É interessante como, às vezes, acabamos esquecendo de fatos que significaram grandes mudanças em nossa vida. Atitudes e comportamentos são tão integrados à nossa maneira de ser que nem nos lembramos o que os motivou. Isto ocorreu recentemente comigo, ao iniciar uma pesquisa sobre o artista plástico Luiz Carlos de Andrade Lima.
Era o início de minha adolescência e eu era absolutamente obcecada por arqueologia, o que acreditava viria a ser minha profissão. Assim, lia  tudo o que aparecia sobre o tema, passava muito tempo na biblioteca do colégio lendo brochuras empoeiradas escritas com ph no lugar de f que ninguém tinha lido, pois ainda continham páginas duplas que precisavam ser cortadas.  A única arte que me interessava era a do passado remoto: Egito, Babilônia, Grécia, Etrúria, vislumbradas nas pouquíssimas e indistintas ilustrações reticuladas em preto e branco que permeavam os livros de capítulo em capítulo.
Morando em Curitiba, retornei, por poucos dias, à Ponta Grossa, cidade onde nasci. Lá, na casa de uns parentes me vi frente a uma obra de arte que me chamou a atenção. Na sala de jantar estava pendurado um desenho impressionante: eram figuras traçadas em preto e marrom, bem destacadas sobre o fundo branco do papel e que prenderam minha atenção durante todo o almoço. Interessante que o desenho também contrastava com a decoração, bem mais acomodada aos padrões elegantes e discretos da época. Ainda me lembro que perguntei sobre o autor e minha prima me disse que seu pai tinha comprado o desenho em Curitiba, de um artista que desenhava tudo “neste mesmo estilo”.
Aquela foi a primeira obra de arte moderna que vi. E – hoje eu sei – era uma obra expressionista do Andrade Lima.  Dali em diante, comecei a me interessar e me vi tão envolvida por arte, em estudos e trabalho, que até tinha esquecido a influência de seu desenho – origem de tudo.   
Andrade Lima nasceu em 1933, em Curitiba e faleceu nesta mesma cidade, em 1998. Teve seus primeiros contatos com o desenho e a pintura por volta dos oito anos de idade. Logo após concluir o segundo grau, começou a se dedicar profissionalmente à pintura.
Cursou a Escola de Música e Belas Artes do Paraná e fez Didática de Desenho na PUC/PR. Firma-se como artista figurativo expressionista, corrente que não mais abandonaria. Os temas de suas obras são diversificados, com ênfase para os religiosos e os sociais. São figuras do povo, gente simples das ruas e praças, figuras de Cristo, de São Francisco, bares, mulheres da noite, todos sempre em harmoniosa convivência.
Pintor, desenhista, gravador, escultor, ilustrador, poeta, foi também professor de várias faculdades de arte. Em 1980, funda a “Andrade Lima Galeria e Escola de Arte”, pela qual passaram milhares de alunos.
Dois anos depois, entusiasmado com a arte religiosa, pintou a “Via Sacra” e a ofereceu à Igreja da Ordem Terceira de São Francisco das Chagas, em Curitiba.  Com uma trajetória brilhante na arte paranaense, o artista, além das inúmeras exposições individuais que realizou e coletivas que participou, foi muitas vezes premiado. Entre as premiações, destacam-se: VI, VII e IX Salão da Primavera – Clube Concórdia, respectivamente 1º Prêmio em Gravura (1953), 3º Prêmio em Pintura (1955) e Prêmio Especial (1957); XI Salão de Belas Artes da Primavera – Prêmio Aquisição Banco Inco (1959); IX, XV, XVI, XX e XXI Salão Paranaense de Belas Artes, respectivamente Menção Honrosa (1952), Prêmio Aquisição em Pintura (1958), Medalha de Ouro (1959), Medalha de Bronze em Gravura e Prêmio Aquisição Hermes Macedo (1963) e Prêmio Aquisição Centro Juvenil de Artes Plásticas (1964); I Salão de Artes Cidade de Curitiba – Prêmio Especial em Pintura (1965); VI Salão de Arte Religiosa Brasileira – Prêmio Londrina 40 (1974); Troféu Montepar – Personalidades de 1976 – Pintor do Ano (1976); Círculo Militar do Paraná – Prêmio Homenagem Hors-concours (1989); Salão Religioso da PUC/Pr – Prêmio Distinção Especial Hors-concours (1989).
Em 1993, Luiz Carlos de Andrade Lima foi agraciado com o “Prêmio Cidade de Curitiba 300 anos – Melhor Pintor” e no ano seguinte recebeu sua consagração máxima, sendo homenageado pelo governo do estado como “Cidadão Benemérito do Paraná”, em agradecimento à sua obra como artista e mestre.
Ver site: www.andradelimaarte.com.br