Saudades do GUM

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É inimaginável como o tempo passa tão depressa. Ele que parece ser infinito na juventude nos leva, em nossa presunção, a acreditar que vamos realizar absolutamente tudo o que queremos fazer em nossa vida.

E pior, o tempo continua decorrendo num ritmo cada vez mais rápido e quando percebemos os anos já se foram. Eles transcorreram, ou melhor, correram tão rápido que décadas se reduziram ao que nos parecem ser intervalos de dois ou três anos.

Este saudosismo não vem por acaso. Foi motivado pelo convite que me foi feito para participar de uma série de eventos resgatando a memória do Grupo UM.
Formado por cinco dos mais representativos artistas da década de 60, Alberto Massuda, Álvaro Borges, Érico da Silva, René Bittencourt e Waldemar Roza, o GUM como também era conhecido, apesar de sua curta duração teve presença marcante na ruptura dos moldes tradicionais das artes plásticas da época. Expor em praça pública, conversar diretamente com o público, quebrar a hegemonia dos museus e das galerias de arte foram alguns de seus propósitos que ultrapassavam os aspectos artísticos propriamente ditos e entravam no território do verdadeiro questionamento. Por outro lado, o diálogo que reuniu estes artistas também serviu como elo de amizade, unindo afetivamente suas famílias.
Agora, decorridos 45 anos de criação do GUM, e com o objetivo de reviver e discutir a atuação daquele movimento, seus descendentes: Adriano Massuda, Álvaro Borges Jr., Erion Campos de Oliveira Silva, Sonia Bittencourt Féder e Xênia Rosa se reúnem para formar o que  é afetuosamente chamado de Grupo 2.

E como resultado já está acertada uma programação que inclui – sempre das 20h às 22h e no Espaço Cultural e Gastronômico Alberto Massuda – uma exposição de obras dos artistas do GUM, com abertura às 20h de 30 de julho; Mesa redonda intitulada “Grupo Um e o Modernismo no Paraná” em 06 de agosto, com Adriano Massuda, Fernando Bini, Vera Mussi, Fernado Velloso e Max Conrad; e Mesa redonda intitulada “Grupo Um – Os artistas do Grupo Um” em 03 de setembro, com Fernando Bini, Xênia Rosa,  Fernando Calderari, João Osório e esta colunista. (Rua Trajano Reis, 443 – Centro Histórico de Curitiba. Informações: 41- 3076-7202 e e-mail: contato@albertomassuda.com.br.).
Sobre eles, Fernando Bini escreve: “A obra de Álvaro Borges trazia qualquer coisa de mágico, ao mesmo tempo que era mística e ingênua, muitas vezes lembrando Paul Klee; as telas de Alberto Massuda cujas figuras oníricas são imagens do inconsciente, deixavam clara uma espécie de lirismo da angústia; Érico da Silva que saiu do cubismo pelo caminho do ‘divisionismo’, chegou ao ‘abstracionismo’ lírico em 1961, sem  medo de usar a matéria pictórica; René Bittencourt, de tendência ‘expressionista’ capta o folclore urbano de Curitiba e Waldemar Roza um abstrato ecológico, compõe ‘assemblages’ com os ‘objects trouvés’ da natureza, fósseis, ossos, conchas, pedras e mesmo pássaros mortos.”
Natural de Ponta Grossa PR, Álvaro Borges nasceu em 1928 e faleceu em 1994, em Curitiba. Aluno do atelier de Estanislau Traple, seus trabalhos foram se modificando por influência do desenho publicitário. Sua participação em certames artísticos paranaenses é constante a partir de 1957, sendo inquestionavelmente um dos mais premiados dos salões oficiais. 

Quando componente do Grupo Um, começou a pesquisar as formas dos fósseis, principalmente as dos peixes e animais aquáticos que lhe serviram de inspiração para o desenvolvimento de uma linguagem artística marcante. Partindo da ictiologia, ou ciência que estuda os peixes, Álvaro ampliou sua temática ao abranger outras formas relacionadas com a água, tais como os barcos, as conchas, as divisões na pintura constituídas como linhas marítimas de um mapa dos oceanos. Certa simbologia relacionada ao significado da pintura também se inicia revelando um desejo de espiritualidade. Mais tarde, este aprofundamento nas formas vai resultar numa fatura individual única e inconfundível na pintura paranaense.

  Pesquisa: “Referência em Planejamento – Arte no Paraná I” vol. 3 nº 12 janeiro/março – 1980. Secretaria de Estado do Planejamento, 1976 – trimestral. Imprensa Oficial do Estado do Paraná. Curitiba. PR