembro, 1° andar).

Partindo do desenho de observação, Brugnera desenvolveu uma antologia
de formas que associa o hiper-realismo ao surrealismo, não somente
alterando os elementos da realidade, como também elevando-os a outro
nível: o da recriação. Assim, num certo sentido, ele transforma sua
temática em arte, fazendo com que objetos corriqueiros alcancem um novo
patamar, num processo de deslocamento que pode ser comparado ao que
ocorreu com os objets trouvées de Duchamp. Estes adquiriram status de
arte ao serem expostos nos museus, porém, os trabalhos de Brugnera não
se equivalem literalmente aos de Duchamp.

As formas do nosso artista são trabalhadas através da recriação, sendo
o deslocamento efetuado mais sutilmente e de um modo um tanto irônico,
quer nos desenhos, por meio da captação de uma extrema verossimilhança
do real que é sabotada no seu final pelo estranhamento, quer na
recriação incompleta dos objetos, que, por algum pormenor ou uso de
material insólito, trans-forma seu projeto da casa em significados
diferentes dos da realidade. Portanto, a recriação faz com que seus
trabalhos se tornem arte.

Não há dúvida que isto também é um jogo, pois as alterações que o
artista nos propõe pelo deslocamento não são radicais, e sim, mínimas.
Dependendo do olhar e do repertório vivencial, o espectador pode ficar
na superficialidade que, mesmo assim, a obra o levará ao encantamento
pelo aspecto formal ou pode mergulhar no trabalho do artista, dele
retirando elementos muito mais profundos.

É preciso notar que, além de deslocamento, o artista explora o apolíneo
na questão estética,  apresentando um trabalho clean, de fatura
impecável e resumido às formas essenciais.

Na verdade, mesmo na bidimensionalidade do desenho, o processo criativo
de Brugnera é proveniente da construção. Isto é, ele está sempre
construindo, trabalhando com o elemento concreto, físico, seja no
desenho, seja nas partes da casa, ou em outros projetos que desenvolve.

Porém, o que é aqui chamado de construção não se restringe ao desenho
das formas feitas de modo a se tornarem reconhecíveis, figurativas ou
simbólicas, satisfazendo o olhar do fruidor e a anseio criativo do
artista. Não, não é este o desejo de Brugnera. Ele tem um objetivo
muito maior em mente: sua construção não é limitada ao resultado formal
apresentado pela obra pronta. O artista mergulha profundamente na
execução do tema e por isso o seu processo criativo é tão importante.
Logo, a construção em suas obras se dá no momento da materialização,
quando aquelas formas são produzidas por meio do acréscimo matérico.

Marinês Takano Omomo, do Espaço Cultural Banco Central em São Paulo,
informa que o período de inscrição para exposição em 2008, naquele
local, é de 15 a 19 de outubro e o regulamento está no site
https://www.bcb.gov.br/htms/museu-espacos/regulamento2008.rtf