A dois passos da estação central de trens, o bairro dos diamantes ocupa pouco mais de um quilômetro quadrado em torno de três ruas só para pedestres, controladas por inúmeras câmeras filmadoras e fotográficas. Bolsa, Conselho superior de diamantes, bancos, empresas transportadoras de valores, alfândega, companhias de seguros: todos os serviços necessários ao comércio de brilhantes e diamantes estão concentrados no pequeno perímetro urbano.Na rua, homens vestidos de preto, geralmente com uma espécie de sobretudo e usando kippa  na cabeça, discutem sempre o mesmo assunto, de olho fixo na maleta de couro presa à cintura por corrente.

Em Anvers, fortunas incalculáveis andam pelas ruas. Muitas vezes diamantes valiosos são embrulhados em folhas de papel dobradas em quatro e escondidas no fundo de bolsos dos paletós e coletes.Mas o risco de um assalto é mínimo. Vinte e cinco policiais se encarregam, dia e noite, da segurança local.Onde nunca apareceu nenhum malfeitor e há cinco anos não acontece nenhuma ocorrência.O território dos policiais, no entanto, termina na entrada de cada prédio, já que todas as propriedades têm um sistema próprio de segurança, um verdadeiro exército armado em cada porta, dentro e fora dos estabelecimentos.Apesar de tantas precauções, em dezembro de 1994 três homens roubaram uma sala dos cofres do Antwepsche Diamantkring, uma das quatro Bolsas de diamantes de Anvers, levando  cerca de cinquenta milhões de dólares em mercadoria.Hoje o novo sistema de segurança é único na Europa. E para participar do esquema e ser membro da Bolsa  é necessário um certificado de bons antecedentes e a apresentação de dois padrinhos entre os membros conhecidos na praça.Só os comerciantes inscritos e escolhidos têm o direito de entrar no mais sagrado dos recintos: a sala de comercialização.Cada espaço é inclinado para o interior e a sala é orientada para o norte, para que os diamantes possam ser melhor examinados à luz natural.Tesouros são comprados e vendidos com uma única frase em hebreu: “Mazaal u braha” (sorte e benção), que fecha todos os negócios.A quase totalidade dos membros da verdadeira confraria e seus clientes são judeus, o que garante o funcionamento do restaurante casher e da sinagoga.

Em tal clima, todo e qualquer deslize, como falta de palavra ou não pagamento de uma dívida, pode provocar desde a exclusão temporária de uma ou várias Bolsas de Anvers até sua interdição definitiva ou, em ato extremo, o fechamento das 22 Bolsas de diamantes espalhadas pelo mundo. Na entrada da sala são afixados os retratos dos culpados e o texto do “julgamento”. Uma humilhação total, já que as fotos ficam ao lado de Baruch Thornheim, o ladrão da Antwepsche Diamantkring procurado pela Interpol. Ao longo de um ano são comprados e vendidos de 8 a 10 mil diamantes em Anvers, única no mundo especializada em diamantes brutos.Em um ano por lá passam 85% da produção mundial em pedras brutas e 50% das pedras lapidadas, o que dá cerca de 205 milhões de quilates  circulando pela cidade belga.