Mais um primoroso livro é lançado pelo Cultural Office. Aliás, o trabalho de Mônica Drummond, responsável por esta empresa, é estar continuamente publicando livros voltados aos mais diversos aspectos da arte e cultura paranaenses.   Porém, o destaque se dá em razão da qualidade e do teor do livro por ela publicado, cujo lançamento ocorreu em 20 de outubro, apropriadamente, na Casa Andrade Muricy, considerada um dos polos artístico-culturais de nosso estado. 

  Levei um tempo para falar a respeito porque quis, antes de tudo, ler e analisar “A Arte da Urgência” , que, de certo modo, dá continuidade ao trabalho da Mônica que já havia motivado o livro “sentido (in) sano”, que foi distribuído gratuitamente, no ano passado, às instituições ligadas às artes visuais, medicina, psicologia e psiquiatria.
  O livro “A Arte da Urgência” foi organizado e compilado por Luciana Hidalgo e Mônica, bem como os textos que compõem a parte mais teórica da obra. Luciana é jornalista, doutoranda em Literatura Comparada na Universidade do Estado do Rio de Janeiro e autora de “Artur Bispo do Rosário – O senhor do labirinto”, da Editora Rocco, livro que recebeu o Prêmio Jabuti de 1997.

  Entretanto, o principal intento de ambas foi dar a conhecer e divulgar a criações artísticas de pessoas especiais, o que faz o livro apresentar uma série maravilhosa de imagens e poesias, que são a razão da publicação.

  É um livro de cabeceira, não é o tipo de publicação que se lê uma de uma só vez e que permanece abandonado na estante. Este é um livro que faz pensar, é profundo, trata de temas sensíveis e dos sentimentos de pessoas que muitas vezes não são levadas a sério devido aos universos individuais, e muitas vezes intransponíveis, em que se encontram. 

  Nas palavras de Luciana: “O livro esboça em versos e imagens o diálogo entre poesia e artes plásticas, imaginação e realidade. Reunidos estão os poemas de Loriel da Silva Santos e as pinturas de outros usuários de serviços de saúde mental realizados na Associação Livre Mente Arnaldo Gilberti (AAG) e no Centro Psiquiátrico Metropolitano/Secretaria de Estado da Saúde, em Curitiba. Palavras e pinceladas se entrelaçam, página à página, desvelando mitos e verdades de portadores de transtornos mentais. Em comum, o trânsito livre, espontâneo e estético entre o mundo real e o onírico. Loriel é o autor de todos os poemas entremeados às telas reproduzidas – estas criadas por autores diversos, entre 20 e 50 anos, que, em sua maioria, receberam diagnósticos como transtornos de ansiedade, depressão e esquizofrenia. … Sua poesia comunga com as temáticas mais prementes nas poéticas de todos os tempos. Desvela a angústia que norteia boa parte da história da arte; o confronto com a morte; a solidão; o amor. Alguns poemas citam a loucura, termo genérico para uma profusão de estados mentais e emocionais, patológicos ou não, que atravessa os séculos como enigma. Não por acaso, a certa altura, na contramão da mística em torno do louco, Loriel pergunta: O que te assusta no mundo do insano?”
 Prossegue Mônica: “Os signos lingüísticos, aplicados a estes indivíduos que momentaneamente estão fora do que consideramos normal, tornam-se Universais tão poderosos que, apesar de serem somente conceitos criados fora da mente, assumem características concretas: nos afastamos dos portadores de distúrbios mentais como se fosse esta nossa única saída para manter a própria sanidade. Esse tipo de procedimento irracional e desumano perpetua o comodismo e intolerância que marcaram as ações durante séculos, abrangendo leigos e especialistas sob um mesmo quilate, com exceções raríssimas. … A proposta deste trabalho é trazer a esta parte do ‘reino’ a invisível, anônima beleza que teima em existir nesse confinado universo de magia, não é diletantismo de um exercício, é uma realidade artística inerente, presente na alma de quem escreve ou pinta suas telas. … A prisão maior está na limitação do preconceito, mas a dor maior está no poder deste preconceito que impede, ou tenta impedir, que as demais existências aflorem e façam-se ouvir.”

 O livro “A Arte da Urgência” é uma publicação da Lei de Incentivo à Cultura da Prefeitura Municipal de Curitiba, com o patrocínio das empresas: V. Weiss – Logística e Transportes; Cartrom – Embalagens; Clinipam; Dalcon – Engenharia e com apoio cultural de Bonaparte – Administradora de Hotéis e Gramofone.