Nem se discute que o nome do momento na pintura é Miguel Bakun, principalmente depois da sua exposição aberta nesta semana na Casa Andrade Muricy. (Al. Dr. Muricy, 915 fone 41-3321-4786.Informações: www.cam.cultura.pr.gov.br ).
De parabéns estão Eliane Prolik e seus colaboradores que apresentam esta seleção de 54 obras, que espelham não somente o talento do pintor quanto a homenagem que a cidade estava lhe devendo por tantos anos em meio ao ostracismo.
Digo assim porque, apesar das exposições em que suas pinturas estiveram presentes, até aqui o artista ainda não tinha recebido uma maior atenção como a que resultou na mostra intitulada “Miguel Bakun: A Natureza do Destino”.
Comemorativa aos cem anos de nascimento, em 1909, do artista paranaense que faleceu em 1963, a exposição é resultado de um projeto que não se limitou à apresentação de suas obras, pois surgiu acompanhado de intensas pesquisas e de um primoroso livro. Com idêntico título, a publicação possui 112 páginas e cerca de 60 imagens das obras, quatro ensaios críticos, cronologia, cronologia post-mortem e referências sobre seu trabalho. Os textos são da artista e organizadora do projeto Eliane Prolik; Ronaldo Brito, crítico e doutor em história da arte; Artur Freitas, crítico e historiador da arte, e de Nelson Luz, um dos primeiros críticos paranaenses que, tendo convivido com Bakun, lhe dedicou um ensaio, em 1976.
O projeto iniciou em 2000, com a monografia de Eliane Prolik de título igual ao da exposição, orientada por Ronaldo Brito, em pós-graduação em História da Arte do Século 20, na EMBAP-PR. “Venho trabalhando há aproximadamente uma década e acredito que este projeto poderá dar maior visibilidade e entendimento à produção de Miguel Bakun, inserindo-a na arte moderna brasileira” diz Eliane.
A mostra abrange 30 anos de produção de pintura, de 1930 a 1963, incluindo alguns desenhos – modalidade artística pouco conhecida de Bakun, que era essencialmente um pintor autodidata, por seu talento e livre escolha.
Filho de imigrantes eslavos, ele entra na Escola de Aprendizes da Marinha, em Paranaguá, em 1926. Dois anos depois é transferido para a Escola de Grumetes do Rio de Janeiro, aonde veio a conhecer o marinheiro – e artista ainda desconhecido – José Pancetti (1902 – 1958).
Influenciado por Pancetti, ele começa a desenhar, principalmente nos diversos períodos em que precisa ficar de repouso por causa de acidentes. Em 1930 é desligado da Marinha por incapacidade física, por uma queda do mastro de navio. Volta a Curitiba, onde trabalha como fotógrafo ambulante.
Então, inspirado por Guido Viaro e João Baptista Groff, começa a pintar. Volta ao Rio de Janeiro em 1939, reencontra Pancetti e pinta paisagens, porém diante das dificuldades de viver da pintura, retorna a Curitiba e monta um atelier em prédio cedido pela prefeitura. Passa a conviver com artistas avessos ao academismo, como Alcy Xavier, Nilo Previde e Loio-Pérsio, o que lhe propicia um maior conhecimento de sua própria pintura.
Entusiasmado com o que aprende e apreende ao observar os demais artistas, mergulha nas tintas e ao ser comparado com Van Gogh, tanto na pintura como no temperamento depressivo/melancólico.
O primeiro a fazer esta comparação foi Sérgio Milliet, em 1948, ressaltando também sua falta da noção da tela como um todo, além de um empastamento excessivo. Porém, ele escreve que “o entusiasmo do pintor, sua participação intensa na obra tornam, entretanto, simpáticos os seus próprios defeitos”.A década de 50 é a mais produtiva de Bakun pintando retratos, marinhas, paisagens dos arredores simples de Curitiba. No final da década, certo misticismo animista que ele já vinha manifestando em sua arte, passa a ser mais visível em meio a cenas realistas. As paisagens nas quais as árvores parecem feitas com corpos de animais se transformam em estranhas criaturas. No início de 1960, pinta obras religiosas e sente-se marginalizado e depressivo com o abstracionismo, além de sua precária situação financeira. Em fevereiro de 1963 suicida-se em seu atelier.
Meus cumprimentos também para Lenora Pedroso e sua equipe da Casa Andrade Muricy, Lucy Amélia Salles, Eliane Aleixo e Rodrigo Ferreira Marques.