Nos bons tempos um museu se definiria como um lugar tranqüilo onde permaneciam reunidos por anos afora objetos, utensílios e/ou obras de arte meio empoeiradas. Exemplificando, vamos imaginar um museu de cidade pequena nos moldes antigos, onde os itens coletados estão sendo ali preservados simplesmente porque foram doados por familiares que, muitas vezes, não sabiam o que fazer com as velharias do tio solteiro que morreu.Então neste modelo, a primeira condição para a existência de um museu que corresponde ao seu verdadeiro objetivo – e que vem a definir como e porque ele vai funcionar – não estaria sendo cumprida.
Na ausência de uma comissão de acervo – que no caso de um museu da cidade deve ser constituída por pessoas representativas das várias áreas de conhecimento, que envolvem a vida, a arte e as atividades da região – este suposto museu se tornaria simplesmente um coletor de toda espécie de objetos sem um direcionamento que o leve a reunir e classificar itens realmente representativos da sua história, dos seus estilos de vida e das atividades econômicas e sociais da localidade. Paradoxalmente e apesar de séculos de colecionismo e depois do funcionamento contínuo dos museus, foi somente no final dos anos 1960 que nossos estabelecimentos museológicos começaram a analisar e definir seus objetivos também no sentido de priorizar o registro da vida dos centros urbanos onde eles estavam instalados.
Em nossa cidade, sem entrar aqui no mérito de outros museus, a Casa da Memória da Fundação Cultural de Curitiba cumpre o papel de salvaguardar os inúmeros aspectos da capital paranaense. (Rua São Francisco, 319, fone 41 3321-3295). Ali são preservados, além de documentos antigos como os relativos à história da cidade desde a sua fundação, os livros raros, obras de arte que documentam a passagem dos artistas viajantes, fotografias históricas e também as que simplesmente registram a Curitiba de outros tempos, seus usos e costumes ao longo da passagem do tempo. Mas, voltando à abrangência das atividades dos museus propriamente ditos, não basta a divulgação de seus acervos que podem ser de obras de arte, de itens classificados sob a égide da história ou de qualquer bem resultante da produção humana tais como automóveis, telefones, bicicletas, miniaturas, jóias, e daí em diante.
À função de fomento da informação dos museus deve ser adicionado o desejo de aprender manifestado pelo visitante, pois um museu não deixa de ser também um local de aprendizagem relevado pela visão dos objetos reais antigos conservados com este precípuo objetivo. Qual o motivo de guardar uma velha máquina fotográfica? Ver a evolução das coisas e como elas são feitas.
Uma vez que qualquer museu possui muito mais do que simplesmente os objetos que estão à vista, isto é, possui um acervo, as exposições das suas coleções de itens devem e passam a se constituir no mecanismo normal do público vir a conhecer o que o museu realmente mantém, além das mostras virem a valorizar esta mesma reserva técnica através de seleções feitas por curadoria, mantendo vivo o interesse e a continuidade de visitantes ao local, o que não viria a ocorrer se sempre estivessem expostas as mesmas peças.Também se deve ter em conta que as visitas aos museus não acontecem assim tão espontaneamente. Elas são cuidadosamente planejadas e o público é levado a visitá-las, atraído ora pelo título da mostra, ora pelo que está sendo exposto, ora pela modalidade de arte, que pode ser escultura, pintura ou gravura, ora pela antiguidade de determinados itens.
É preciso que o público se dê conta que há toda uma estruturação ao redor do “making off” de uma exibição de objetos, sejam provenientes da história ou de obras de arte.
Um dos fatores que mais influem na escolha dos itens de uma exposição é o incremento do conhecimento do público visitante. Para tanto, além das peças exibidas nos espaços expositivos, há o material impresso que acompanha obrigatoriamente uma mostra. Saber que um bom folder ou catálogo virá acompanhando a exibição – principalmente se for distribuído gratuitamente – é uma maneira de o visitante levar um pouco do que foi visto para casa e de poder mais tarde lembrar de um objeto. Um outro atributo que tem grande peso na realização de uma mostra é a disposição das obras ou itens no espaço expositivo. Sempre digo que não existe maneira de registrar uma exposição, a não ser visitando-a. O ambiente composto por obras de arte é irreproduzível, seja lá por qualquer meio ou tentativa de registro por fotografia, vídeo, filmagem. A tridimensionalidade do local combinada com o passeio dos visitantes por entre os itens expostos têm como resultado a sensação de bem estar na fruição da obra de arte, principalmente se cada uma está “conversando” com as outras.