Alimentação natural pode não ser o ideal para os cães; especialista explica

Editado por Alana Morzelli
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A tendência da alimentação natural, como a ideal para os cães, tem ganhado força na internet por manter os animais longe dos ultraprocessados. Mas nem sempre ela é a ideal para o pet, muitas rações são verdadeiros pacotes de tecnologia nutricional, com fórmulas precisas, alta digestibilidade e praticidade para quem vive na correria.

A pergunta que fica é, será que existe certo e errado quando o assunto é alimentação de pets? Existe um único caminho que sirva para todos os cães, para todas as casas e todas as fases da vida?

“Quando o assunto é alimentação, nós, médicos veterinários, precisamos agir com neutralidade, ciência e empatia. Não se trata de moda ou de briga entre alimentação natural e ração. Se trata de encontrar o que é melhor para cada animal e para cada tutor, de forma segura, responsável e sustentável”, afirma o médico veterinário Dr. Eros Luiz de Sousa, diretor do Hospital Veterinário MeBi – Médicos de Bichos, de Curitiba.

Segundo ele, rações completas de boa qualidade são desenvolvidas com pesquisa, controle de qualidade e fórmulas balanceadas. Para muitos cães e tutores, a ração oferece praticidade, previsibilidade de custo e segurança alimentar, principalmente em casas com rotina corrida, múltiplos pets ou tutores com dificuldade de seguir planos nutricionais rígidos.

“A ração não é inimiga do bem-estar. Pelo contrário, muitas doenças podem ser prevenidas ou controladas com dietas específicas de alta qualidade, formuladas por quem estuda nutrição animal”, lembra o diretor.

Por outro lado, a alimentação natural, quando bem orientada, pode ser uma aliada poderosa, especialmente em cães com restrições, alergias alimentares ou que necessitam de controle rigoroso de certos nutrientes. “Alimentação natural não é simplesmente cozinhar arroz e frango. É um planejamento nutricional complexo, que deve ser feito com acompanhamento veterinário e nutricional, para evitar deficiências ou excessos que podem trazer riscos graves à saúde do pet”, reforça. Além disso, o custo, o tempo de preparo e a disciplina para seguir o plano nutricional são fatores que pesam na decisão.

O gasto médio mensal com alimentação para cães no Brasil varia entre R$ 100 a R$ 300 por animal, dependendo do porte e do tipo de dieta, segundo estudos setoriais como Radar Pet (Comissão de Animais de Companhia do Sindan), que acompanha gastos médios do consumidor pet no Brasil, e Instituto Pet Brasil.

Segundo relatórios setoriais, o segmento de alimentação natural para cães cresce entre 20% e 30% ao ano, embora ainda represente menos de 5% do total de pet food comercializado no Brasil, que deve alcançar US$ 10,73 bilhões (cerca de R$ 59 bilhões) em 2025, segundo a Mordor Intelligence. O faturamento total do setor pet em 2024 foi de R$ 77 bilhões, com pet food respondendo por R$ 42,3 bilhões (54,9% do total). Fonte: Abinpet, Instituto Pet Brasil, Euromonitor e Radar Pet.

Mas, para o especialista, a verdade é que não existe dieta perfeita que sirva para todos os cães e todos os tutores. “Idade, porte, nível de atividade, condições de saúde do pet e a realidade de quem cuida são fatores determinantes. A escolha precisa ser consciente. O tutor precisa entender que qualquer dieta, natural ou ração, precisa ser equilibrada, supervisionada e adaptada ao seu pet”, destaca.

No Hospital Veterinário MeBi localizado em Curitiba, o foco é cuidar do animal como um todo, o que inclui orientar tutores a fazer escolhas informadas e realistas.

“Nosso papel é desmistificar modismos e o terrorismo nutricional que muitas vezes vemos em redes sociais. Queremos amparar o tutor com informação técnica, mas sem julgamento, mostrando prós e contras de cada opção. Alimentar bem é mais do que uma moda: é uma responsabilidade”, finaliza o diretor do MeBi.