1º de abril, Dia da Mentira: como nasceu essa tradição?

Redação Bem Paraná
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O dia 1º de abril é consagrado como o Dia da Mentira, ou Dia dos Tolos ou Bobos. É um dia que alguns países tradicionalmente usam para pregar peças, na maior parte bem humoradas.

Mas como iniciou essa tradição?

A tradição de 1º de abril remonta à instituição do Calendário Gregoriano, que substituiu o Calendário Juliano por determinação do Concílio de Trento (conselho ecumênico da Igreja Católica).

Com a instituição do novo calendário pelo papa Gregório XIII, em 1582, historiadores contam que parte da população francesa se revoltou contra a medida e se recusou a adotar o 1º de janeiro como início do ano.

Zombados pelo resto da população, os resistentes às mudanças eram convidados para festas e comemorações inexistentes no 1º de abril. Nascia assim a tradição de zombaria e de pregação de peças.

Há também relatos históricos que relacionam a data ao festival de Hilária – uma festa romana no período anterior ao nascimento de Cristo – que celebrava o equinócio de março em honra à deusa Cibele, a “Mãe dos Deuses”, uma divindade que reunia aspectos das deusas gregas Gaia, Reia e Deméter.

No Brasil, a tradição foi introduzida em 1828, com o noticiário impresso mineiro “A Mentira”, que trazia em sua primeira edição a morte de Dom Pedro I na capa e foi publicado justamente em 1º de abril.
Com Agência Brasil

Veja a explicação detalhada de professora da PUCPR:

Ana Beatriz Dias Pinto, especialista em Teologia e Cultura dos Povos e professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), esclarece os motivos que levaram a uma mudança de calendário e, consequentemente, ao costume popular mundial de se fazer brincadeiras no início do mês de abril.

1) Quando surgiu o “Dia da Mentira”?

Antes da introdução do Calendário Gregoriano, o calendário mais amplamente utilizado no mundo ocidental era o Calendário Juliano. O Calendário Juliano foi instituído por Júlio César em 45 a.C. e era baseado no ciclo solar, com um ano de 365 dias dividido em 12 meses. No entanto, o Calendário Juliano não levava em consideração a diferença entre o ano solar e o ano trópico, o que resultava em um descompasso gradual entre o calendário e as estações do ano.

Foi então que, no dia 24 de fevereiro de 1582, o Papa Gregório XIII decretou uma mudança na contagem do tempo. A alteração foi determinada por meio da bula papal chamada “Inter Gravíssimas”. O documento criou o Calendário Gregoriano, para ajustar o ano civil ao ano solar, período que a Terra leva para dar uma volta ao redor do Sol. A contagem dos dias do Calendário Gregoriano leva em conta o ciclo solar, que possui 365 dias e 6 horas. Aí, essas 6 horas que sobram são acumuladas e se transformam em 1 dia a cada 4 anos. Por isso que existem os anos bissextos.

O primeiro país a adotar o calendário depois da Itália foi a França. Mas, quando o rei da França, Carlos IX, o instituiu, houve muita confusão! Afinal, até esta data, todo “Ano Novo” se iniciava no dia 1° de abril. Com a modificação, a tradicional troca de lembrancinhas de “boas entradas” pela passagem do ano (como doces, champagnes e até mesmo itens de luxo, como joias e pedras preciosas) transferiu-se, com o novo calendário, para o dia 1° de janeiro.

2) Mas por que foi chamado de dia da mentira?

Porque alguns franceses resistiram à mudança e continuaram a seguir o calendário antigo – e até mantiveram a troca e festas nessa data, de 1º de abril.

Para se ter uma ideia do conservadorismo francês, basta lembrar a História: até a entrada em vigor da moeda europeia, o Euro, muitos franceses ainda calculavam e referiam-se como moeda “oficial” da França ao Antigo Franco, uma moeda que foi substituída em 1958 pelo novo Franco, que depois deu lugar ao Euro entre 1998 e 1999. Ou quando a Igreja em 1965 instituiu, pelo Concílio Vaticano II, a missa “de frente para o povo”, com o padre não mais de costas, houve muita gente que não gostou e até hoje só vai à missa de rito tridentino.

Pois bem… lá no século XVI, quem era “menos tradicional”, para ridicularizar os que resistiram ao novo calendário, passou a enviar presentes esquisitos e até mesmo convites para festas inexistentes. E essas brincadeiras ficaram conhecidas como plaisanteries. Ou seja: “piadas”, “charadas”.

Foi então que, pouco a pouco, outros monarcas foram adotando o calendário gregoriano e a brincadeira do trote do 1° de abril espalhou-se pelo mundo, atingindo inúmeras outras culturas para além do cristianismo católico. Afinal, esse calendário passou a ser a “nova” realidade mundial. Como o ato de fazer piadas caiu no gosto popular, especialmente aqui no Brasil, que é um país no qual o povo tem frequentemente gosto pela diversão e pela chacota, a coisa se espalhou.

3) Então, de maneira geral, o Dia da Mentira tem início com uma questão religiosa?

Sim, tem a ver com uma questão religiosa! Paradoxalmente, o dia do trote e da mentira tem a ver com a Igreja Católica e seu calendário oficial, que é o gregoriano. Mas também tem a ver com o uso da Ciência por meio da Religião. Foi por meio de cientistas, com a observação do sol, que a Igreja Católica adotou o novo calendário.

Porém, é importante lembrar: a religião não apoia esse tipo de brincadeiras, especialmente as mais exageradas. Já se passaram cinco séculos desse episódio… E nem sempre todo mundo gosta dessas brincadeiras de trolagem ou pegadinhas.  Aliás, todo excesso que uma pessoa comete, por mais que seja uma data “leve”, pode trazer consequências e repercussões negativas para si mesma. Por isso, o 1º de abril poderia muito bem ser conhecido atualmente como “o dia da realidade” ou mesmo como o “Dia do Diálogo entre Ciência e Fé”.

4) Outras religiões também possuem seus calendários? 

Sim! Existem inúmeros! Vou citar outros três, que são os mais conhecidos: