Brunno Covello/SMCS

Novembro é o momento do ano dedicado aos homens, mobilizado especialmente pela campanha contra o câncer de próstata. É um mês voltado para aqueles que, na nossa cultura, aparentemente necessitam de pouca atenção e cuidado. Mas hoje sabemos que esse e outros estereótipos podem trazer efeitos devastadores para os indivíduos e toda sociedade. Então quais provocações ficam após um mês de reflexões sobre autocuidado e masculinidade?

Primeiro temos que compreender as origens da nossa ideia de masculino, composta por uma série de comportamentos e práticas históricas e sociais associadas aos homens em nossa cultura. Um exemplo de tais ideias é a exaltação de corpos fortes e peludos, como aqueles apresentados em propagandas de giletes de barbear.

Os impactos desses conceitos generalizadores sobre o que é ser homem se tornam mais graves quando nos deparamos com a chamada “masculinidade tóxica”. Isso envolve um subgrupo de comportamentos que trazem consequências danosas ou destrutivas não só para os homens, mas também para todos com quem eles se relacionam.

Frequentemente encontramos indícios de masculinidade tóxica a partir de comportamentos de dominação, humilhação e controle (sobre si ou outros grupos). O comportamento também é marcado por indiferença emocional (“homem não chora”), super-competitividade (“essa mulher é minha”) e agressividade (“apanhar” é a pior humilhação que um homem pode passar).

Com o passar o tempo, esse ideal de masculino se relaciona a um medo (irrealista) de desmasculinização, isto é, o de tirar o “poder” de ser “homem” e ser consequentemente percebido como “feminino”. O aspecto tóxico acaba atingindo também a noção de autocuidado masculino (ou falta deste), que pode trazer resultados até mesmo letais.

É fácil perceber esse problema na saúde. Um grande contingente de mulheres se preocupa e frequenta os médicos (provavelmente devido a questões biológicas, mas também em consequência de construções históricas e sociais). Já muitos homens podem considerar uma ida a um médico uma aceitação de fraqueza.

Para estimular novos comportamentos de autocuidado pelos homens, até podemos buscar argumentos emocionais, por meio de testemunhos de pessoas que sofrem ou sofreram devido ao câncer de próstata. Mas prefiro tomar um outro caminho.

Recorro à socióloga R. W. Connell, autora do livro “Masculinidades” de 1993, que propõe que não existe somente uma forma hegemônica de ser masculino, mas sim várias formas. A autora australiana descreve que mudanças recentes na sociedade levaram a uma valorização não da masculinidade (força e agressividade) conhecida anteriormente, mas sim da inteligência e do juízo crítico e criador de “outras masculinidades”.

Assim, convido os homens a não serem controlados e levados a repetir comportamentos potencialmente danosos ao indivíduo devido a construções sociais e históricas. Os novos tempos nos convocam a ser mais lógicos. Nos exige bom senso em direção à vida e, consequentemente, em direção ao autocuidado neste Novembro Azul (e todos os meses do ano). Por isso, faça o exame e demonstre amor próprio acima dos preconceitos estabelecidos sobre masculinidade.

Sobre o autor:

Vinicius Reis de Siqueira possui bacharelado e licenciatura em Psicologia pela Universidade Paranaense (2004), Especialização em Terapia Analítico Comportamental pela Universidade Paranaense (2005), Especialização em Docência do Ensino Superior pela UNIPAN/FACIAP (2011), Master of Science by Research in Psychology – University Of Wollongong – Australia (2011), Mestre em Filosofia Moderna e Contemporânea pela UNIOESTE (2018). Atualmente é professor da Unopar Cascavel, bem como psicólogo trabalhando na Secretaria de Saúde de Cascavel (PR).