Bem Estar Telona

A grande indústria cinematográfica

Não se fala em outra coisa: é Jean Dujardin e Berenice Bejo e o filme “O Artista”

Dayse Regina Ferreira

Não se fala em outra coisa: é  Jean Dujardin e Berenice Bejo  e o filme O Artista, que projeta a França no mundo todo. E haja Dama de Ferro, com Meryl Streep brilhando nas telas e nas passarelas vermelhas dos festivais de cinema.
Globo de Ouro, Urso de Ouro, Palma de Ouro. Brasil, Inglaterra, Alemanha, França, todos unidos na grande festa do cinema, que sempre termina em Holywood, nesse ano no dia 26 de fevereiro.

O cinema foi inventado pelos franceses,  irmãos Lumière, e neste 2012 a França arremata a maioria dos prêmios com O Artista. Embora tão elogiado, não falta quem tenha assistido ao filme mudo, em branco e preto, e tenha achado uma chatice. Mas isso é outro problema, já que a indústria do cinema é como a indústria farmacêutica: vale o que os laboratórios querem vender.
 O que é inegável é o poder do cinema. A prova: uma antiga central elétrica do quarteirão Playel em Saint Denis, na Cidade Luz,  será transformada em Cite du Cinema, a ser inaugurada em maio.Para ser o símbolo da remodelação da Grande Paris. O novo espaço vai abrigar estúdios e escritórios, a École nationale supérieure Louis-Lumière, e se transformar em um território de cultura e de criatividade.  Quando François Fillon, o ministro da Cultura Frédéric Mitterrand e o ministro de la Ville, Maurice Leroy, assinaram o acordo da futura Cité du cinema parisiense, firmaram o primeiro passo para o desenvolvimento territorial da região, com novas atividades , novas residências e o transporte, que atende a Grande Paris. Apesar da crise européia – e francesa – o objetivo é o de apostar em grandes  projetos. Mas se a pergunta é o por quê do cinema, a resposta é óbvia: Paris tem pelo menos dez filmagens por dia. Como Polisse, de Maïwenn, La guerre est déclarée, de Valerie Donzelli, Le Capital, de Costa-Gravas,  este rodado  na embaixada dos Países Baixos, na rua de Grenelle. São 940 filmagens, sendo 130 longa metragens e 133 filmes de ficção para a televisão. Em seis anos, houve um aumento de 40% na produção de filmes em Paris. No total, mais de 6 mil locações foram feitas na Cidade Luz, no interior ou no exterior. Se, em 2010 , foram muitos os filmes americanos rodados em Paris, como o de Martin Scorsese (Hugo Cabret) e Woody Allen (Midnight in Paris), em 2011 as realizações foram, em sua maioria, de diretores franceses. A cada dois filmes franceses, um é rodado na capital. O que representa para a Prefeitura um enorme ganho: em 2010 a receita chegou a cerca  de 700 mil euros. Porque, ao rodar interiores, como piscinas e bibliotecas, há um preço fixado em tabela votada pelo Conselho de Paris.Mas no exterior os realizadores não pagam nada além do estacionamento de seus caminhões. Os últimos filmes feitos em Paris são Le Capital (Costa Gravas), L´Écume des jours (Michel Gondry), Main dans la Main (Valérie Donzelli) e a comédia Paulette (Jerome Enrico).


