Nova galeria de arte contemporânea

Nilza Procopiak/Especial para o JE

Quem me acompanha desde o início desta coluna, sabe meu ponto de vista
a respeito da ausência de mercado de arte em Curitiba. Em minha
opinião, trata-se de uma questão cultural. E todos sabemos o quão
difícil é lutar contra isso.

Curitiba nasceu pobre e assim continuou por muito tempo: do garimpo do
Arraial do Atuba, depois Vila de Nossa Senhora da Luz e do Bom Jesus
dos Pinhais de Curitiba, também como parte integrante da Província de
São Paulo, aqui se desconhecia a vida de corte das capitais dos reinos
de D. João VI e D. Pedro I. Permanecendo na economia de subsistência,
apesar dos ciclos da extração do ouro e dos tropeiros no Paraná,
somente na segunda metade do século passado, com a erva-mate, foi que
Curitiba passou a ostentar uma riqueza incipiente.

Possuímos raros casarões enormes iguais aos que sobreviveram em outras
cidades brasileiras: Solar do Barão do Serro Azul, Solar do Rosário são
alguns dos poucos. E neste caso não é o progresso demolindo edifícios –
não os temos porque não foram construídos.

Foi somente em 1880, quando da promessa da construção da ferrovia
Paranaguá-Curitiba, que Curitiba finalmente recebeu a visita de um
imperador, o liberal D. Pedro II, que não pode ser considerado um
monarca nos moldes tradicionais da realeza.

O despertar da cidade teve lugar a partir desta obra maior da
engenharia brasileira, que viria substituir o precário transporte
através da Serra do Mar. Digo Paranaguá-Curitiba porque naquele tempo a
cidade litorânea era muito mais importante que nossa capital.

Com o aumento da população devido à crescente vinda de imigrantes no
início do século e o estabelecimento de fábricas e pequenas indústrias,
nossa cidade começou a se desenvolver.

Mas quem veio para cá?

Nossos antepassados, que vieram para substituir, num sentido lato, a
mão de obra escrava abolida em 1888. E nossos antepassados eram pessoas
que já possuíam raízes artístico-culturais. Por isso mesmo, seus filhos
tiveram uma relativa educação nas artes, ao mesmo tempo em que eram
introduzidos num sistema de vida levado à base da parcimônia e
poupança. Afirmo que é uma questão cultural não haver mercado de arte
em Curitiba porque os povos que vieram para cá eram simples e
previdentes em essência. Assim, a pergunta e conseqüente resposta que
os vejo fazendo seriam: — “Por que eu vou gastar comprando um quadro se
o meu filho Joãozinho pinta que é uma beleza? É melhor economizar para
tempos mais difíceis.”

Portanto, o caminho natural do artista plástico de fazer e vender nunca
existiu aqui. E, mesmo agora, continua sendo difícil, exacerbado a
partir da arte contemporânea que exige do comprador sensibilidade,
conhecimento de história da arte e até local específico para obras em
grandes dimensões.

O pouco mercado de arte que há é justamente aquele em que a exceção
confirma a regra. Nós não temos a tradição de comprar arte, do mesmo
modo que não temos o costume de patrociná-la. Não há mecenas em
Curitiba; existem uns poucos colecionadores que apostam no garantido:
artistas brasileiros já reconhecidos internacionalmente. E aqui aparece
outro grande empecilho: falta de patrocinadores dispostos a apostar em
nomes novos. E há nomes novos expressivos na arte contemporânea
paranaense?

A resposta é totalmente positiva, pois temos muitos artistas
desenvolvendo excelentes pesquisas em linguagens altamente
representativas que precisam de uma oportunidade para mostrar seus
trabalhos.

Felizmente para nós aparece agora o Aldo Neto, amante e conhecedor das
artes visuais, que percebeu o filão escondido que temos aqui. Vindo do
Rio de Janeiro, estabeleceu na Rua Visconde do Rio Branco, 1358, um
novo escritório de arte contemporânea denominado “just.gallery”. Ali,
na  próxima quarta-feira, dia 29 de novembro, às 20h, abre a exposição
coletiva de Adelina Nishiyama, André Malinski, Cida Lemos, Claudia de
Lara, Edilson Viriato, Geraldo Zamproni, Odilon Ratzke, Sandra Hiromoto
e Irani Spiacci, cuja pintura em acrílico ilustra esta coluna. Confira
no site: www.justgallery.com.br