Nascido em Gentilly, perto de Paris, em 1912, e falecido em 1994 na capital francesa, um dos maiores nomes da fotografia mundial, Robert Doisneau era formado em litografia. Foi em 1929, com 17 anos, que ele começou a lidar com fotografia no sentido autodidata.
A carreira de fotógrafo teve início quando, em 1934, ele foi contratado como funcionário pela fábrica dos automóveis Renault, situada em Billancourt, trabalhando nos setores industrial e de publicidade para fotografar o cotidiano da indústria e suas atividades. Após cinco anos, saiu em 1939, decidido a ganhar a vida como fotógrafo independente, objetivo não alcançado imediatamente devido à Segunda Guerra Mundial iniciada na Europa. Serviu o exército até 1940, ano em que entrou para a Resistência, enquanto continuava a registrar em postais os aspectos e cenas da época.
Dois anos após o término da guerra, Doisneau assinou contrato com a revista de moda Vogue, na qual desenvolveu um trabalho que mesclava seu olhar estético e analítico aos
ditames mais fúteis e passageiros do vestuário e das personalidades retratados. Ali, suas fotos já denotavam a qualidade que o destacaria como um dos grandes fotógrafos do século 20, pois ultrapassavam o registro de fotos de moda, apesar de que estas também exigem muito dos fotógrafos.
Entretanto, sua permanência na Vogue, não lhe afastou do que o fotógrafo considerava como sua mais importante função: a fotografia das pessoas comuns da rua. E vai ser na “fotografia de rua” que Doisneau passa a registrar o cotidiano da vida parisiense, em sua produção meio dividida em dois aspectos. Assim, vem a se definir a linguagem pessoal do fotógrafo: entre marcantes instantâneos e excelentes fotografias que não podem ser chamadas literalmente de fotos posadas, porém detém como atributo certa cumplicidade explícita entre as pessoas clicadas e o fotógrafo.
Deste processo duplo de “colheita” de fotografias surgem inúmeros registros que se tornaram icônicos, praticamente se constituindo tal qual uma crônica imagética da vida francesa nos cafés e cabarés, nos bairros parisienses com seus tipos característicos, atitudes e comportamentos, dos quais o clic mais famoso é o do O beijo do Hôtel de Ville, em Paris, captado em 1950.
Nesta foto – que demonstra o amor jovem do casal de namorados na rua – e que aparentemente parece se encaixar nas imagens instantâneas, a maior qualidade estético-artística é representada justamente pela ambigüidade. Encomendada pela revista americana Life, especialmente para salientar o amor na primavera em Paris, esta foto para a qual posaram dois atores pagos, também foi o pôster mais vendido na década de 1980. Não se pode dizer que Doisneau não conhecesse outra célebre foto tirada cinco anos antes e intitulada O beijo da Times Square. Fotografada por Alfred Eisenstaedt, em New York, em 1945, nela um marinheiro e uma enfermeira se curvam e se beijam comemorando a vitória aliada sobre o Japão e o final da guerra. Esta foi talvez a foto mais divulgada no mundo, dadas às circunstâncias históricas e emocionais que a envolviam. Por outro lado, o olhar rápido de Doisneau não iria perder a oportunidade de flagrar um beijo que parodiava aquele primeiro. Saliente-se que até numa cena posada existem componentes que são obra do acaso e escapam do combinado, como os transeuntes, os automóveis passando… Na verdade, a foto parece ser resultado de um instantâneo que flagrou gestos espontâneos das pessoas contratadas. A pergunta que se segue é: até onde uma foto é posada?
Agora, a Renault, comemorando o Ano da França no Brasil, traz a mostra “Fotos de Robert Doisneau” – Exposição “A Renault de Doisneau”, composta por 106 fotografias, à Casa Andrade Muricy (Al. Dr. Muricy, 915 fone: 41- 321-4798), aberta entre 23 de abril e 14 de junho.
Doisneau produziu fotos para a Renault em dois períodos, o citado e o que abrange os anos de 1946 a 1955, quando, já famoso, foi contratado como freelancer para registrar material de mídia dos produtos Renault.
Pesquisa “Coleção Folha Grandes Fotógrafos – Metrópoles”. Vol. 1. Folha São Paulo. 2009. e “Fotografia do Século XX”. Taschen. 2007.