A cada dia que passa, nossos artistas estão vencendo barreiras e levando sua arte para o exterior. E me alegro muito com isso, porque sempre incentivei e continuo incentivando a saída deles daqui. Fico feliz quando um artista talentoso, como Marlon de Azambuja, vence lá fora. Lembro-me das nossas conversas, nas quais o assunto, além de artes visuais, era minha insistência para ele ir à Europa ou Estados Unidos.
Visto assim, parece que trabalho ao contrário do que deveria ser. Talvez meu incentivo fosse para que o artista talentoso permanecesse por aqui. Porém, sei que se o artista ficar, ele vai cansar de lutar pela sua arte, principalmente se lida com arte contemporânea, e obrigatoriamente chegará a um ponto em que vai se ver frente à uma decisão que já matou muitos talentos locais. À luz deste fato, ou ele/ela renuncia à sua arte, escolhendo uma linguagem artística que responda aos requisitos dos – mesmo assim – poucos compradores de arte tradicional e vira professor/a; ou continua em sua arte que não lhe dará sustento e, muito menos, prosperidade econômica. Desnecessário dizer que todos nós precisamos viver e isso custa dinheiro.
Esta situação se deve ao fato que infelizmente não temos mercado de arte e esta é uma constatação, não é uma mera hipótese não comprovada. Alguns raros compradores de arte contemporânea, ainda por cima, preferem artistas de renome nacional e internacional, provenientes dos grandes centros, onde há muito mais incentivo e condições para o artista se realizar como criador de arte e pessoa humana valorizada em seu trabalho.
Tudo que escrevi é preâmbulo – infelizmente verdadeiro – para falar que mais alguns artistas que estão levando suas obras de arte para o exterior. André Serafim, Antonio Temporão, Beni Moura e Marcel Fernandes abriram, no último dia 22, uma exposição na Galeria de Arte da Casa do Brasil, em Madrid, Espanha. A mostra não somente se constitui numa grande oportunidade de apresentar parte da arte contemporânea paranaense aos espanhóis, como também, pelo fato da galeria estar localizada na Cidade Universitária, iniciar um diálogo com todos os freqüentadores, principalmente com os estudantes de arte.
André Serafim exibe o cenário das grandes cidades e suas implicações da solidão e dos momentos introspectivos da alma. A obra “The room” – um conto de amor para Ennelis” é composta por 40 fotografias experimentais que misturam o desenho, a imagem digital e os animés, em seus aspectos formais e conceituais.
Na instalação “O Vazio que Dói”, que é composta por três objetos tridimensionais, com dimensões indo de 1,70m a 3m, Beni Moura elabora, através de tecidos e do uso de terra, as questões da existência, do grande drama da perda, da morte e também, porque não dizer, do sonho. A terra, matéria prima por excelência, é transformada em linguagem estético-artística.
Marcel Fernandes, em sua proposta “ocupAÇÃO”, apresenta uma série fotográfica na qual o corpo interage com os espaços não habitáveis.
E no conjunto de 23 fotografias em PB, Antonio Temporão cria novas visualidades explorando diversos aspectos líricos das imagens nas quais dispensa o uso das cores. A poética do artista fotógrafo se divide igualmente entre o modo de captar as imagens com a câmera e os motivos que são seus temas. No clique certeiro e equilibrado da foto desejada e alcançada, Temporão resolve esteticamente uma série de questões concernentes ao estudo da fotografia, como luminosidade, enquadramento, tempo de exposição e, principalmente, o aspecto sensível que sua fotografia sempre revela.
O “Ciclo de Conferências e Debates 2008”, do SESC da Esquina, apresenta amanhã, dia 27, Hélio Guimarães em “Machado de Assis, o escritor que nos lê” e dia 28, Jorge de Almeida em “Música, literatura, filosofia…e um pacto demoníaco. Dilemas da arte moderna no Doutor Fausto, de Thomas Mann”. Ambos os palestrantes são doutores da USP. Hélio também é escritor, e ganhou o Prêmio Jabuti de Crítica/Teoria Literária em 2005, com o livro “Os leitores de Machado de Assis – O romance machadiano e o público de literatura no século 19” (Ed. Nankin – Edusp, 2005). Jorge também é tradutor, crítico literário e autor de “Crítica dialética em Theodor Adorno” (Ateliê, 2007) e ensaios sobre teoria crítica, modernismo e vanguardas. Às 19h, com ingressos à venda no local. (Visconde do Rio Branco, 969 fone 41 3304-2222).
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