
O tema saúde mental foi um dos debates em um Fórum de Recursos Humanos (RH) com a Associação Paranaense de Supermercados (Apras), em Curitiba, na quarta-feira (23).
Mais do que abordar as responsabilidades legais, o evento mostrou como criar um ambiente de trabalho mais saudável e reforçou o papel das empresas na saúde emocional dos seus colaboradores.
Segundo o presidente da Apras, Harri Pankratz, a saúde mental é um assunto que deve ser tratado com urgência pelas empresas. “Apesar de concorrentes, os supermercados estão reunidos nesse encontro para aprender e trocar conhecimentos, tudo para promover melhorias em todo o setor”, afirma.
A moderadora do Fórum, Charmoniks Heuer, abriu o evento falando do momento atual de pleno emprego, que amplia a dificuldade de preencher as vagas, além dos conflitos geracionais.
“Precisamos criar um ambiente de trabalho que escute os jovens e promova a troca de conhecimentos entre as gerações”, disse Charmoniks, que também é gerente de RH do Condor.
Uma das painelistas do fórum foi a psicóloga e coach executiva, Anna Elisa Mussi, que falou da nova realidade do mundo, que hoje vive os 3 C’s: complexo, contraditório e competitivo.
“Vivemos um novo contexto dentro das organizações e do ambiente de trabalho. Então, o modelo mudou e precisamos nos adaptar a essa nova realidade. Não cabe concordar ou discordar, temos que acolher e lidar com isso”.
Para exemplificar esse novo contexto, a Dra. Anna apresentou uma pesquisa do Google para identificar o que diferenciava as equipes de alta performance das demais. A conclusão foi que as equipes que apresentavam melhores resultados eram aquelas que tinham um ambiente de segurança psicológica, onde os conflitos são positivos e todos lidam bem com divergências de opinião.
“Uma empresa deve continuar focando em resultados e isso é inegociável. Mas é fundamental criar um ambiente em que conseguimos ter conversas, trocas, sem medo de dar ou receber feedbacks”, aconselha.
A engenheira de segurança do trabalho da APES, Eveline Czar, destaca que o risco que mais afeta o trabalhador não é visível, mas o que consome por dentro. Por isso, ela defende que é preciso formar lideranças conscientes, promover espaço de escuta segura, desenvolver cultura de respeito e colaboração e implementar ações reais de acolhimento.
“Saúde mental no trabalho não é luxo, é condição para produtividade sustentável. Mais do que uma obrigação legal, é uma responsabilidade ética e que traz vantagem competitiva”, acrescenta Eveline.
Medicina do trabalho tem papel fundamental na saúde mental
Nesse ambiente mais colaborativo, a medicina do trabalho tem um papel importante para detectar os casos. Segundo o médico do trabalho do Condor, Dr. João Luís de Queiroz Filho, a maior atuação do PCMSO (Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional) e da NR7 nos riscos psicossociais é a reunião de informações e o controle epidemiológico das queixas relacionadas ao trabalho. “Seja pelo RH ou outras ferramentas, precisamos fazer uma vigilância passiva”, explica.
Além do RH e da medicina do trabalho, a saúde mental é um assunto que envolve diversas outras áreas e que precisa de um alinhamento de toda a equipe, inclusive o jurídico. O advogado da Melo Advogados, Enzo Elber, faz um alerta para os excessos e as irregularidades do atestado. “Hoje, estamos diante da indústria de atestados. Então, precisamos estar atentos às inconsistências”.
A advogada Gabrieli Teixeira, da Melo, também fez um alerta. Segundo ela, é quase impossível resolver o problema de todo mundo na empresa, pois os problemas psicossociais são decorrentes de múltiplos fatores. “A empresa não consegue cuidar da individualidade, mas dos fatores de risco”, destaca.
Os fatores de risco apresentados no Fórum são:
- Pressão por metas inatingíveis;
- Ambiguidade de papéis;
- Violência organizacional (assédio, discriminação);
- Falta de reconhecimento;
- Sobrecarga ou subutilização de habilidades.
Esses fatores impactam na saúde do trabalhador desencadeando estresse crônico, transtornos mentais comuns (depressão, ansiedade burnout), insônia, fadiga, irritabilidade, doenças psicossomáticas, absenteísmo, presenteísmo e afastamentos previdenciários.
Para identificar esses riscos, Eveline apresentou algumas ferramentas:
- Aplicação de questionários psicossociais (ex: COPSOQ, ISTAS21);
- Entrevistas com trabalhadores;
- Análise de indicadores (turnover, absenteísmo, acidentes, conflitos);
- Observações diretas da dinâmica de trabalho (comunicação, pressão por metas, cultura tóxica).