De longe parece um coelhinho fofinho, um presente perfeito para crianças de sete anos. Mas o que é isso na boca dele? Como assim? O coelhinho está… empunhando um fuzil! Bem-vindo ao mundo bizarro da toy art – uma tendência de moda, comportamento e arte que já convenceu outros países e, aos poucos, ganha adeptos em São Paulo.

A raiz da toy art está no Japão, mais especificamente no período do pós-guerra (década de 40). Depois da Segunda Guerra Mundial, o povo japonês andava deprimido. Além da derrota, duas cidades, Hiroshima e Nagasaki, sentiram o peso das bombas atômicas. O moral andava lá em baixo. Para estimular os japoneses, cartunistas e ilustradores começaram a criar super-heróis. Na maioria dos casos, robôs gigantes que salvavam a população de monstros terríveis.

Qual trintão não se lembra dos clássicos “Ultramen” e “Ultra-Seven”? Então, esses eram os modelos. Não demorou para que a indústria começasse a produzir camisas e brinquedos com o design desses heróis. Nascia assim alguma coisa parecida com a toy art de hoje.

Mas eles ainda não tinham a temática adulta e provocativa que iria virar marca registrada. Essa linguagem só surgiria em meados dos anos 90, quando dois chineses, Michael Lou e Eric So, designers de street wear, decidiram customizar seus bonecos preferidos, os Falcons. Eles pegaram os clássicos e carrancudos homenzinhos de guerra e colocaram roupas coloridas, bonés de hip hop e outras invencionices (em alguns casos, chegaram a trocar a cabeça dos heróis).

Com o sucesso de Lou e So, marcas de street wear começaram a criar seus próprios bonecos. A novidade se espalhou e muitos artistas nova-iorquinos (principalmente grafiteiros) entraram na onda. Os nomes mais famosos do movimento são: Kaws, James Jarvis e Frank Kozik, Tim Biskup, Pete Fowler, Yoshitomo Nara e Gary Baseman. Apareceriam assim coelhinhos fumantes, ratos malucos , Playmobil sem cara de idiota e bonecos de bandas de rock.

A grande sacada foi produzir peças com número limitado de cópias (algumas com apenas 200 exemplares no mundo). A maioria das peças é feita de vinil ou resina (uns poucos objetos são de pano). Isso atiçou colecionadores e fez com que os objetos ganhassem status de obra de arte. Aqui no Brasil, uma peça rara pode custar R$ 4 mil.

Japão e EUA são os grandes pólos da toy art. Na Europa, a moda já chegou com força (influenciando o jeito de se vestir, o cabelo, a música e o comportamento). No Brasil, a mania ainda está restrita a poucos. Kichi, 37 anos, ex-roadie (ajudante de palco) de bandas como Ratos de Porão e Sepultura, é a grande autoridade de toy art no País. Ele próprio é colecionador. “Tenho um quarto cheio de toy art.” Graças a seu conhecimento na área, foi convidado para ser vendedor da primeira loja de toy art em São Paulo, a Plastik.

Templo de colecionador

A Plastik, na região dos Jardins, em São Paulo, foi criada, em dezembro de 2006, por Nina Sander, uma colecionadora de obras de arte que se apaixonou pela toy art. “A gente recebe os lançamentos do mercado internacional. Aliás, como o mercado no exterior é muito grande, as peças acabam rápido por lá. Tem gringo que não acha os brinquedos nas lojas de Nova York e precisa comprar com a gente”, disse Kich. Em pouco tempo, a loja passou a ser conhecida como a embaixada da toy art no País.

Como a maioria das peças são importadas, os preços não são tão convidativos. Os interessados podem encontrar brinquedos por R$ 26 e até R$ 4 mil, mas a maioria das peças custa entre R$ 200 e R$ 600 (os preços sobem e descem como em uma Bolsa de Valores. Quanto mais raras e exclusivas, mais caras são as peças). “Aqui, a gente ainda não tem um mercado definido. Já vendi para criança e para senhoras de 80 anos”, comentou Kich.

A Plastik possui clientes famosos. Costumam comprar peças de toy art personalidades como Mariana Ximenes, Débora Falabella, João Gordo (grande colecionador), Cláudia Leite, Zeca Camargo, Casé, Marina Person, Fábio Assumpção, Juliana Paes. Negócio de grife..

Um dos brinquedos mais charmosos do mundo da toy art são as Blind Box. Os colecionadores adquirem pequenas caixinhas fechadas sem saber qual o boneco está lá dentro. Com as peças repetidas, criou-se um agitado movimento de troca. Os colecionadores mais experientes se comunicam por meio de blogs.

Os iniciantes costumam sofrer, não existe espaço para amadores. Mas quem procurar com cuidado vai encontrar blogs como o The Hype Br, escrito pelo brasileiro Lucas Penido, diretamente de Nova York. Lá, os interessados podem ficar por dentro dos lançamentos mais badalados desse universo.