Quando fiz a curadoria da exposição “Natureza em foco”, dois objetivos estavam em mente: apresentar uma seleção de excelentes fotografias que contemplasse o público adulto, interessado nas questões estético-artísticas, e proporcionar às crianças uma visão mais íntima dos animais, insetos e plantas que elas raramente têm oportunidade de conhecer. Ao mesmo tempo, o modo como foram dispostas as fotos na exposição também possibilita uma reflexão sobre a natureza, começando em seu apogeu e culminando com as ameaças representadas pela poluição, pelo desmatamento e pela mudança do clima.
Os fotógrafos são: Claus Meyer, Manuel da Costa, Delfim Martins e Daniel Augusto Júnior. Este apresenta uma única fotografia na exposição. E o que pode parecer uma foto singela, à primeira vista, se mostra um tratado social condensado numa imagem. A foto que Daniel clicou sintetiza toda a problemática do homem versus natureza, uma vez que grande parte do problema de nosso planeta pode ser creditado à aglomeração humana.
Antes porém, vamos conhecer um pouco sobre o fotógrafo. O seu início na fotografia data de 1977, quando foi trabalhar como assistente de estúdio do fotógrafo Rômulo Fialdini e, posteriormente, para Jean Solari, francês que adotou o Brasil na década de 50 e que havia trabalhado nas revistas “O Cruzeiro” e “Realidade”. Daniel trabalhou como repórter fotográfico, para toda a grande imprensa daquela cidade, ora “freelancer”, ora contratado. Tem fotos publicadas na “Veja”, “Placar” e revistas internacionais como “Newsweek”, “Zoom”, “Le Nouvel Observateur”, “Business Week”.
Apaixonado pela fotografia, acabou sendo convidado para ser sócio da Agência F4, cujo estatuto era copiado da Magnum, de Cartier-Bresson. Daniel fala: “Fomos a primeira agência/cooperativa independente do Brasil a lutar por uma tabela de preços mínimos para o trabalho dos repórteres-fotográficos e pelo crédito obrigatório nas fotos e também a usar a Cessão de Direitos Autorais — baseada na lei 5.988, depois modificada pela 9.610, a Lei do Direito Autoral — para cobrar por nossos trabalhos.”
E a grande paixão dele pela fotografia de futebol começou em 1997, quando trabalhava na sucursal de São Paulo do “Lance!”. Ele vinha com certa experiência na cobertura de esportes, pois já havia trabalhado para a “Placar”.
O seu grande furo foi a cobertura do enterro de Ayrton Senna, quando trabalhava no jornal “O Globo” e foi o único profissional do mundo a tirar fotos do caixão descendo à sepultura: “Só poderiam entrar amigos e parentes no sepultamento. Fui ajudado por um repórter e simulamos uma entrevista, em inglês. Entrei apenas com uma pequena câmera amadora e fotografei cenas exclusivas. Foi, com certeza, a grande matéria da minha vida. Deu capa no dia seguinte, com a foto ocupando metade da página.”
Outra capa de Daniel foi na cobertura presidencial de 1994. Fernando Henrique havia sido eleito no domingo e, na segunda-feira, o fotógrafo partiu para o Pantanal, porque tinham informação de que ele tinha ido para lá descansar: “Viajamos o dia todo pelo Rio Paraguai e, à noite, num breu que dava medo, aparece o Presidente de salva-vidas no pescoço e bermuda de florzinha. Não sabia se ria ou se chorava pelo ridículo da cena. Claro que, no dia seguinte, foi primeira página do Globo.”
Hoje, além de “freelancer”, ele faz o site do Corinthians, fotografa para a agência “EFE”, de Madrid, “O Estado de São Paulo” e “O Globo”, além de pautas para agências internacionais. Participou da “1a Bienal Internacional de Fotografia Cidade de Curitiba”, em 1996.
Voltando à sua foto na mostra, a homogeneidade imprecisa faz com que o significado da imagem escape ao entendimento normal. O que se vê é um padrão texturizado que, à aproximação do olhar, se define numa tessitura de fios inclinados, ainda indiscernível. Um pouco mais de atenção e a foto revela pessoas num estádio, congeladas pela objetiva num mesmo gesto. Este total congraçamento humano significa também, e paradoxalmente, a completa ausência da individualidade, o que, é um dos fatores que unem a torcida num corpo uno de sentimentos e expectativas, sublinhado pela ausência de ponto focal. Apesar da iconografia ser importante na fotografia – inventada visando este tipo de registro – esta não é uma foto icônica. A realidade expressa por ela a torna uma foto política que vocifera pelo sussurro visual.
Aberta até fevereiro de 2008, no Museu da Fotografia Cidade de Curitiba (R. Carlos Cavalcanti, 533 fone 41-321-3334). O acervo fotográfico de Daniel Augusto Júnior encontra-se em: www.pulsarimagens.com.br e www.olharimagem.com.br.
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