METRO DE PARIS COMO CENÁRIO
Construído em 1900, o metro de Paris guarda como relíquias  sua decoração art nouveau, um bom contraste com os imensos cartazes publicitários. Além de ser um dos metros mais cinematográficos, é o que tem mais labirínticos. Quem decifra seus meandros, ganha a cidade. O francês parece cultuar essa história de labirintos. Vide Jean Valjean, personagem de Vitor Hugo nos esgotos parisienses, em Os Miseráveis. Luc Benson realizou um correspondente mais moderno, nos idos de 1985, com o título de Subway.Uma história de amor que começa, se desenrola e termina no interior de um metropolitano. No metro  os contatos são efêmeros. Mas podem ser poderosos, já que não há tempo para palavras, apenas trocas de olhares entre uma estação e outra, entre um labirinto e outro. Daí que os passageiros acabam procurando alguém que lhes chamou a atenção, publicando recadinhos nos jornais, do tipo procuro você, que vestia jeans e um blusão vermelho, na estação do Odeon. Uma história similar foi inspiração para o Mauvais Sang, de 1987, assinado por Leos Carax. Na estação Pasteur, Dennis Lavant avista pela janela o rosto inesquecível de Juliette Binoche e cai em estado de pura paixão.As cenas seqüenciais foram as mais extraordinárias já filmadas nos subterrâneos da cidade. Bertolucci, no seu famoso O Último Tango em Paris, inicia o filme com um atormentado Marlon Brando caminhando na estrutura de aço que suporta o metro, no percurso de superfície, perto da estação de Passy. A maior sequência em metro já realizada pelo cinema é a de Wim Wenders, em O Amigo Americano, uma cena de assassinato. Robert Bresson usou o metro em seu Pickpockett, Louis Malle filmou quase tudo dentro dos labirintos no Zazie dans le Métro, Costa Gravas iniciou o Sessão Especial de Justiça em meio ao vai e vem de trens e o tema principal de O Último Metro, de François Truffaut, foram trens, escadarias, movimento.
Convém lembrar: a primeira imagem de cinema, feita em 1895 pelos franceses irmãos Lumière, mostrava um trem. E o primeiro filme tendo o metro como cenário, foi realizado em 1905, por um americano. É considerado uma das peças mais importantes do cinema mudo e nem tinha nome. Hoje é conhecido como Interior New York Subway, 14th Street to 42nd Street.


UM MUNDO DEBAIXO DA TERRA
Vá lá que o metro parisiense não é o mais artístico do mundo. Isso é coisa de Moscou.
Com 123 anos, se mantém como a melhor maneira de passar de um lado a outro de Paris e chegar a todos os banlieus – periferia –com rapidez e sem gastar quase nada. Outro ponto importante: chove uma média de 170 dias ao ano na região, o metro é garantia de abrigo Os milhões de pessoas que transitam pelos corredores, escadarias, elevadores do sistema, passam com pressa, esbarrando em todo mundo. Não se conversa dentro dos trens. Até as crianças ficam caladas. Em compensação, encarar os outros durante a viagem é hábito comum. Assim como afundar o rosto em um livro, aproveitando os minutos da viagem para por em dia as últimas novidades literárias. Não faltam estrangeiros que entram correndo nos vagões, empunhando uma sanfona, um violão ou simplesmente cantando. Alguns, mais lunáticos, fazem discursos contra a sociedade. A maioria é de imigrantes sem papéis, desempregados ou egressos da prisão. Todos têm um traço em comum: esperam receber algumas moedas. Mas ninguém é muito agressivo. Nos corredores das estações também acontecem shows e música. Há jovens estudantes de algum instrumento ou de canto, que aproveitam os espaços subterrâneos para treinar. O que dificilmente poderiam fazer em seus apartamentos, já que a vizinhança costuma ser rigoroso em termos de ruídos e barulhos. O comércio também é outra marca dos subterrâneos: frutas, flores, máquina de foto instantânea, lanchonetes, cafés, lojas de consertos, bancas de jornais,bijuterias. Há de tudo, para todos. O que realmente marca, é a quantidade de cartazes promovendo exposições, vendas de saldos, capas de revistas do mês, viagens, teatro, cinema. São mais de 367 estações , nas 15 linhas serpenteando pela cidade. Além das RER, que vão até a periferia. Partindo do aeroporto, o turista que chega com pouca bagagem pode fazer uma boa economia. Um bilhete de metrô salva algo em torno de 50 ou 60 euros. O visitante também aproveita o RER para chegar até os jardins e castelo de Versailles ou para conhecer a Ville Nouvelle, de Cergy Pontoise.


UM MUNDO NA SUPERFÍCIE
O cinema de Paris também destaca os jardins. Cenários perfeitos para filmar o amor, a morte, as intrigas, para servir de esconderijo ou para a meditação. Há os jardins do padre, o jardim público, o jardim da realeza, os parques, os jardins em estufas, os labirintos vegetais. O sinistro Landru foi filmado nos bancos do Jardin de Luxembourg, enquanto  tentava uma senhora com o rosto coberto por véu. O filme Amelie também coloca em destaque jardins e caminhos verdes de Paris. Um assunto inesgotável, o cinema na Cidade Luz.