É de Louise Bourgeois, a artista parisiense que vive e trabalha em Nova York, uma das obras mais delicadas da mostra “Gravura Contemporânea – Diálogos”, aberta à visitação pública gratuita, até o final do mês no Museu da Gravura Cidade de Curitiba (Rua Pres. Carlos Cavalcanti, 533 – fone 41 3321-3269). Senão a de maior importância, pelo menos uma das mais marcantes artistas da atualidade, Louise Bourgeois trabalha aspectos do universo feminino em suas linguagens artísticas. Ditas aqui no plural, pois a artista explora a diversidade de meios, materiais e modalidades de expressões de arte.
Entretanto, a multiplicidade proporcionada por estas inúmeras facetas não é diluída na totalidade de sua obra, que permanece única e plenamente reconhecível na autoria. Além disso, sua arte demonstra, muitas vezes de maneira brutal, pelo tamanho avantajado ou pelo contraste violento entre formas e materiais, ou até mesmo pelos títulos, como “Destruição do Pai”, “Arco de Histeria”, certa vingança do gênero feminino contra a opressão.
Ela se tornou bem conhecida no Brasil pela sua escultura da aranha gigante apresentada numa das edições passadas da Bienal Internacional de São Paulo – quando o evento representava – de fato e de direito – o ápice artístico mundial, junto à Bienal de Veneza.
“Tendo se iniciado no cenário artístico norte-americano como pintora e gravadora, ela passou para a escultura nos últimos anos de 1940, executando trabalhos escavados e isolados, com formas alongadas. Suas obras tinham certa analogia com as esculturas de Giacometti, apesar de que as relações efetivas entre as linguagens serem poucas. Estes trabalhos eram alternados a esculturas feitas em gesso com formas abstratas agrupadas que, pintadas em branco e preto, demonstravam uma qualidade estranhamente humana de agrupamento. Nos anos 60, Louise trabalhou exaustivamente com estas formas elaboradas em gesso, que passaram a ser fundidas em bronze, um material no qual ela poderia desenvolver melhor sua fantasia ligada aos aspectos antropomórficos e de fósseis, cujos formatos mostram os lados de fora e de dentro, e onde o interior escondido é, às vezes, constituído por séries mágicas de microscópicas cavernas.” Arnason. H.H. “A History of Moderna Art”. Thames and Hudson. London. 1969.
Em seu imenso currículo, se destacam a suaindividual, em 1945, intitulada “Pinturas por Louise Bourgeois”, na Bertha Schaefer Gallery, em Nova York; em 1959, “Escultura por Louise Bourgeois”, no Andrew D. White Art Museum, da Cornell University, Ithaca (NY); “Louise Bourgeois: Retrospectiva”, no The Museum of Modern Art, em 1982-83, em Nova York e a exposição que ela realizou na Tate Modern, Londres, em 2000, na qual mostrou novamente uma aranha gigante de aço e mármore negro que chamou de “Maman”.
Talvez poucos se lembrem que coube à Uiara Bartira e Paulo Herkenhoff a vinda ao Brasil, pela primeira vez, das obras de Louise Bourgeois para a “X Mostra da Gravura Cidade de Curitiba”, a melhor e maior de todas as mostras, realizada em 1992 que, infelizmente, até hoje não teve o catálogo impresso. Suas obras também participaram da “XI Mostra da Gravura Cidade de Curitiba”, de 1995.
Paulo Herkenhoff escreve: “Louise Bourgeois nasceu na França (1911), tinha uma irmã mais velha e um irmão mais novo. Sua família tinha negócios de restauração de tapetes, métier que terá grande sentido simbólico em sua obra… Na infância fixam-se conflitos irresolutos e memórias ambíguas de uma família em que a figura materna era calma, protetora e prática. O pai, autoritário, torna-se amante da tutora da família. A casa paterna, o tecido das relações familiares, os segredos da infância formam aquilo que a artista denomina ‘suas motivações’, a base de sua arte. Aqui já temos um aspecto fundamental da obra de Louise Bourgeois, uma arte que não despreza uma intensa referência ao sujeito. E esse sujeito é uma mulher. Sua obra retira a mulher da zona de sombra da história da arte.” Excerto “Algumas Estações da Dor e do Desejo – A Vida na Obra de Louise Bourgeois – Fragmentos”. Catálogo “XI Mostra de Gravura Cidade de Curitiba”. Gráfica Mikito. 1995.