Prata em Design

Nilza Procopiak

 Metal precioso conhecido desde a Antigüidade, a prata já era mencionada no livro da Gênese e trabalhada no quarto milênio antes de Cristo, como indica a análise de ruínas em sítios arqueológicos na Ásia Menor e nas ilhas do mar Egeu. Por milênios, ela foi usada como ornamento, material para utensílios, nas trocas comerciais e como base para muitos sistemas monetários a partir de 700 a.C.

A reunião de dois itens de excelência – a prata e design italiano de peças – tem como resultado uma magnífica exposição de prataria aberta às visitas no Memorial de Curitiba (Rua Dr. Claudino dos Santos, s/n – Setor Histórico, fone: 41 3321 3263). Todas as peças são pertencentes à Fundação Sartirana Arte que possui uma coleção de objetos em prata, única no mundo pela sua quantidade – mais de duzentas mil peças – e pelo talento dos designers e das empresas produtoras pertencentes ao período do ouro do design italiano, que vai de 1970 até o final do século 20.Mas esta exposição é diferente, ela foi proposta pelo Comitê Científico da Fundação Sartirana Arte como um modo de estudar as décadas precedentes, isto é, os anos 50 e 60.  Neste período, alguns artesãos-artistas, com grande audácia e coragem empresarial, começaram a produzir objetos em prata de linha pura para o consumo, eliminando as tipologias ditadas pela moda do momento. Isto motivou o estudo da produção de design nos 20 anos pós-Segunda Guerra Mundial, considerada hoje como um período de renovação, reestilização e confiança no futuro.  Porém, uma vez iniciada, a pesquisa que estava sendo feita através de documentos fotográficos de arquivo não se limitou aos anos 50 e 60, aprofundando-se nas raízes do design e acabando por voltar às suas origens, isto é, ao início do século 20.“Enquanto o arquivo fotográfico e o de documentos continuavam a se enriquecer, aumentava a necessidade de documentar esse período da história da prata italiana com exemplos concretos, isto é, objetos que pudessem ilustrar a progressiva evolução que narram os especialistas” são as palavras de Giorgio Forni, diretor da instituição.Segundo Giorgio, a pesquisa dos vários objetos nos diferentes antiquários e lojas foi apaixonante e indispensável para o entendimento do renascer da prataria italiana contemporânea. Na exposição podem ser vistos componentes de baixelas de prata tais como bules, açucareiros, leiteiras, junto a bandejas, travessas, castiçais, vasos e outros objetos. Todos eles mantêm uma qualidade em que a estética das linhas se complementa com a questão semi-artesanal da prata trabalhada por amor à arte e fabricada em séries restritas. São objetos tais como um carro de Pininfarina, em que o utilitário se une tão visceralmente à forma que o conjunto não pode ser concebível de outro modo, senão uno. Estão presentes peças dos designers italianos: Franco Albini, Sergio Asti, Mario Botta, Andrea Branzi, Michele De Lucchi, Gabriele De Vecchi e Piero De Vecchi, Olga Finzi Baldi, Ugo La Pietra, Vico Magistretti, Angelo Mangiarotti, Alessandro Mendini, Antonio Piva, Paolo Portoghesi, Ambroglio Pozzi, Daniela Puppa, Claudio Salocchi, Roberto Sambonet, Carlo Scarpa, Giotto Stoppino, Matteo Thun, Carla Venosta, Marco Zanini e Massimo Zucchi, além de trabalhos do norte-americano Peter Shire e do suíço Ettore Sottsass Jr.  Ilustram esta coluna os objetos de Afra e Tobia Scarpa. Formados em Arquitetura em Veneza, Afra e Tobia trabalham juntos desde 1957. Concebem e organizam restauros de edifícios, obras arquitetônicas, de desenho industrial e de interiores. Colaboram com a Benetton, para a qual criaram a primeira e famosa fábrica na cidade de Ponzano. Sua obra se apresenta essencialmente como anti-intelectualista, anti-ideológica e anti-dogmática. Efetivamente, ela nasce da convicção de que nada em design seja território já conquistado, devendo o produto se endereçar às coisas em si, com o objetivo principal de “produção de objetos” antes mesmo que as formas ou as funções sejam definidas. Em prata e vermeil – do francês: revestimento dourado da prata ou prata dourada – as peças trabalham o contraste tanto nas cores do metal, quente e/ou frio, quanto no acabamento que destaca o inusitado das formas.