Portrait em exposição

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Portrait, palavra francesa usada para denominar o retrato, é utilizada internacionalmente para esta categoria de fotografia. Na acepção da palavra são mais próximas do entendimento tradicional do que consiste um portrait aquelas fotos tiradas em estúdio. Assim, elas implicam em certos procedimentos prévios – chamados de produção – para levar a efeito o ato fotográfico. Então, os retratados – geralmente personalidades, artistas, atores ou modelos, que podem ser famosos ou não, uma vez maquiados, penteados e vestidos – serão destacados por iluminação especial, por truques de postura para evitar ângulos ou sombras desfavoráveis. E principalmente, vão ser incentivados pelo próprio fotógrafo que orienta suas poses e salienta os aspectos positivos dos retratados ao longo da sessão fotográfica. Enfim, explorando ao máximo uma série de pontos positivos para alcançar o resultado pretendido, surgem fotos comparáveis a todas aquelas imagens cenográficas que vemos nas revistas, sejam elas de atualidades ou de moda.
  Entretanto, o termo portrait também pode ser aplicado em maior abrangência, devido principalmente à qualidade estético-artística inerente aos trabalhos dos grandes fotógrafos. A partir desta premissa seletiva, qualquer foto que retrate pessoas, uma vez clicada no momento exato, pode ser denominada portrait.
O estudo artístico-estético da fotografia – e ela mesma – pode ser dialeticamente dividido em duas vertentes, uma abordando aspectos relativos à documentação e a outra favorecendo a criatividade, porém, não excludentes. Entretanto, mesmo esta livre dicotomia que permite inserções de mão dupla no território uma da outra, não consegue dar conta do universo de significações inserido numa foto e, mais especificamente, no âmbito dos retratos.
Além do que se pode chamar de documento visual do retratado, que é definido através de fatores como gênero, idade, peso, altura, roupas, acessórios que o acompanham, existem outros dados que uma foto tem condições de fornecer objetivamente ao olhar.     Mesmo reduzida ao mínimo de informações – pois o portrait sempre terá como alvo principal o retratado – o enquadramento, a luz, o local, também demonstram ou sinalizam partículas informativas que nosso cérebro apreende em questão de segundos. 

Um outro aspecto da fotografia é que ela sempre irá refletir características próprias da época em que foi tirada. Já comentei em colunas anteriores que uma fotografia denota – senão imediatamente, mas após breve análise – quando foi tirada.
O mesmo acontece no cinema: basta comparar uma artista no papel e indumentária de Cleópatra para – através de pequenos índices ou sinais, como penteado, fantasia, maquiagem, expressão facial, gestual – determinar ao menos a década em que tal filme foi feito. É óbvio que, para isso, quem olha precisa ter repertório visual, isto é, conhecer e/ou ter capacidade de distinguir uma Cleópatra filmada nos anos 20, da estrelada por Liz Taylor em 1963, com direção de Joseph L. Mankiewicz.

Entretanto, ao contrário da especificidade requerida acima, as fotos são facilmente discerníveis em níveis mais elementares correspondentes ao período da vida de quem as olha. Aí se pode comparar mais facilmente porque as referências são conhecidas e se tornam fáceis.  Contraposto à foto de estúdio e ampliando, nesta análise, o conceito do portrait, há o instantâneo, cujo nome já define aquele clic disparado num segundo e que pode conter, do mesmo modo, fotos que apresentam espontaneamente todos os requisitos citados acima. Obra do acaso em grande parte – e também do insight do fotógrafo em não perder a chance de fotografar, o que representa estar sempre preparado para aquela foto que pode surgir do nada – o retrato instantâneo contraria todos os requisitos comentados até aqui, pelo simples fato de ser imediato.

Sobre “Portrait”, abre no Museu da Gravura Cidade de Curitiba, às 19h de 13 de maio, próxima quarta-feira, uma exposição que apresenta fotografias do Acervo da Fundação Cultural de Curitiba. Com minha curadoria, a mostra abrange 32 fotógrafos e aborda não somente esta classificação, senão todas aquelas fotografias em que uma pausa acontece e o olhar do fotógrafo – em primeiro lugar – e depois o do público percebem, num átimo de tempo, todo o contexto que envolve retrato e retratado até mesmo quando este está apenas insinuado.